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Investimento em infraestrutura cresce 20% em 2023, puxado por setor público e privado

12.12.2023 | | Notícias do Mercado

Fonte: Valor Econômico
Data: 07/12/2023

 

Os investimentos em infraestrutura deverão crescer 19,6% em 2023. A alta reflete tanto a retomada expressiva dos aportes públicos, quanto um volume recorde de recursos privados destinados a concessões e PPPs no país. Os dados, obtidos em primeira mão pelo Valor, são do Livro Azul da Infraestrutura, publicação anual da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).

O total de investimentos – que incluem os setores de transportes, energia elétrica, saneamento básico e telecomunicações – deverá encerrar o ano em R$ 213,4 bilhões, chegando próximo ao pico vivido em 2014. Nos últimos anos, o país registrou uma queda brusca nos valores, em meio à crise econômica e aos cortes de gastos dos governos. Em 2023, fica clara uma virada, afirma Venilton Tadini, presidente da entidade.

“Neste ano tivemos a PEC de Transição, que elevou substancialmente os investimentos no orçamento federal, principalmente em transporte. Isso se reflete nos dados do setor público, nos quais há um salto. Além disso, o setor privado não só teve alta como chegou a um pico.”

Os aportes públicos, que sofreram a maior queda nos últimos anos, chegaram a R$ 47,7 bilhões, aumento de 44% na comparação com 2022. Mas a maior parte das obras ainda vem do setor privado, que alcançou R$ 165,7 bilhões investidos, o maior nível já registrado na série histórica.

“Isso é reflexo da nova fase de leilões iniciada em 2016, com concessões de sucesso em aeroportos e rodovias, investimentos cruzados em ferrovias e, mais recentemente, os projetos de saneamento. Houve uma aceleração do programa de concessões, com uma base de governança muito mais sólida do que no passado”, afirma Tadini.

Para 2024, a expectativa da Abdib é bastante positiva, tanto do lado público, quanto do privado. Porém, outros especialistas no setor apontam riscos e incertezas.

“O investimento privado não só teve alta como chegou a seu maior nível”
— Venilton Tadini

Na avaliação de Claudio Frischtak, sócio da consultoria Inter B., há enorme insegurança quanto aos investimentos públicos. “Há uma dupla incerteza. A primeira é a execução do orçamento em 2024 e toda a discussão sobre o déficit primário. A segunda dimensão é quanto vai ser alocado para as emendas parlamentares. Infelizmente a natureza dessas emenda é a fragmentação excessiva, o desvio em relação ao planejamento e a má governança. Só que as emendas saem dos gastos discricionários do governo, que são limitados. Então, os investimentos estão sendo espremidos, e o PAC vai ser espremido”, diz.

Para a consultoria Tendências, a projeção para 2024 é de crescimento do investimento em infraestrutura, tanto público quanto privado, mas sem grande otimismo, aponta o sócio Eric Brasil. “Prevemos crescimento com moderação, por conta do cenário de risco. Do ponto de vista público, não tem como negar que o maior fator de risco é da restrição fiscal, que pode ser limitante. Mas ainda assim imaginamos que haverá crescimento, porque é a bandeira do governo federal”, afirma.

Para Tadini, a expectativa é que haja espaço fiscal para a ampliação dos investimentos em infraestrutura. “Aprovada a reforma tributária, você vai ter uma facilidade maior de crescimento e, consequentemente, de arrecadação. Esse é um pressuposto importante. Outro fator é a redução de taxa de juros, que dá mais espaço orçamentário. Vamos cortar em juros um caminhão de dinheiro no ano que vem. E acreditamos que, com o programa de investimentos, a indução clara do Estado, vai ter aumento sim.”

Do lado dos projetos de concessão, a projeção da Abdib também é positiva. A entidade mapeou um total de 518 iniciativas em curso (desde a fase de estudos até a de assinatura do contrato) que, se concretizadas, somariam R$ 836,2 bilhões de investimentos ao longo dos contratos.

Em uma análise de curto prazo, para os próximos cinco anos, a projeção (considerada conservadora pela Abdib) é de R$ 201,3 bilhões de investimentos privados entre 2024 e 2028. O cálculo considera apenas os contratos novos, ou seja, aqueles firmados a partir de 2019 e os leilões a serem licitados em breve – concessões anteriores que ainda geram investimentos não entram na conta. Dentro dos valores projetados, a maior parte deverá vir de rodovias (R$ 66,7 bilhões). Na sequência, vêm os setores de ferrovias (R$ 45,9 bilhões) e saneamento básico (R$ 44,7 bilhões).

No entanto, hoje uma das dúvidas do mercado é a capacidade dos governos de atrair investidores para tantos leilões, o que poderia ser um entrave para as novas concessões saírem do papel. Porém, Roberto Guimarães, diretor de Planejamento e Economia da Abdib, aponta que cenário está melhorando. “O risco e as incertezas hoje estão menores do que no fim do ano passado”, diz.

Sobre o baixo nível de interesse nos últimos leilões de rodovias, ele avalia que se tratam de problemas particulares dos projetos ofertados – seja por desafios específicos ou por uma precificação inadequada -, mas não de uma falta de interesse do setor privado em investir em infraestrutura.

Para Eric Brasil, da Tendências, a previsão é de otimismo moderado também para os investimentos privados. “Em 2024 esperamos um aumento dos leilões de saneamento. Também temos um cenário de queda na taxas de juros de longo prazo, o que pode ajudar, e temos visto um aumento das liberações do BNDES para infraestrutura como um todo, o que deve seguir crescendo. Então a expectativa é boa, mas não prevemos um crescimento robusto.”

Já Frischtak tem uma visão mais cética também para as concessões. Ele avalia que problemas regulatórios, em especial nos setores de energia elétrica e saneamento, tendem a atrapalhar.

“Em 2023, há um elemento de inércia no investimento privado, porque o que estava contratado não se suspende. O problema é 2024. No setor elétrico, temos visto muito ruído, legislações terríveis sendo aprovadas, subsídios criando distorções enormes. Em saneamento também tivemos turbulência. Já em rodovias, o problema é que os retornos estão apertados, a equação risco-retorno não fecha, então os projetos terão que ser repensados.”