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Modal Aeromovel

26.08.2025 | | ABIFER News

A Associação Brasileira da Indústria Ferroviária — ABIFER — vem atestar que o Sistema Aeromovel configura uma categoria especial, sui generis e singular de sistema de transporte, com identidade própria, posicionando-se ao lado (e não dentro) das famílias consagradas como VLT, Trem Metropolitano, Metrô, Monotrilho, BRT e correlatos. Em chave tipológica, pode ser formalmente enquadrado como uma subcategoria de AGT (Automated Guideway Transit), ao lado de APMs (Automated People Movers), metrôs automáticos e monotrilhos — mas distinguindo-se de todos pelo seu conceito de propulsão pneumática com veículos roda-trilho. A literatura de referência em planejamento de transportes, em especial Vukan R. Vuchic, respalda o uso de classificações tecnológicas e operacionais para delimitar “modais” como classes específicas e não meras variantes, o que reforça a qualificação do Aeromovel como modal não-convencional dotado de requisitos próprios.

Do ponto de vista operacional, o Aeromovel exibe uma plasticidade rara: ora assume o perfil típico de APMs de baixa capacidade em linhas shuttle ou loops voltadas a MACs (Mass Activity Centers) — aeroportos, campi universitários, mega-resorts, polos corporativos, centros médicos, parques temáticos, alimentadores de eixos troncais — ora transita para uma configuração AGT de média capacidade, apta a operar corredores urbanos com topologia pinched-loop (carrossel), mantendo headways curtos, estabilidade de oferta e regularidade de viagem. Essa bifuncionalidade decorre de três traços estruturantes: (i) via elevada e exclusiva com superestrutura esbelta, privilegiando o pedestre; (ii) veículos muito leves sobre roda-trilho (conforto, durabilidade, sustentabilidade, sem o passivo ambiental de pneus) e (iii) propulsão a ar por unidades estacionárias moduladas ao longo da via. Como consequência, acelerações, frenagens e rampas não dependem de esforço de tração aderente na roda, mas do gradiente de pressão no duto, o que permite vencer aclives e manter precisão cinemática sem sacrificar conforto.

Trata-se de tecnologia 100% nacional, patenteada e sem congêneres comerciais de mesmo princípio em operação contínua. No plano histórico-jurídico, cumpre registrar que o primeiro reconhecimento patentário ocorreu no Reino Unido, ao final da década de 1970, o mesmo local que experimentou com tração a vácuo “trens atmosféricos”, no século XIX, tendo-se posteriormente expandido para outras jurisdições de alta exigência. No plano de implantação contemporânea, destaca-se o projeto do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos (GRU Airport), em fase de pré-operação, com inauguração prevista para segundo semestre de 2025.

No corpus acadêmico, a propulsão pneumática aplicada a APMs é objeto de modelagens e validações específicas que explicitam sua distinção face a APMs eletro-aderentes ou a monotrilhos, corroborando o caráter não-convencional do arranjo.

O Aeromovel é, por assim dizer, um polígrafo de engenharia: conjuga ferrovia (guiagem rígida roda-trilho, estabilidade dinâmica lateral, desgaste reduzido), aeronáutica (propulsão por fluxo de ar, materiais compósitos e válvulas de controle que evocam ailerons, profundores e leme ao modular o escoamento) e náutica (a placa de propulsão fixa ao veículo comporta-se como vela que transforma pressão em impulso). A aviação, verdadeiro masterpiece tecnológico, fornece aqui as intuições mais potentes: atuações rápidas, redundância na cadeia de comando, superfícies de controle “seguras-ao-falhar” e orquestração de atuadores para obter estabilidade com eficiência.

Distinções essenciais face a Monotrilhos, VLTs e APMs correntes

  1. Roda-trilho × pneus: o contato aço-aço confere conforto vibracional, longevidade e sustentabilidade, eliminando micropartículas de borracha e reduzindo OPEX;
  2. Propulsão não aderente: a capacidade de acelerar/frear/subir independe da aderência roda-trilho, pois advém do gradiente pneumático controlado;
  3. Módulos no solo: potência desembarcada (grupos motopropulsores em estações técnicas e válvulas na via e dentro delas), o que desonera o veículo, simplifica manutenção e aumenta a robustez.

Conformidade normativa e integridade de segurança

O Aeromovel atende simultaneamente às normas norte-americanas para APMs (ASCE 21) — cujo corpo normativo inclui expressamente a categoria “Air Flow Propulsion” — e ao conjunto ferroviário europeu EN 50126/50128/50129. Tal dupla aderência é pioneira no universo AGT/APM e consolida níveis elevados de integridade de segurança numa arquitetura GoA4 plenamente automática.

Uma linha genérica do sistema organiza-se em blocos padrão repetíveis: cada bloco integra SIVs (duas válvulas de isolamento de trecho), AV (válvula atmosférica), FDVs (válvulas de direcionamento de fluxo) e um PPU (grupo motopropulsor com níveis de potência reguláveis por inversores de frequência). A operação aciona apenas um corredor contíguo de poucos blocos ao redor do veículo, e a justaposição desses blocos permite construir qualquer extensão de via; quando as estações se encontram muito afastadas, intercalam-se blocos intermediários para preservar o balanço de pressão, a eficiência e a velocidade de cruzeiro. Essa modularidade cria rotas alternativas de ar e rearranjos automáticos em caso de falhas, eliminando ponto único de falha e sustentando, com parâmetros conservadores, disponibilidade da ordem de “três noves” (99,9%+).

A malha de SIV/FDV/AV em torno de PPUs evoca um processo de engenharia química com operações unitárias e válvulas de processo, no qual sequenciamentos discretos de estados produzem resultado contínuo (fluxo), reforçando a metáfora de processo industrial com chaveamento seguro.

Porque isso importa para a política pública

A resultante para o poder público é um sistema modular, escalável e de elevada confiabilidade, com potência desembarcada e veículo leve, que funciona tanto como APM de baixa capacidade em MACs, quanto como AGT de média capacidade em corredores urbanos. Cable-cars e congêneres não oferecem igual flexibilidade operacional: a tração por cabo (ainda que com “detachable grips”) mantém vínculo físico aos flywheels e impõe limites de extensão e de manobra inexistentes no paradigma pneumático segmentado.

Conclusão

À luz dos critérios técnicos, da bibliografia de referência e do estado da arte normativo, a ABIFER reconhece que o Aeromovel compõe um modal não-convencional de transporte urbano elevado e automatizado, único no emprego de propulsão pneumática com veículo roda-trilho, dotado de extrema modularidade, de robustez por reconfiguração do arranjo de propulsão e de aderência simultânea às normas ASCE 21 (incluindo Air Flow Propulsion) e às EN 5012X (RAMS). Por sua origem brasileira patenteada, pela dupla vocação APM/AGT e pelo arcabouço técnico aqui descrito, trata-se de categoria especial, única, não-convencional, sui generis e singular, ao lado — e não no interior — dos conjuntos VLT, Trem, Metrô, BRT e análogos.

 

Nota: Onde afirma-se “ausência de congêneres comerciais”, adota-se o melhor conhecimento disponível em bibliografia técnica e bases públicas; desconhece-se outro sistema pneumático com operação urbana contínua e escopo normativo comparável.

Foto: Aeromovel