06.11.2025 | ABIFER | Notícias do Mercado
Fonte: Folha S. Paulo Data: 05/11/2025
Não é fácil encontrar lugares na natureza onde a temperatura fique em 1.300°C. O núcleo da Terra encosta nisso. A maioria dos vulcões não vai a tanto.
Porém, é nesse nível de calor extremo, com queima de combustível, consumo de água e alto uso de energia, que se consegue aglomerar partículas para criar pelotas de minério de ferro, a matéria-prima do aço —base de uma imensa gama de utensílios do nosso cotidiano, como carros, bicicletas, eletrodomésticos, geladeiras ou talheres.
Há décadas, inúmeras empresas investem em pesquisa para o desenvolvimento de alternativas capazes de esfriar essa mistura, e a Vale chegou lá.
A uma temperatura de 250°C, com uma quantidade infinitamente menor de energia —porque elimina uma etapa do processo—, sem forno de queima ou uso de água, a companhia conseguiu um aglomerado de nome briquete, um termo que vem do francês e significa tijolinho, por ter um formato mais cilíndrico.
Em relação ao tradicional processo de produção da pelota, por exemplo, o briquete representa uma redução de até 70% nas emissões de gases de efeito estufa para a Vale. Na etapa siderúrgica, para os clientes, que leva à produção do aço, o corte é da ordem de 10%, porque elimina a sinterização, um processo intensivo em carbono. Também emite menos óxido de nitrogênio e óxido de enxofre.
“Não foi apenas a Vale buscou essa solução. Ao longo dos últimos anos, mineradoras e siderúrgicas tentaram desenvolver um aglomerado a frio. Mas quem conseguiu chegar numa solução que funciona e performa bem foram os nossos pesquisadores. O briquete é resultado de uma patente de três funcionários da Vale. Foi desenvolvido ali no nosso Centro de Tecnologia de Ferrosos”, explica o diretor de Clima, Natureza e Investimento Cultural da Vale, Hugo Barreto.
A nova tecnologia entrou em escala industrial em dezembro de 2023, com a inauguração de uma unidade de produção em Vitória, no Espírito Santo. A projeção é que a unidade encerre este ano totalizando a produção de 500 mil toneladas de briquete. “Não é mais um pilotinho”, afirma Barreto.
Série ‘Economia Verde na Prática’
Para apoiar a descarbonização da cadeia, contribuindo para atender a sua meta de reduzir em 15%, até 2035, as emissões do chamado escopo 3 —ou seja, que não estão diretamente sob seu controle—, a Vale já assinou acordos com mais de 50 clientes siderúrgicos. Juntos, eles representam 35% das emissões de escopo 3 e somam o equivalente às emissões da Nova Zelândia.
Dentro dessa mesma ambição, o briquete é insumo escolhido para sustentar a criação de “mega hubs” de fabricação de produtos siderúrgicos de baixo carbono.
Esses complexos industriais são projetados para utilizar o gás natural como combustível e poderão adotar o hidrogênio verde no futuro, favorecendo a produção de aço com zero emissão, ou o chamado “aço verde”.
Seu foco é o HBI (“hot-briquetted iron” ou ferro-esponja), um produto intermediário entre o minério de ferro e o aço. A produção de HBI emite de 50% a 70% menos gás carbônico em relação a produção de ferro-gusa via alto-forno.
A Vale já assinou acordos para a construção de três “mega hubs” no Oriente Médio —na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Omã. Também estuda a criação de “mega hubs” no Brasil e nos EUA.
Da porta para dentro, a meta é atingir, até 2030, redução de 33% nos escopos 1 e 2, que incluem emissões diretas e também as indiretas geradas por compra de energia elétrica, vapor, calor ou refrigeração. Até 2050, a companhia quer ser zero emissões líquidas.
Dentro dessa proposta, a Vale alcançou em 2023 a meta de 100% de consumo de energia elétrica renovável no Brasil, dois anos antes do prazo estabelecido, que era neste ano de 2025. A meta global é de 100% até 2030. Também vem ampliando o uso de biocombustíveis e estudando a eletrificação de suas frotas em diferentes modais.
A série “Economia Verde na Prática” apresenta soluções de mercado que demonstram o potencial das empresas no Brasil para atuarem como protagonistas na descarbonização. As experiências abordadas pelas reportagens foram coletados entre integrantes de duas alianças empresariais criadas para a COP30, a C.A.S.E., que reúne Bradesco, Itaúsa, Itaú-Unibanco, Marcopolo, Natura, Nestlé e Vale, e a Coalizão do Setor Elétrico para a COP30, composta por 73 empresas e oito associações.