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Vendas de aço voltam a 1995 e setor pede reativação econômica

24.04.2020 | | Notícias do Mercado

Com 59% de ociosidade nas usinas, a proposta da indústria siderúrgica é retomar atividades com regras e protocolos de proteção à saúde

 

Lopes, do Aço Brasil: abril, o pior ano na história do setor. “Precisamos de plano para reverter a crise profunda de demanda” — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

A chegada de abril para os fabricantes de aço no país foi de total desespero: as vendas despencaram tanto, que voltaram ao patamar de 25 anos atrás. Os grandes clientes, como fábricas de autopeças, automóveis e de máquinas e equipamentos, pararam de fazer pedidos, pois estavam paralisando suas operações. Outros consumidores também reduziram demanda – construção civil e infraestrutura e linha branca.

“Estamos vivendo uma crise de demanda com uma profundidade nunca vista antes”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil ao Valor. Segundo ele, as usinas de aço no país estão operando com 41% da capacidade instalada, um terço menor do que os 62% que estava no início do ano. “Se consideramos que 80% é o nível de uma operação saudável para essa indústria, estamos na metade disso”, comentou Lopes.

Neste mês, informou o dirigente, a queda nas vendas internas de aço será de 50% ante o volume comercializado em março, próximo de 1,5 milhão de toneladas. O executivo acrescenta que o segundo trimestre, frente ao primeiro, vai registrar um recuo de 40%. “Para o ano, a previsão é de 20% de queda, podendo se agudizar se houver demora na implementação de um plano de retomada da economia do país”, diz.

No cenário de hoje, afirma, um dia é curto prazo, uma semana médio e um mês é longo prazo.

De acordo com o executivo, em abril as vendas projetadas são de 735 mil toneladas de produtos siderúrgicos laminados no mercado brasileiro. Esse número equivale ao que foi comercializado no mesmo mês em abril de 1995 e pouco abaixo das 751 mil toneladas de dezembro de 1998. “Como pode uma indústria de aço, como a brasileira, se manter com um mercado consumidor nesse volume por mês?”, afirma Lopes.

Atualmente, informa o executivo, há vários altos-fornos paralisados ou em fase de desmobilização – conforme noticiado pelas empresas, dois da Usiminas, um da Gerdau, dois da ArcelorMittal e outros à base de carvão vegetal, além de uma aciaria e laminação de Cubatão, ambas da Usiminas. No segmento de aços longos, material usados na construção civil e imobiliária, ArcelorMittal e Gerdau desativaram várias fornos elétricos e laminações de aço.

“A crise de demanda é dramática e o setor já enfrenta 20% de inadimplência de clientes, com muitos postergando pagamentos de faturas por mais de 180 dias”, afirma o executivo do Aço Brasil. “Inclusive a Petrobras, que tem pode de acesso a crédito, está impondo postergação de entregas e pagamentos para o início de 2021”, acrescentou Lopes.

Além desse comportamento da estatal petrolífera, ao qual fez severa crítica, o executivo aponta que os grandes bancos do país continuam empoçando os recursos que teriam de repassar em créditos às empresas. “Informamos o ministro Paulo Guedes [da Economia), que o dinheiro não está fluindo para as empresas.”

Representantes da Coalizão Indústria, grupo de 13 setores da indústria de transformação do país, reuniram-se ontem à tarde com Guedes, por videoconferência, para discutir a situação enfrentada por eles em razão do impacto da covid-19, o problema do crédito e outras questões e também enfatizar que é o momento de retomar a atividade econômica.

Na reunião com o ministro, Lopes apontou que a indústria sairá muito fragilizada da crise e que outro embate será a China já recuperada, que já está indo ao mercado vender aço a baixo preço. Além disso, enfrenta mercados fechados nos EUA e Europa. O ministro admitiu, segundo ele, que é preciso ter uma olhar para essa vulnerabilidade. “Eu sou um liberal, não gosto de fechamento de mercado. Mas reconheço que estamos numa operação de guerra”, afirmou.

Na próxima quarta-feira, dia 29, a Coalização tem a agenda marcada com o ministro Walter Braga Netto, da Casa Civil.

Lopes não poupa também os deputados federais. Disse que está na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei, nº 34, que trata de empréstimo compulsório de 10% sobre o lucro líquido das empresas, com argumento de angariar recursos para combate à covid-19. “É algo fora da realidade. As empresas já estão combalidas com problemas de liquidez.”

O executivo considera, que com regras definidas e adoção de todos os protocolos de segurança de saúde, é hora de fazer a roda da economia voltar a rodar, mesmo que de forma gradual. “Podemos seguir os padrões de vários setores que continuaram operando – os de atividades essenciais -, como o de plásticos, farmacêutico, construção civil e outros”.

Lopes diz que “a grande prioridade para o país é o combate à covid-19, porque saúde é o bem maior; e a segunda prioridade é o emprego”. Ele destaca que não prega uma retomada do zero para 100%, da noite para o dia, mas uma definição de volta da atividade planejada e com segurança. Ao seu ver, se demorar muito a implementar um plano, o risco é de uma crise social em massa.

Os números do setor que vão ser divulgados hoje mostram que frente a fevereiro o desempenho de março foi de relativa tranquilidade – produção de 2,63 milhões de toneladas, ante 2,7 milhões. Na comparação com um ano atrás, queda de 8,2%. Consumo aparente de aço e vendas internas, na relação anual, houve recuo na faixa de 11%. No trimestre, o volume comercializado internamente e o de consumo aparente tiveram quedas inferiores a 1%. “A tragédia começou a acontecer na última semana de março, quando vários setores industriais começaram a parar, o comercio e serviços não essenciais foram fechados. A demanda por aço desabou dali em diante”, diz.

 

Fonte: Valor

Data: 24/04/2020