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AVB investe em energia para crescer em aço verde

17.10.2022 | | Notícias do Mercado

Fonte: Valor Econômico

No momento em que há uma corrida mundial pela descarbonnização na siderurgia, maior emissora de CO2 do setor industrial, a Aço Verde do Brasil, uma mini-mill de aços longos de Açailândia (MA), parece já ter esse desafio superado. A empresa já faz aço sem utilizar combustíveis fósseis e isso rendeu, no início de 20221, certificação da auditoria internacional SGS de primeira fabricante integrada desse tipo de aço com carbono neutro.

As emissões da usina, medidas desde 2018 pela SGS, foram de 0,1 tonelada de CO2 por tonelada de aço bruto fabricada naquele ano. Nos anos seguintes: 0,06, -0,04 e 0,02 tonelada de dióxido de carbono. O ligeiro aumento em 2021 é atribuído à entrada em operação do alto-forno 2 de gusa. As medições seguiram padrões da World Steel Association (WSA).

A média mundial de emissão de CO2 no setor siderúrgico, envolvendo os diversos tipos de usinas – integradas e não-integradas – é de 1,84 tonelada de CO2.

Silvia Nascimento, acionista junto com demais membros da família Nascimento, e desde abril no comando executivo da empresa, não se dá por satisfeita. “A nossa meta é tornar a AVB também uma companhia com geração zero de resíduos”. Para isso, investe em projetos para tornar esses resíduos coprodutos para uso nas próprias instalações até 2025.

“Não usamos combustíveis fósseis e reutilizamos todos os gases emitidos na usina nas operações de equipamentos de produção”, diz a empresária. “E agora vamos reaproveitar todos os resíduos”.

Após o aumento de produção em 2021, com o segundo alto-forno de gusa, a empresa começou a investir cerca de R$ 70 milhões em uma termelétrica com potência 12 MW. O objetivo é gerar energia com a recuperação de gases oriundos dos altos-fornos. A instalação deverá estar pronta ao final deste mês, passando a suprir um terço do consumo elétrico da AVB.

“Nossa filosofia é a de sustentabilidade”, diz a empresária e executiva, mineira de Belo Horizonte, que foi “convocada” pelo pai, Ricardo Nascimento, no fim de 1999, para ajudá-lo a tocar o projeto enfrentou vários percalços, entre eles a crise financeira mundial (quebra do banco Lehman Brothers), afugentando financiadores e afetando a compra dos equipamentos. Após vários anos de persistência, relata Silvia, e investimentos superiores a R$ 1,5 bilhão, a siderúrgica foi concluída. Começou com aciaria de tarugos de aço no atual site, ao final de 2015, abastecida por altos-fornos da GN – paralisados desde 2020.

Em 2018, veio a segunda fase. Novo alto forno, no site da siderurgia, à base de biocarbono, bem maior e mais produtivo, junto com uma unidade de laminação para fazer produtos acabados – fio-máquina e vários tipos de vergalhões – de 600 mil toneladas por ano.

Dessa forma, a AVB – nova denominação social da Gusa Nordeste a partir de 2019 – tornou-se a maior usina de aços longos do Nordeste, onde a Gerdau já operava duas: no Ceará e em Pernambuco. No Pará havia a Sinobras, do grupo Aço Cearense.

O tempo que levou a construção da siderúrgica permitiu aprimorar o projeto, diz a empresária. “Temos um negócio que vai desde a floresta plantada de eucalipto, para fazer o biocarbono do alto-forno de gusa na mistura com o minério de ferro, até a entrega do produto ao cliente. Montamos até fábrica de gases dentro da usina, o que só é comum em grandes siderúrgicas”, afirma.

A executiva é formada em Administração de Empresas pela Universidade de Miami, nos EUA, país onde ficou nove anos, sendo três em um internato. No Brasil, ela fez o Programa de Desenvolvimento de Dirigentes (PDD) pela Fundação Dom Cabral, próxima de Belo Horizonte, em 2004.

A dedicação é integral. Ocupou vários cargos no grupo e na AVB, até chegar ao topo, na presidência do conselho. A maior parte do seu tempo divide entre o escritório administrativo na capital mineira, onde mora, a usina em Açailândia e São Paulo, para contatos com o mercado financeiro.

Em 2021 e neste ano, a empresa fez duas emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), que somaram R$ 650 milhões, para reforçar estrutura de capital e investir em florestas de eucaliptos (dezenas de milhares de hectares, grande parte no Estado do Maranhão). No final de 2021, obteve registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na categoria B (títulos em balcão).

Silvia diz que a empresa atua como se já fosse de capital aberto, fazendo publicações trimestrais de seus balanços e avançando na governança corporativa. Para 2023, por exemplo, na assembleia de acionistas, pretende indicar três conselheiros independentes. Hoje, o conselho é formado por ela, seu pai (presidente) e dois irmãos. Os integrantes deverão ter vivência no setor imobiliário, em sustentabilidade e reflorestamento e em práticas de governança.

A empresa já adota procedimentos que seriam requeridos para uma futura abertura de capital. A empresária não nega plano, mas avalia ser ainda cedo para tomar uma decisão de fazer IPO.

A criação da AVB buscou agregar valor ao ferro-gusa e minério de ferro oriundo de Carajás – a ferrovia da Vale passa ao lado. Com a operação integrada, o gusa líquido sai dos alto-fornos direto para a aciaria e se mistura com sucata de ferro e aço sólida (proporção de 25%, com cerca de 7 mil toneladas mensais), originado os tarugos. Na unidade de laminação viram produtos finais. A meta é ampliar a oferta de laminados e elevar a base de clientes no país.

“A AVB é um projeto vocacional, que juntou empreendedorismo do acionista, minério de ferro rico de Carajás e base florestal”, afirma Silvia. O aço verde da AVB, diz a executiva, ainda não traz um prêmio no preço, algo que seria valorizado na Europa, mas já gera vantagens tangíveis e até intangíveis. “Nosso custo de crédito chega a ser até metade do que se cobra. E muitos consumidores de aço preferem comprar o da AVB”.

Data: 17/10/2022