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Empresários pressionam por vacinas, oferecem ajuda e criticam governo

22.01.2021 | | Notícias do Mercado

Empresários pressionam por vacinas, oferecem ajuda e criticam governo

 

Para setor produtivo, é urgente a imunização em massa para tranquilizar a população e acelerar a retomada econômica do País; parlamentares, governadores e o chanceler Ernesto Araújo também foram criticados pela politização do tema

 

Com dois manifestos publicados em menos de uma semana, o setor empresarial começa a mostrar a cara neste momento de demora da vacinação e agravamento da pandemia da covid-19 no País. Eles cobram do presidente Bolsonaro pressa na imunização, criticam a politização por causa das eleições de 2022, se colocam à disposição para ajudar e pedem ação do governo e do Congresso com medidas para a retomada econômica.

O Estadão ouviu empresários e presidentes das principais confederações do Brasil e num ponto eles são unânimes: é urgente a imunização em massa, com todos os tipos necessários de vacinas, para tranquilizar a população e acelerar a retomada econômica. Além de críticas à atuação do governo federal e de seus ministros, sobretudo o chanceler Ernesto Araújo, governadores e parlamentares não escapam da pressão.

No primeiro manifesto, assinado por 14 entidades, o movimento Coalizão Indústria pede “reformas já” e afirma que a segunda onda da pandemia é mais forte do que se imaginava e ocorre em desafiador cenário social, fiscal e de saúde. No segundo texto, “Prioridades aos Brasileiros”, empresários alertam que os poderes devem fazer política de Estado, e não de governo.

“Entendemos que nada irá acontecer nesse País enquanto a população não estiver vacinada. Até porque muita gente não compreendeu a gravidade: há aglomeração em todo canto e desprezo à máscara”, diz o presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), José Roberto Tadros. A entidade ofereceu instalações e equipes do Sesc e Senac para ajudar e evitar filas na vacinação. Tadros defende ainda a prorrogação do auxílio emergencial por 90 dias.

Já o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, pede que as autoridades deem orientações a serem repassadas aos funcionários. “Quem deve fazer isso é o Ministério da Saúde. Uma cartilha orientadora.”

Do movimento Coalizão da Indústria, o empresário José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast) e vice-presidente da Fiesp, diz que a organização em relação à pandemia está ruim e cheia de imprevistos. “Do lado da saúde, não está passando segurança. Do lado da economia, as coisas não andam.”

As empresas esperam clareza do governo para evitar que seus recursos não acabem sendo mal utilizados, afirma Pedro Passos, cofundador da gigante dos cosméticos Natura. “Sem a liderança e o chamamento do governo, fica o temor de que essa ajuda seja de pouca valia. O governo tem de dizer o que o empresário deve fazer: é para emprestar caminhão para carregar vacina, treinar gente, contratar consultoria, planejar logística?”, questiona Passos.

Veja o que pensam os presidentes das principais confederações do Brasil:

 

José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic)

Estamos reforçando uma campanha interna para estimular a vacina, para que todo mundo brigue por ela. Que não abaixe a guarda agregada à vacinação. Em hipótese alguma os empresários estão escondidos. Eles estão botando a sua cara, provocando as discussões dos problemas atuais. Hoje, a gente vive uma crise que passa pelo Executivo brigando com o Executivo estadual e municipal. Judiciário entrando na seara do legislativo e do Executivo. Legislativo preocupado com a eleição da Câmara, desde a metade do ano passado, e que nada aconteceu nesse período. As instituições, que deveriam representar o cidadão, estão omissas. As várias instituições estão muito mais preocupadas com a sua sobrevivência do que o cidadão. Estamos botando a cara, mas não somos Legislativo, Judiciário e nem Executivo Federal e estadual. Existe uma omissão de gente que está olhando para o seu umbigo em vez de olhar para o cidadão. A eleição de 2022 está atrapalhando. Está havendo uma disputa de poder entre os Poderes e esquecendo o cidadão. É ele que precisa de emprego, vacina e proteção. Que se juntem e criem um País decente.

 

José Roberto Tadros, presidente da Confederação Nacional de Comércio (CNC)

Eu disponibilizei toda a capilaridade do nosso sistema, que está em 2.600 municípios para que se efetive a vacinação dos brasileiros onde nós temos as nossas unidades. Temos dois braços, o Sesc e Senac, e eles estão em mais da metade dos municípios brasileiros. Estaríamos disponibilizando nossas equipes, nossos espaços físicos para um melhor atendimento. Se for só nos prédios públicos, vai haver uma quantidade de filas enormes quando chegar o momento de vacinação. Nós empresários do comércio estamos procurando dar apoio e colaboração no sentido de botar nossa equipe, mão de obra, para a vacina. Essa demora da vacina não é boa porque a cada dia enterramos nossos irmãos brasileiros. Espero que rapidamente se resolva. Entendemos que nada irá acontecer nesse País, enquanto a população não estiver vacinada. Até porque muita gente não compreendeu a gravidade dessa pandemia. Há aglomeração em todo canto, desprezo à máscara. O que eu vejo é que os outros países já estão vacinando e o Brasil é o quinto País mais populoso do mundo. Espero que o governo consiga resolver as pendências. Quem mais sofre são os menos favorecidos, que vivem de subemprego, que criaram as microempresas individuais e do próprio comércio. Estamos regredindo no nosso PIB e caindo o poder aquisitivo, as multinacionais estão saindo do País. Na economia, defendo a prorrogação do auxílio e um novo Refis para o empresariado. Deveria prorrogar o auxílio por mais 90 dias e dependendo do andar da carruagem renova de 30 em 30 dias.

 

Luige Nese, presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS)

A vacina é importante para voltar o equilíbrio da economia. O que precisamos e vamos tentar saber é escutar das autoridades quais são as orientações que temos que dar aos nossos funcionários, entidades, para que divulguem onde vai ser feita a vacinação. Isso é primordial para que possamos divulgar e dar todo apoio necessário para isso. Quem deve fazer isso é o Ministério da Saúde que está fazendo a distribuição. Uma cartilha orientadora de como vai ser a vacinação para não criar expectativas vãs. Tem muita gente já querendo entrar na fila do SUS e não se sabe como fazer isso. Espero que o Ministério da Saúde e os próprios governos estaduais para orientar a população. Essa questão política pode criar problemas para a vacinação, mas acredito que isso vai ser superado imediatamente. O que interesse agora é ter vacinas. O governo tem que fazer um projeto de quais são as facilidades que a economia tem para criar emprego. Se fizermos o dever de casa, a desoneração da folha, vai incrementar o emprego.

 

Rafael Lucchesi, porta-voz da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

No mundo inteiro, e no Brasil não será diferente, são os governos que lideram essa agenda. O governo brasileiro tem um plano nacional de imunização, liderado pelo Ministério da Saúde, que coordena o SUS. A posição da CNI é que entendemos que a vacina é uma prioridade absoluta para dar segurança aos indivíduos como também do resgate da normalidade social, econômica e produtiva. A vacina é um pressuposto da ciência que é caminho comprovado para atender as necessidades humanas em relação à grave doença. É super importante que os problemas em relação ao desgargalamento em relação à produção industrial das duas vacinas, que compramos, sejam resolvidos. Tem que ser a prioridade número zero do governo federal. Oferecemos reiteradas vezes os nossos locais físicos para a vacinação e nós fizemos chegar às autoridades públicas e estamos à disposição. O Sesi tem uma enorme capilaridade.

 

José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast) e vice-presidente da Fiesp

Nós imaginávamos que haveria uma convergência de que medidas corretas fossem tomadas não só para mitigar a pandemia como também do lado econômico. Mitigar a pandemia é um plano robusto, organizado, sabendo que não é algo fácil, que vai demorar, mas que pelo menos passasse para a população segurança, tranquilidade que independentemente da gravidade pelo menos estava sendo bem administrada. Iniciamos o ano e isso não está bem acontecendo. A organização no Brasil está ruim, cheia de imprevisto e com falta de planejamento. Do lado da saúde, não está passando segurança para a população. Do lado da economia, as coisas não andam. Está parado, não avançam, fechando fábricas, ninguém investe. Numa situação como essa, não voltaremos a ter emprego. É muito preocupante. Sem previsibilidade não tem ações para voltar a economia. O movimento Reforma Já tem de diferente é que não dá mais para esperar. Empresas indo embora, aumentando imposto. Precisamos das reformas administrativa e tributária.

 


 

Empresas veem ‘improviso’ do governo em programa nacional de imunização

 

Falta de clareza em informações já faz empresários se movimentarem para ações pela vacinação sem contar com auxílio do Planalto

 

Um executivo presente à reunião entre empresas e membros de três ministérios sobre a vacinação contra a covid-19, na semana passada, disse ter saído “aliviado” do encontro. Na ocasião, o governo garantiu ter o controle da situação, tanto no estoque de vacinas quanto para a entrega dos imunizantes. Após o barulho político e as dificuldades do governo em garantir vacinas, porém, a impressão mudou. Empresários entrevistados pelo Estadão dizem estar dispostos a ajudar a agilizar a vacinação, mas se irritaram com os “improvisos” e cobram clareza da situação para poderem ajudar.

Segundo Pedro Passos, cofundador da gigante dos cosméticos Natura, o “empresariado como um todo está atônito porque a desinformação que vem do governo central é muito grande”. “A sensação é que há muito improviso. E isso assusta. Temos de vacinar 200 milhões de pessoas. E, como só devemos ter vacina em quantidade em dois meses, se tudo der certo, teremos de imunizar 1 milhão de pessoas por dia para terminar a vacinação em 2021. É um desafio gigante”, afirma.

Segundo empresários da indústria e do comércio ouvidos pela reportagem, depois da reunião com o governo na semana passada, ficou claro que o governo tenta vender a ideia de que a situação da vacina está sob controle quando essa não é a realidade. Por isso, a credibilidade do que o Planalto diz está abalada.

No encontro promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), representantes de três ministérios – o ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Netto; o ministro das Comunicações, Fábio Faria; e o secretário-geral do Ministério da Saúde, Élcio Franco – chegaram a dizer que o País teria 500 milhões de doses contratadas. Além disso, dispensaram a oferta do setor privado para adquirir vacinas.

Um dia após a reunião, o governo fracassou em importar 2 milhões de doses da Índia, apesar de ter mobilizado um avião da Azul para esse fim. A previsão é que as doses da vacina da parceria entre Oxford e AstraZeneca comecem a chegar hoje.

Após os anúncios e recuos ao longo dos últimos sete dias – que incluíram também novas polêmicas entre poderes e risco de desabastecimento da Coronavac –, parte do setor produtivo quer “ver para crer”. “O que adianta colocar minha estrutura à disposição se não há vacina para distribuir?”, diz o presidente de uma empresa com 40 mil funcionários e atuação em todo o Brasil. “Com a quantidade de vacinas que temos, o governo consegue dar conta de distribuir sozinho.”

Diante das idas e vindas, e da insistência do governo em propagar o tratamento precoce para a covid-19 – receita comprovadamente ineficaz, segundo cientistas –, há companhias que prefiram tomar suas próprias medidas sem se associar à administração central. “Estamos tomando algumas ações na ‘moita’. Infelizmente, hoje no Brasil é assim”, disse o executivo de uma grande indústria.

A disposição das empresas em se mobilizar sem intermediação oficial ficou clara ontem, com o anúncio de que 15 grandes empresas – entre elas Weg, Renner, Magazine Luiza, Mercado Livre, Ambev e Nestlé – se uniram para doar R$ 1,6 milhão ao programa Unidos Contra a Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para a criação de uma usina de produção de oxigênio a ser destinado aos hospitais do Estado do Amazonas.

O porta-voz da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) para a covid-19, Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai, reforçou, porém, que os governos lideram a agenda de saúde pública no mundo todo. “A posição da CNI é que a vacina é uma prioridade absoluta para dar segurança aos indivíduos e para o resgate da normalidade social, econômica e produtiva”, afirma. “Tem de ser a prioridade zero do governo federal.”

 


 

‘Se tem vacina lá fora, e não no Brasil, é falha do governo’, diz presidente da CNT

 

Líder da Confederação Nacional dos Transportes diz que setor está pronto para ajudar a distri-buir as vacinas, mas ‘vaidade’ de governantes atrapalha

 

O presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Vander Costa, disse que o setor se dispôs a ajudar na lo-gística da distribuição das vaci-nas gratuitamente e que agora não é hora de “vaidades”. Na vi-são dele, o governo Bolsonaro errou ao não se antecipar nas negociações diplomáticas que poderiam ter garantido a imuni-zação em massa no País. “Não adianta ficar brigando agora. Não vão fazer campanha em cemitério, né?”. Abaixo, trechos da entrevista:

 

Como o seu setor, ligado à logística, pode ajudar na vacinação?

Estamos prontos para colaborar na distribuição das vacinas. Basta o governo solicitar o apoio. As empresas já se colocaram à disposição para fazer o transporte gratuito. A logística está pronta, é só a questão de termos vacina e o transporte será feito com qualidade.

 

Pode ser feito de forma gratuita?

Se necessário for, até de forma gratuita. Porque, se for trabalhar para o governo, tem de fazer licitação e demora muito tempo. As empresas que já estão contratadas podem cobrar os contratos do SUS; quando não for isso, as empresas estão dispostas a transportar de forma gratuita. Com o povo vacinado, vai voltar a ter comércio, turismo, a ter deslocamento de pessoas. Isso faz com que as empresas tanto rodoviárias de passageiros e áreas voltem a arrecadar. Fazer transporte de vacina de graça é uma boa ação, mas ação que vai dar retorno para a sociedade brasileira como um todo.

 

Mesmo na distribuição desse lote inicial de vacina, que não foi uma quantidade grande, foram identificados atrasos?

Houve alguns atrasos de hora por vaidade política. Alguém que queria aparecer na foto para tirar retrato, em vez de deixar a logística abastecer os postos de saúde. Houve falhas, sim, podemos melhorar e o que a CNT está propondo para as empresas é afastar todo o viés político, a vaidade pessoal, para dar agilidade. Não vejo a necessidade de adesivar (o meio de transporte) para entregar a vacina. Isso atrasa.

 

A questão é o que está por trás?

Sim, a vaidade. Isso tem de ser afastado. O mais importante é salvar vidas. Daqui a um ano, publica o que foi feito. Não adianta ficar brigando agora. Não vão fazer campanha em cemitério, né? Estamos prontos para poder transportar.

 

Como o sr. vê o atraso e as negociações complicadas?

Se o mundo inteiro está vacinando e o Brasil não tem vacina, é falha do nosso governo. A pior coisa do meu ponto de vista é não reconhecer quando se falha. Quando você erra, e reconhece o erro, toma atitude para corrigir. Mas, quando não quer ver o erro, vai continuar fazendo errado. Querer fazer a mesma coisa do mesmo jeito e esperar resultado diferente é coisa de louco. Deu errado, tem de mudar de atitude.

 

O sr. está se referindo ao presidente Jair Bolsonaro ou também a governadores e prefeitos?

Todo mundo tem de voltar atrás. Mas, nesse momento, falta ação do governo federal, seja do próprio Bolsonaro e ministros. Quando eu falo do governo Bolsonaro, envolve Ministério das Relações Exteriores, da Saúde, porque tem vacina no mundo. Faltam relações políticas para trazer para o Brasil. Quem faz relações internacionais não são os prefeitos lá de… Quem faz é o governo federal. Enquanto o nosso ministro Ernesto Araújo fala que não tem problema político, ele está equivocado.

 

Está faltando mobilização do setor empresarial?

O setor empresarial está fazendo o que pode, que é pressionar os órgãos públicos para ter vacina.

 

Muitos empresários têm medo de falar contra o governo.

Eu não estou falando contra o governo. Eu estou tentando alertar o governo. É ele que tem de agir.

 


 

Fonte: Estadão

Data: 22/01/2021