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A conexão da CPTM com os terminais de Cumbica

10.03.2020 | | Notícias do Mercado

Monotrilho fará bem à sociedade e aos investimentos já realizados

 

Jean Pejo*

Peter Alouche**

O Aeroporto de Guarulhos, o maior da América Latina, padece, como é sabido, de uma ligação rápida e confortável com a Cidade de São Paulo. Talvez seja um dos poucos aeroportos do mundo que não atende os viajantes, grande parte vindo de outros países, com um transporte sobre trilhos, rápido, confiável e seguro. O Governo do Estado de São Paulo implantou, com grande esforço e muitos recursos financeiros a linha 13-Jade da CPTM, para garantir esta ligação com a rede metroferroviária da metrópole.

A linha 13, no entanto, não alcança os terminais de embarque e desembarque do Aeroporto. Isto aliás, ocorre em muitos aeroportos do mundo e não representa um grande problema porque a ligação entre os terminais aeroportuários e a rede sobre trilhos, é completada por um sistema guiado, sobre trilhos ou mesmo sobre pneus, em geral automático, de pequena ou média capacidade, o chamado “people mover”.

Essa configuração foi prevista quando da elaboração do projeto da Linha 13 da CPTM e preestabelecida com a Concessionária do aeroporto, porém a falta de cobertura contratual naquele momento, para a implantação desse ativo, que fará parte integrante do patrimônio do Aeroporto de Guarulhos, na condição de bem reversível, inviabilizou a sua implantação.

Ao longo do ano passado, após gestões do Governo do Estado de São Paulo   junto ao Governo Federal, através do Ministério da Infraestrutura e ANAC, foi acordado que a contratação dos serviços para implantação e operação do “people mover” ficará a cargo da Concessionária GRU Airport.  A concessionária realizou estudos aprofundados de viabilidade técnica, econômica e ambiental para, em seguida, lançar o edital de fornecimento do “people mover”. Muitos fornecedores se apresentaram, tanto nacionais como internacionais e as propostas foram criteriosamente analisadas para indicar quem será o encarregado dessa implantação.

Enquanto isso não ocorre, os usuários de aeroporto, muitos vindo ou com destino a outros países, estão sujeitos a uma baldeação penosa, difícil, não confiável através de um sistema de ônibus, com duas linhas, sendo uma delas para transportar os passageiros da CPTM ao Terminal 1 e outra para integrar os Terminais 1, 2 e 3. Além da dificuldade de acesso entre os ônibus e o trem, o sistema é lento, com intervalos mínimos de, no mínimo, 20 minutos, sujeitos ao difícil trânsito local. Esta desconfortável baldeação tem sido um dos fatores críticos que têm levado muitos usuários do aeroporto a não optar pelo trem da linha 13.

Quando a solução do “people mover” já estava enfim estruturada, inclusive com declaração pública positiva do Ministro da Infraestrutura, eis que aparece nos jornais a informação de que o Tribunal de Contas da União (TCU) seria favorável à manutenção do sistema de ônibus por considera-lo satisfatório em termos da demanda atual. A demanda, entretanto, é reprimida exatamente pela falta de acesso rápido aos terminais do aeroporto, o que incentiva as pessoas ao uso do transporte individual, seja através de carro próprio, transporte por aplicativos e taxi. Com o “people mover” instalado, a demanda crescerá muito para atingir o nível previsto nos estudos de viabilidade.

Vale lembrar que toda política pública busca a melhor aplicação dos recursos em benefício da sociedade. Ocorre que os investimentos na Linha 13 da CPTM que não foram poucos, ainda não atenderam plenamente seus objetivos, justamente pela deficiência do acesso final aos terminais.  Com a ausência do “people mover”, previsto no projeto, o acesso ao maior aeroporto do país enfrenta exagerados congestionamentos de ônibus e automóveis no entorno do aeroporto, com imensos transtornos para os usuários.

Caso se confirme a notícia sobre o posicionamento do TCU apoiando o uso das linhas de ônibus, podemos inferir que o tão respeitável tribunal certamente não teve a seu dispor, todos os dados para uma análise técnica balizada com a política pública, visto o grande zelo que sempre demonstrou, pelo uso dos recursos públicos. De fato, esse posicionamento, se efetivamente confirmado, nos parece, sob o ponto de vista técnico, um equívoco, porque não leva em conta que a demanda de usuários, prevista nos estudos, só se concretizará com a implantação do tão esperado “people mover” um transporte moderno, decente, seguro e confortável que garantirá a conexão da linha 13 com os terminais num tempo menor que seis minutos.

Também é oportuno citar as ações de modernização que estão sendo realizados pela CPTM, em termos de oferecer viagens expressas mais confortáveis aos usuários. A CPTM está investindo em novos trens, especiais para atender os usuários do aeroporto, trens novos, confortáveis, com ar condicionado e com bagageiros. Está também investindo em sistemas modernos de sinalização, que vão permitir intervalos mínimos entre composições com os trens saindo da estação Brás e eliminando o transbordo na estação Eng. Goulart de forma a atrair mais passageiros. O resultado desses investimentos também ficará comprometido caso continue a dificuldade de acesso aos terminais de aeroporto, visto que essa oferta não vai se transformar em atendimento adequado à demanda.

Com o Expresso Aeroporto, serviço sem paradas é possível fazer uma viagem rápida e tranquila ao terminal aeroportuário de Guarulhos, saindo da Estação Luz  (que atende as linhas 7-Rubi e 11-Coral, além das linhas 1-Azul e 4-Amarela do Metrô).  As composições passam pelas estações Brás, Tatuapé, Engenheiro Goulart e Guarulhos-Cecap sem parar. Além do Expresso Aeroporto, é possível pegar o serviço “Connect”, – que liga a estação Brás (Linhas 7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral e 12-Safira, além da linha 3-Vermelha do Metrô) à estação Aeroporto-Guarulhos. O Connect para nas estações Tatuapé, Engenheiro Goulart e Guarulhos-Cecap, numa viagem que dura cerca de 45 minutos.

Como se vê, a CPTM está fazendo a sua parte. Mas para os viajantes do aeroporto de Guarulhos a dificuldade continua sendo a conexão da Linha 13-Jade aos terminais. O “people mover” é sem dúvida vital para que o maior aeroporto da América Latina, tenha, à semelhança dos aeroportos das grandes metrópoles do mundo, um acesso rápido, seguro, confortável e confiável, com tempos de viagens programados e precisos.  Nesse sentido temos a grande expectativa de que o TCU vai rapidamente rever seu posicionamento (se de fato foi como noticiado) e defender, com firmeza, a implantação do “people mover”,   para o bem da sociedade e dos recursos públicos já investidos na Linha do aeroporto..

 

Autores

(*) Jean Pejo – engenheiro mecânico, graduado pela Unicamp, MBA em logística e gerencia de Projetos, ambos pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, com cursos no Japão, França, USA em sistemas ferroviários de carga, passageiros e mobilidade urbana, além dos cursos de Especialização em Tração Elétrica e Eletrônica de Potencia, pela Unicamp. Secretário Geral da ALAF-Associação Latino Americana de Ferrovias, ex Secretário Nacional de Mobilidade e Serviços Urbanos (2019), ex Conselheiro da CPFL (1994/1995) e cargos de Direção da FEPASA (1987/1996). Proferiu inúmeras palestras em Congressos no Brasil e no Exterior, assim como publicação de artigos em revistas especializadas. Recebeu em 2019 o título de Personalidade da Tecnologia de Intermodalidade e Ferrovia, pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo.

 

(**) Peter Alouche – engenheiro eletricista, formado no Mackenzie, pós-graduado para mestrado em Sistemas de Potência na Poli-USP, com diversos cursos de especialização em transporte público na Europa e Japão. Foi durante 35 anos assessor técnico da presidência do Metrô de São Paulo para Projetos Estratégicos e Tecnológicos, representante da Companhia na UITP e no CoMET.  Foi professor titular de linhas de transmissão na Escolas de Engenharia da FAAP e do Mackenzie. Ministrou diversos cursos de MBA em Transporte. Hoje é Consultor independente nas áreas de tecnologia de Transporte. Tem inúmeros artigos publicados em revistas especializadas do Brasil e do exterior.

 

Fonte: Folha SP

Data: 06/03/2020