Av. Paulista, 1313 - 9º Andar - Conjunto 912 (11) 3289-1667 [email protected]
pt-bren

ABIFER na mídia – Especial/Carbono Zero: Trens de carga miram tecnologia e expansão da malha para descarbonizar

22.07.2024 | | Notícias do Mercado

Fonte: Estadão
Data: 18/07/2024

 

Na corrida pela descarbonização do setor de transportes, o modal ferroviário tem o trunfo de ser, por essência, menos poluente, já que movimenta grandes volumes com menor gasto energético proporcional. Apesar da baixa participação na malha brasileira limitar esta vantagem, o setor busca alternativas para explorar o potencial sustentável. Já em prática ou no radar estão testes de tecnologias, a renovação e manutenção de frota, além do mapeamento de novos combustíveis.

O modal ferroviário brasileiro possui 31 mil km de extensão, com 96% voltados ao transporte de cargas e, o restante, para passageiros. Há, entre as duas categorias, realidades distintas sobre a dependência do uso de combustíveis fósseis. Enquanto a malha responsável pela movimentação de bens e mercadorias é abastecida quase na totalidade por diesel, os trens de passageiros contam com maioria eletrificada.

Apesar da dependência de diesel, os trens de carga têm maior eficiência energética que modais como o rodoviário. Em comparativo feito pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), uma composição ferroviária de 120 vagões é capaz de transportar o equivalente a 368 caminhões graneleiros. Por essa métrica, o modal emite cerca de 96% menos de dióxido de carbono (CO2) que os veículos rodoviários.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate, destaca que a maior capacidade de carga do modal se reflete também em menores despesas e maior competitividade. “O setor é estratégico porque permite reduzir custos, além de emissões, enquanto ganha eficiência”, afirma, destacando que o transporte ferroviário exerce um papel ainda mais importante ao considerar longas distâncias.

 

Demanda por expansão

Historicamente, o setor ferroviário representa cerca de 20% da matriz de transportes de cargas no Brasil, bem atrás do setor rodoviário, que soma quase 70%. Tanto a atual como as últimas gestões do Executivo Federal defenderam a expansão do modal. O Ministério dos Transportes da atual gestão, por exemplo, promete impulsionar políticas públicas para que, em 2035, as ferrovias respondam por 40% da matriz de transportes do País, quase o dobro do quadro atual.

 

“Retirar carga da rodovia e colocar na ferrovia é uma grande ação de descarbonização. O maior volume de investimentos no setor ferroviário, que permita a ele ser mais competitivo e aumentar o share no País, é um passo importante. Este é o futuro do transporte de cargas”, defende o gerente geral de engenharia, desenvolvimento e tecnologia operacional da empresa de logística VLI, César Toniolo. Outro dado que demonstra a exploração limitada do modal é a densidade da malha quando comparada a de outros países.

 

Iniciativas

 

Para além da expansão da malha, empresas do setor apostam em outras alternativas para diminuir os impactos ambientais da frota já em circulação. Como acontece em outros modais, têm focado na gestão de frotas, com manutenção rígida das locomotivas, vagões e vias para garantir mais eficiência energética. A estratégia inclui também a renovação da frota, substituindo modelos mais antigos por novos, que consomem menos combustível e emitem menos.

A tecnologia também é aliada das companhias na corrida pela descarbonização. Um dos destaques é a utilização de trens semi autônomos. A Rumo calcula que a implementação desta iniciativa diminui o consumo de diesel em 4% menor reduz 25 mil toneladas CO2 por ano. Na VLI, o projeto de assistente de condução (Leader), está em curso nos corredores de maior movimentação da companhia (Sudeste, Leste e Norte), com potencial de economia de diesel de até 7%.

O uso de fontes de energia mais sustentáveis é mais uma estratégia a entrar na lista. Um dos caminhos seria as locomotivas 100% elétricas. No entanto, a alternativa não é considerada uma opção definitiva por causa da baixa autonomia. “Esta deve ser a solução vencedora para trens de carga de longas distância, exceto lugares de pequena distância, como pátio de manobra, um nicho específico”, afirma Toniolo, da VLI.

Um meio termo são as locomotivas híbridas, consideradas mais viáveis no médio prazo. Assim como nos carros híbridos, a recarga ocorre por meio da frenagem regenerativa, tecnologia que transforma a energia cinética gerada no momento do freio ou parada em energia elétrica. Em 2023, a Rumo iniciou os testes em caráter piloto para operar suas duas locomotivas híbridas, as primeiras no Brasil. O consumo de combustível dos equipamentos é 22% menor em comparação às locomotivas convencionais.

Para o longo prazo, o hidrogênio é visto como uma possibilidade. “É uma nova fronteira que estamos desenvolvendo e achamos que será importante, sem desprezar os demais”, afirma Abate, presidente da ABIFER. No entanto, ele destaca que a alternativa não é um “mar de rosas”, já que ainda existem questões produtivas a serem consideradas, incluindo desafios para o transporte e custos mais elevados.

O uso de biocombustíveis já é uma realidade no setor, podendo reduzir em até 20% as emissões. Contudo, Abate destaca que há um limite de utilização para a mistura não afetar negativamente a eficiência do diesel, o que impede um uso em maiores proporções.

 

Políticas públicas

 

As iniciativas para descarbonização do setor podem ganhar como aliada a execução de políticas públicas. Há a previsão de que o governo federal publique, ainda neste ano, um plano nacional ferroviário, que deverá contar com fatia bilionária da União para expansão da malha, além de um pacote de medidas de desburocratização.

“O modal ferroviário é por si só sustentável em comparação com o modal rodoviário. Mas há um campo para inovar. Por isso, a política ferroviária brasileira está passando por uma grande rediscussão. Algo que deverá estar no plano nacional é o incentivo à troca de frota por opções de menor emissão”, antecipa o subsecretário de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes, Cloves Benevides.

Uma medida mais imediata é prevista para esta semana. Conforme mostrado pelo Broadcast, o Ministério dos Transportes publicará, na quinta-feira, 18, portaria com diretrizes para emissões de debêntures para projetos ligados a rodovias e ferrovias. A expectativa é de que o normativo estabeleça que o modal ferroviário cumpre os critérios de sustentabilidade exigidos para dispensa de etapas burocráticas para emissões de debêntures, com potencial redução de prazos de espera.

Contudo, o objetivo, segundo a pasta de transportes, é fortalecer o setor ferroviário com normativos próprios sobre sustentabilidade. Isso servirá para as administradoras demonstrarem que seus projetos têm diferenciais que vão de encontro à demanda pela descarbonização. Com isso, poderá ser mais fácil captar recursos, por exemplo, para adaptação de locomotivas ao biodiesel, principalmente com a compra de novos veículos.