Av. Paulista, 1313 - 9º Andar - Conjunto 912 (11) 3289-1667 [email protected]
pt-bren

ABIFER NA MÍDIA – Trama complexa do minério – Concessão da Fiol traz expectativa de investimentos e geração de empregos em meio a dúvidas sobre a viabilidade ambiental

28.06.2021 | | Notícias do Mercado

Fonte: Revista CNT –  Ano 27 – Número 303
Maio/2021 - Páginas 37 a 39

Concessão da Fiol traz expectativa de investimentos e geração de empregos em meio a dúvidas sobre a viabilidade ambiental

 

Há grandes expectativas em torno da concessão da Fiol 1, trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste entre o porto de Ilhéus e Caetité, na Bahia. Os 537 quilômetros de trilhos ajudarão a escoar minério de ferro extraído na região de Caetité. No futuro, produtores de grãos do Oeste baiano também poderão se beneficiar do acesso ao Porto Sul, complexo portuário que está sendo erguido nas imediações de Ilhéus.

Essa vocação ficou mais próxima de se concretizar em abril passado, quando a Bamin (Bahia Mineração), pertencente ao ERG (Eurasian Resources Group), arrematou a outorga por R$ 32,7 milhões. Desse modo, a mineradora fica responsável por finalizar a ferrovia e ganha o direito de operá-la pelos próximos 35 anos.

O investimento estimado é de R$ 3,3 bilhões. Desse total, R$ 1,6 bilhão serão usados para a conclusão das obras (cerca de 80% já estão finalizadas). São projetados 10 mil empregos diretos e 60 mil indiretos na fase de implantação, além de 1.500 empregos diretos e 9 mil indiretos após o início da operação, o que deve ocorrer em 2025.

A novidade impulsiona, ainda, a Fiol 2 e a Fiol 3, trechos que aguardam concessão. “O corredor logístico resultante cria oportunidades, induz o crescimento e favorece, além de mineradoras, toda a cadeia de fornecedores essenciais de insumos e suporte”, ressalta a Bamin por meio de sua assessoria de imprensa.

A mineradora prevê que, por meio do Porto Sul (que terá capacidade para transportar até 42 milhões de toneladas por ano), será possível acessar mais facilmente o mercado internacional. “O terminal deve se tornar o primeiro do Nordeste a receber navios com capacidade de até 220 mil toneladas. Está em construção e ficará pronto em 2026”, informa a assessoria.

 

Investimento ousado

Embora a concessão da Fiol 1 seja promissora, o sucesso do empreendimento depende de alguns desdobramentos. “Algumas fontes falam em 75% das obras concluídas. Pelo que vem sendo dito, o aporte financeiro virá da empresa do Cazaquistão que é dona da Bamin (o ERG). É um investimento ousado, e eles podem buscar financiamentos conforme haja atratividade. É preciso um poder de convencimento do projeto, mostrando a viabilidade, o que inclui o Porto Sul”, analisa Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes.

Quintella acredita que a ferrovia transportará, basicamente, minério de ferro e manganês. “Porém, existe espaço, na capacidade da ferrovia e no porto, para outras cargas. Vai depender de como serão abastecidos os terminais de agronegócio, que trazem carga de longa distância do Oeste da Bahia e do Centro-Oeste para o terminal em Caetité. É preciso ver qual será a prioridade da operação e quais serão as janelas para a entrada de outras cargas a fim de tornar atrativo o modelo de negócio”, explica.

Se tudo der certo, esse será um passo decisivo para equilibrar a matriz de transportes do Brasil. O governo projeta ampliar de 18% para 30% a participação do transporte ferroviário até 2035. “Cumprem esse papel não só a Fiol 1, mas também todos os novos empreendimentos outorgados, como a FNS (Ferrovia Norte-Sul) e a Ferrogrão, bem como aqueles contratos que forem prorrogados antecipadamente com contrapartida de realização de investimentos ferroviários estruturantes”, esclarece o secretário nacional de Transportes Terrestres do Ministério da Infraestrutura (MInfra), Marcello da Costa.

 

Rumo à integração

Quando estiver concluída, a Fiol tende a formar um conjunto com a Fico (Ferrovia de Integração Centro-Oeste), criando um extenso corredor logístico.

O governo planeja a concessão da Fiol 2, ligando Caetité a Barreiras, na Bahia, que está com obras em andamento; e a Fiol 3, de Barreiras a Figueirópolis (TO), que espera licença de instalação. O terceiro trecho terá 1.527 quilômetros e ligará o porto de Ilhéus a Figueirópolis (TO), ponto em que se conectará com a Ferrovia Norte-Sul. Ainda não há data para a realização desses leilões.

Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, explica que ainda há dúvidas sobre o aporte de recursos para os trechos 2 e 3. “Penso que não tem como existir investimento cruzado do trecho 1 para viabilizar os mil quilômetros necessários para completar os trechos. Só se vier de outras ferrovias. Hoje, para terminar esses lotes, seria com dinheiro público”, aponta.

Com relação à integração entre Fiol e Fico, o especialista é cauteloso. “É preciso ver a regulação, o direito de passagem e a estrutura operacional para a ferrovia ser atrativa. A Fiol 1 está se conectando com a Ferrovia Norte-Sul em Figueirópolis e, para se conectar à Fico, tem de cruzar a Norte-Sul para chegar à Ferrogrão. Não existe projeto ainda que mostre a viabilidade e não há orçamento”, alerta.

Mais otimista, o presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), Vicente Abate, ressalta que a concessão da Fiol 2 tem previsão de ocorrer em até um ano. Na visão dele, outro projeto de interesse público é a extensão da Malha Norte da Rumo, desde Rondonópolis até a região de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. “No futuro, poderemos ter a Fico 2. Entendo que essa região produtora de grãos dobrará sua produção nos próximos dez anos e comportará três ferrovias, que se encontrarão em Lucas do Rio Verde. Teremos, então, uma rede de ferrovias cortando o país de Norte a Sul e de Leste a Oeste”, finaliza.