04.02.2025 | ABIFER | ABIFER News
Fonte: O Globo - Editorial - 29/01/2025
É inadmissível que até hoje não haja integração entre os meios estaduais e municipais em benefício do cidadão.
Passageiros que usam transporte público na Região Metropolitana do Rio vivem um sufoco diário. Insegurança, precariedade, profusão de baldeações, imprevisibilidade de horários e tarifas altas desafiam a paciência e o humor de qualquer um. Tudo se torna pior porque não há integração efetiva entre ônibus municipais e intermunicipais, trens, metrô, barcas, VLT e vans. Isso encarece as passagens, como mostra a série de reportagens do GLOBO sobre o tema.
Trata-se de um sistema perverso, que dificulta a vida dos moradores de cidades mais distantes da capital, obrigados a pegar várias conduções. Não se trata apenas de maior desconforto e maior custo. Morar longe das áreas onde estão os postos de trabalho representa dificuldade adicional de conseguir emprego. Uma moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, diz gastar R$ 32 por dia com as conduções. Para o empregador, sai mais barato contratar quem mora mais perto. Não surpreende o inchaço das favelas nas regiões centrais, onde há mais e melhores opções de transporte.
A situação é mais complexa porque parte dos transportes é administrada pelo estado e parte pelo município. O certo seria integrar tudo, independentemente do poder concedente. Na prática, não é o que ocorre. Apesar de políticas públicas como bilhete único, que dá desconto nas tarifas, a integração ainda é falha. É nítido o contraste com capitais como São Paulo, onde o sistema funciona há décadas. Recentemente, a Prefeitura do Rio adiou a operação do bilhete que passará a ser o único aceito nos transportes municipais (ônibus, BRTs, vans e VLT). Se entrasse em funcionamento imediatamente, o passageiro teria de usar um bilhete nos transportes municipais e outro nos estaduais, um absurdo. Estado e município precisam evitar esse retrocesso.
A questão, que envolve transportes municipais e estaduais, não pode ser resolvida no âmbito das prefeituras. O razoável seria criar uma autoridade metropolitana que pudesse se articular com os diferentes municípios, como acontece noutras regiões metropolitanas do mundo, como Nova York, Boston ou Londres. Mas é fundamental que ela seja autônoma, sem dependência de governos, para poder defender os interesses do passageiro. “Os poderes públicos têm de estar alinhados para integrar esse sistema, e não atuar como concorrentes”, diz Márcio D’Agosto, doutor em engenharia de transportes pela Coppe/UFRJ.
As linhas de ônibus intermunicipais e os trens devem passar por licitação neste ano. É uma oportunidade para aperfeiçoá-los. Mas não bastarão ajustes pontuais. Os transportes do Rio necessitam de uma transformação geral. Salvo exceções, o serviço prestado é ruim e caro. Não se pode admitir que, num estado como o Rio de Janeiro, ônibus ainda circulem sem ar-condicionado, impondo aos passageiros viagens infernais. Além de elevar a qualidade do transporte público, é urgente que se integrem as tarifas de todos os sistemas. Está claro que o modelo atual, que pune a população mais pobre, não funciona. É urgente mudá-lo.