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Na UNICAMP, a ABIFER esteve presente no Simpósio de Engenharia Ferroviária: contribuições da Academia sobre o transporte sobre trilhos

16.05.2024 | | Notícias do Mercado

A sétima edição do Simpósio de Engenharia Ferroviária (SEF) teve início no dia 13 de maio, segunda-feira, ocupando dois auditórios no Centro de Convenções da Unicamp. A tradicional exposição de pôsteres, pela primeira vez, teve um auditório exclusivo. O espaço reuniu 20 pôsteres referentes às mais recentes pesquisas a respeito do transporte sobre trilhos. Estes trabalhos serão destacados nos anais online do SEF, com direito ao Digital Object Identifier (DOI), um importante identificador digital de produção bibliográfica.

No auditório dedicado às palestras, a Comissão Organizadora do SEF deu as boas-vindas aos participantes e convidou o secretário geral da Associação Latino-Americana de Ferrovias (ALAF), Eng. Jean Pejo, para a palestra de abertura. Pejo chamou a atenção para crise humanitária no Rio Grande do Sul e enfatizou a contribuição do transporte ferroviário para a recuperação da região. Durante a apresentação, o engenheiro ainda abordou a importância dos incentivos governamentais para a
alavancagem da infraestrutura ferroviária, evitando que somente as empresas assumam os riscos desse negócio.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER) e da Associação Brasileira de Ensaios não Destrutivos e Inspeção (ABENDI), membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável do governo Federal, Vicente Abate, destacou a recuperação do setor, saindo da fase crítica de paralisação da indústria. De acordo com Abate, toda a cadeia está se movimentado para a expansão da malha ferroviária, com mais de 5 mil km. A previsão, explica Abate, é aumentar a participação do transporte ferroviário de 27% de para 40% até 2035.

Em seguida, o primeiro palestrante internacional, diretor global de soluções ferroviárias na Plasser American e na Plasser & Theurer, Richard Stock, “State-of-the-art on wheel-rail contact research”. Membro do International Collaborative Research Initiative (ICRI), uma rede colaborativa de âmbito global dedicada à pesquisa, Stock compartilhou os desafios das pesquisas sobre interação roda-trilho, o que inclui desde a captação de dados até o uso da inteligência artificial.
Na sequência da programação, “Detecção prematura de danos em ponte ferroviária treliçada com base em um sistema de monitoramento embarcado e na aplicação de metodologias de IA”, apresentada por Cassio Scarpelli Cabral de Bragança, e “Avaliação do emprego de misturas do tipo solo-brita para camadas de sublastro de ferrovia heavy haul”, apresentada por Camila Antunes Martins, foram as duas sessões de trabalhos técnicos dedicadas à temática under rail.

A apresentação dos resultados gerais da cátedra Under Rail foi conduzida, pela Professora do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Dra. Rosangela Motta. A professora destacou que a
Cátedra tem 19 projetos em andamento tanto na Estrada de Ferro Carajás (EFC) como Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), nos eixos temáticos riscos geotécnicos, linha férrea, pavimento, materiais de via permanente e inspeção. A professora ressaltou que as pesquisas são realizadas nos laboratórios e em campo para aferição dos dados nas ferrovias agregando resultados como a definição de módulo de via na EFVM e na EFC, a troca de palmilhas rígidas por soluções resilientes, entre outros ganhos práticos.

A programação do período da tarde teve início com a apresentação dos trabalhos. Os congressistas puderam conhecer os trabalhos e tirar dúvidas com os respectivos pesquisadores no auditório dedicado à divulgação das pesquisas conduzidas pelas
cátedras dedicadas ao transporte sobre trilhos. Na sequência, engenheiro da Rumo, Maurício José de Paiva Salomão, destacou o protagonismo das pessoas no sucesso da operadora. Mesa-redonda debate a importância dos investimentos para inovação nas ferrovias A mesa-redonda foi o ponto alto da agenda do período da tarde, com o tema “Novos investimentos e recursos para pesquisa, desenvolvimento e inovação na área ferroviária”. O assunto foi tratado pela Dra. Anapatrícia Morales Vilha (FAPESP), Edson José Dalto (BNDES), Lívia Maria Tiemi Fujii (ANTT) e Osório Coelho (MCTIC).

A primeira a tecer considerações foi a Dra. Anapatricia, ao defender os incentivos fiscais na contratação de professores, de testes, entre outros com investimentos obrigatórios, como aqueles estabelecidos por órgão regulatórios, além dos fomentos
diretos, como capital de risco, recursos reembolsáveis ou não. Ela ainda destacou o apoio às startups desde a fase 1 com projetos de até nove meses e subsídio de R$ 300 mil, projetos fase 2, com até 2 anos de vigência, com recursos de R$ 500 mil, e por último, fase 3 com a Finep e o Sebrae como recursos para fomentar a inovação no setor.

A segunda participante da mesa-redonda a fazer considerações foi Lívia Maria Tiemi Fujii, enfatizando as políticas públicas desde os investimentos cruzados às renovações antecipadas. Ela destacou as expectativas otimistas com os Recurso para
Desenvolvimento Tecnológico (RDT) para prever novos investimentos em pesquisas no transporte sobre trilhos. O engenheiro, Edson José Dalto, tratou do apoio do BNDES às empresas de inovação, como foco em grandes projetos, como é a vocação do órgão. Ele estimou recursos da ordem de R$ 10 bilhões até 2025, sendo até R$ 2 bilhões do próprio banco para financiar projetos de ferrovias. Ele explicou que o banco tem trabalhado com debentures incentivadas de infraestrutura e com novas fontes de energia no transporte ferroviária, visando a redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. Dalto citou outras fontes de recursos como Financiamento a Empreendimentos (FINEM), dedicados a projetos grandes, para empresa com tíquete médio de R$ 20 bilhões, além do Finame Direto, em que a empresa pode captar recursos diretamente com o BNDES, como instrumentos de apoio à inovação. Osório Coelho focou sua apresentação no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), um instrumento financeiro de integração da ciência e tecnologia com a política de desenvolvimento nacional. O transporte sobre trilhos é um dos beneficiários dos recursos do FNDCT. Além dos instrumentos financeiros, ele destacou as parcerias com os startups para catalisar a inovação nas empresas.

A mesa-redonda recebeu perguntas dos congressistas e da organização do Simpósio, enriquecendo a troca de informações. Logo em seguida, a seção de trabalhos da cátedra de Logística e Operações Ferroviárias contou com duas apresentações, sendo uma sobre “Análise da Aplicabilidade das Especificações Técnicas Mínimas de Manutenção nos Novos Contratos de Concessão”, conduzida por Juliano Dias, e outra dedicada à “Análise da sustentabilidade e eficiência operacional no transporte ferroviário de minério de ferro: um estudo de caso na Estrada de Ferro Vitória-Minas”, realizada por Taiane do Carmo Natalino Moraes. Coube a esta Cátedra o encerramento das atividades do primeiro dia do VII Simpósio de Engenharia Ferroviária. O professor Dr. Luiz Antônio Silveira Lopes compartilhou os conceitos que nortearam a criação dessa frente de estudos e os desafios relacionados ao aperfeiçoamento do centro de controle operacional e à interface de comunicação com outras empresas do setor.

Parceria com empresas e órgãos setoriais – O VII Simpósio de Engenharia Ferroviária conta com a parceria de fabricantes e operadoras de renome no setor ferroviário mundial, como VALE, RUMO, MRS, LORAM, GREENBRIER-MAXION, AMSTED-MAXION, AMSTED RAIL, FRAS-LE e com apoiadores como a Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas (ABCM), Associação Brasileira da. Indústria Ferroviária (ABIFER), Asociación Latinoamericana de Ferrocarriles (ALAF), Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (SIMEFRE), Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE- BRASIL).

 

No dia 14 de maio, o segundo dia do VII Simpósio de Engenharia Ferroviária (SEF) começou com a palestra do pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).  O pesquisador destacou as contribuições do IPT para o desenvolvimento do transporte sobre trilhos no Brasil, além de defender a aproximação entre órgãos de pesquisa e as empresas como caminho para apoiar o crescimento desse setor. Ele ainda destacou a criação do Instituto de Qualidade Ferroviária como um agente para atestar a conformidade de produtos e serviços ferroviários em consonância com as especificações e normas técnicas aplicáveis, entre outras atribuições.  

Inteligência artificial aplicada em simulações ferroviárias

Em seguida, o segundo palestrante internacional do evento, o pesquisador sênior na Escola de Engenharia e Tecnologia da Central Queensland University, Qing Wu, apresentou a palestra “Recent advances in railway dynamics modelling”. O pesquisador atualizou os status dos principais projetos em que ele atua e destacou estudos inéditos como a dinâmica estocástica para analisar a velocidade crítica mais provável, a partir de distribuições aleatórias de propriedades e condições de entrada do sistema.

Wu ainda detalhou uma simulação com trilho flexível, demonstrando as condições de flexibilidade do trilho em uma via infinita e algumas aplicações de IA. Ele treinou uma inteligência artificial, que analisou duas mil simulações. A partir disso, o pesquisador conseguiu fazer predições sobre como a composição se comporta sem precisar simular todo o veículo por completo.

Homenageado do VII Simpósio de Engenharia Ferroviária

A organização do Simpósio fez uma pausa na programação para homenagear o diretor de Engenharia na Amsted Rail, Paulo Maurício Costa Furtado Rosa. Reconhecido como um dos mais renomados projetistas de vagões no Brasil, ele tem atuado no desenvolvimento e melhoria da infraestrutura ferroviária no país. “Enquanto eu estiver por aqui, quero ter a oportunidade de continuar convivendo com os mais velhos e com os mais jovens para contribuirmos com o futuro das nossas ferrovias”, resumiu o homenageado.

A grade de palestras seguiu com uma apresentação da Cátedra de Vagões. O professor, Felipe Bertelli, apresentou “Estudo de sistemas de drenagem de vagões de carga tipo gôndola”. O trabalho tem como foco a observação do comportamento dos drenos nos vagões, que operam no transporte de minério de ferro. 

Em seguida, dois trabalhos técnicos da Cátedra Roda Trilho foram apresentados, sendo um por Leandro Rocha Lopes, “Aplicação de aprendizagem de máquina como estratégia para aumento de precisão de dados de profundidade de cava fornecido por equipamentos waysides”, e outro pela Ana Cecília de Carvalho, “Avaliação do efeito do espessante e da viscosidade de graxas formuladas no desempenho em desgaste e em retentividade”.

Esta Cátedra continuou em pauta, com a apresentação dos indicadores conduzida pelo professor Dr. Roberto Martins de Souza. Ele destacou que os temas de pesquisas são trabalhados em colaboração com outras universidades, favorecendo a interação entre os pesquisadores. Ele explicou que o ambiente das Cátedras é positivo para a produção acadêmica, além de contar com subsídios, acesso a equipamentos, as pessoas e principalmente a transferência e consolidação de conhecimento.

Visitação aos pôsteres e apresentações de trabalhos convidados

No período da tarde, a programação começou com visitas ao auditório onde os pôsteres de trabalhos científicos estavam expostos e os pesquisadores puderam tirar dúvidas dos congressistas. Em seguida, as palestras foram retomadas e a primeira foi conduzida por representantes da Loram, uma fornecedora de serviços de manutenção de trilhos, serviços de inspeção e otimização de infraestrutura e equipamentos na América do Norte e ao redor do mundo, que compartilharam os casos de sucesso da empresa.

A seção de trabalhos foi retomada com a apresentação da autora, Nayara Fernanda Siementkowski, que expôs os resultados do estudo “Análise de efetividade de monitoramento de balanço físico para detecção de problemas de amortecimento em vagões de carga” e depois por Marcos de Sousa Silva, com o estudo “Determinação de parâmetros preditivos para detecção de falhas nos sistemas de frenagem de vagões através dos dados de temperatura de rodas”, ambos da Cátedra de Vagões. 

Os resultados gerais da Cátedra de Vagões foram atualizados pelo coordenador e professor titular da UNICAMP, Dr. Paulo Roberto Gardel Kurka. Com seis projetos em andamento, o professor listou o aumento da disponibilidade do material rodante, da segurança do transporte e da carga transportada, a geração de conhecimento e inovação sobre os temas pesquisados, a formação de pessoal técnico qualificado e o desenvolvimento de uma rede de pesquisas sobre vagões com competência para apoiar a VALE na solução de problemas que possam surgir na operação ferroviária como os principais objetivos da Cátedra. 

Mais duas sessões de trabalhos convidados foram realizadas, reforçando o caráter científico do evento e encerrando a programação do VII Simpósio de Engenharia Ferroviária. O professor, Hélio Goldenstein, apresentou o estudo “Da pesquisa metalúrgica para aplicação tecnológica”, em que ele explicou como a pesquisa aplicada auxiliou a indústria na resolução de desafios de solda de trilhos. O último trabalho “Transporte Ferroviário de Carga no Brasil: cenário atual e desafios futuros” foi apresentado pelo consultor, Frederico Bussinger. Dentre os pontos do estudo, Bussinger enfatizou a desmistificação de algumas crenças como associar ferrovia exclusivamente à alta velocidade, afirmar que todas as ferrovias são de bitola larga e que a malha ferroviária chinesa é semelhante à tecnologia de outros países. A desmistificação desses pontos, explicou o consultor, é importante para pensar a ferrovia para o abastecimento do país e não somente para exportação.

A Comissão Organizadora do VII Simpósio de Engenharia Ferroviária encerrou o evento, agradecendo aos mais de 270 participantes inscritos, bem como os palestrantes pelas contribuições na divulgação e disseminação de pesquisas sobre interação roda-trilho, operações e logística, under rail e veículos ferroviários.

Sobre o Simpósio de Engenharia Ferroviária

Em 2017, pesquisadores de diversas universidades brasileiras envolvidos em projetos de pesquisa e desenvolvimento sobre a temática ferroviária se uniram para criar um evento de caráter técnico, que apresentasse também os resultados das pesquisas em parceria financiadas por empresas do setor. 

Foi assim que nasceu o Simpósio de Engenharia Ferroviário (SEF) – que é promovido atualmente pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), POLI-USP, Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Universidade Santa Cecília (UNISANTA), Instituto Militar de Engenharia (IME) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).  Desde o primeiro evento, com cerca de 50 pesquisadores, alunos e engenheiros das operadoras, o evento cresceu atingindo mais de 200 inscritos na sua última edição presencial e mais de 400 nas edições online durante a pandemia. Ao longo de todo esse período, as trocas de informações entre as empresas do setor ferroviário e academia tem sido intensa, contribuindo para o desenvolvimento do setor no país.

Fonte: Fonte: Assessoria do evento – Há Propósito
Fotos: Joey Daminelli