O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prepara captação externa de US$ 3,5 bilhões junto a organismos multilaterais com o objetivo de aumentar a liquidez da instituição para sustentar investimentos, sobretudo na área de infraestrutura. A expectativa é que a operação possa estar concluída em prazo de três meses e deve envolver Banco Mundial (Bird), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics (NDB). Essas instituições requerem o aval do Tesouro Nacional para conceder os empréstimos. O financiamento terá garantia da União, segundo confirmou ao Valor fonte credenciada do governo.
Há outros bancos multilaterais, como AFD e KfW, que não trabalham com garantias soberanas, mas nesses casos os custos dos empréstimos costumam ser mais altos e os valores envolvidos menores, segundo fontes de mercado. De acordo com fontes, o empréstimo poderá ter prazo de até 25 anos e juros na casa de 2% a 3% ao ano.
As captações junto às instituições multilaterais são as fontes mais atrativas, disse Bianca Nasser, diretora financeira do BNDES. O banco trabalha em um processo rápido para tentar fechar a operação, daí que os três meses venham sendo considerados, embora ainda não haja certeza sobre o prazo de fechamento da transação. Bianca disse que o montante de US$ 3,5 bilhões é uma estimativa razoável de valor com base nas ofertas em negociação até agora, mas ainda não há um número fechado. A transação está em fase de ser submetida à Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) para avaliação e aprovação.
Embora o BNDES tenha posição privilegiada em termos de estrutura da carteira de crédito e de liquidez, além de cobertura de capital, o acesso a fontes alternativas de recursos permitirá aumento dessa liquidez. Ao fim do primeiro trimestre, o banco tinha em caixa R$ 155 bilhões, número que em maio caiu para R$ 126 bilhões. Existe, porém, previsão de saídas de R$ 37,5 bilhões até o fim do ano. Essa e outras contas deixam o banco com R$ 66 bilhões para emprestar em novas operações de crédito ao longo de 2020. O número não considera pagamentos antecipados de empréstimos ao Tesouro Nacional, que estão momentaneamente suspensos em função da pandemia.
A aposta da administração do BNDES é que a instituição terá um papel anticíclico na retomada da economia, por isso que a busca de outras fontes de recursos, além do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), é importante.
No mercado, há, porém, quem receba a operação com cautela. Uma fonte disse que há limitações para repassar recursos captados em dólares para infraestrutura cuja receita é em reais. Isso explica por que nesses casos é preciso de aval da União. Essas operações não fazem sentido porque o dinheiro acaba não sendo usado, disse. Além disso, segundo a fonte, essa seria uma linha menos competitiva, com spreads acima de 1% ao ano, e que requer acompanhamento detalhado no tempo, muitas vezes pela Controladoria Geral da União (CGU).
No fim de 2019 o BNDES estava comprado em R$ 22 bilhões líquidos em instrumentos cambiais derivativos (a diferença entre as posições compradas e vendidas em bolsa e balcão). Isso demonstra que o BNDES não tem conseguido repassar o que capta de dívida cambial. Em consequência, precisa se utilizar de instrumentos derivativos para buscar se blindar de movimentos cambiais desfavoráveis.
Bianca disse que o banco vinha de um excedente de liquidez, com desaceleração da economia, o que levou à queda dos desembolsos do banco. Não foi só a linha de captação em dólar que não estava alocada, mas também as fontes FAT e Tesouro não estavam alocadas. Havia excedente de caixa, o que levou a pré-pagar o Tesouro. Bianca disse que a fonte de recursos externas será complementar ao FAT.
Fonte: Valor
Data: 04/06/2020