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Desafios e oportunidades para o crescimento da indústria ferroviária brasileira

11.05.2021 | | ABIFER News

Por Vicente Abate, Presidente da ABIFER e Conselheiro da SAE BRASIL

Temas latentes que precisam ser resolvidos em curto prazo permitirão que o progresso do transporte ferroviário nacional alcance competitividade mundial e gere emprego e renda para os cidadãos.

A indústria ferroviária brasileira capacitou-se, ao longo dos últimos anos, para melhor atender às concessionárias de transporte ferroviário de carga e de passageiros, do Brasil e do exterior, após investimentos significativos na construção de novas fábricas, modernização das instalações já existentes, aplicação de novas tecnologias e qualificação de sua mão de obra.

Os investimentos continuam, para oferecer, sempre, produtos e serviços inovadores da mais alta qualidade e de forma competitiva.
Foram vários os desenvolvimentos realizados pelos engenheiros brasileiros das empresas fabricantes de equipamentos, sistemas e componentes, e das prestadoras de serviços, que proporcionaram maior produtividade às concessionárias e a seus clientes, permitindo-lhes melhorar sua competitividade e obter retorno financeiro em suas operações.

Vagões de carga cada vez mais capazes e rápidos, na carga e na descarga, destinados a todos os produtos transportáveis sobre trilhos, como minérios, grãos e derivados, celulose, combustíveis e contêineres, dentre outros.

Locomotivas potentes, eficientes energeticamente e com elevada tecnologia embarcada, que proporcionam controle da operação em tempo real e redução de custos, principalmente do combustível, item prioritário das ferrovias. Nesse sentido, a indústria nacional desenvolveu e já entregou ao mercado brasileiro, em setembro passado, a primeira locomotiva de manobra elétrica, 100% a bateria, que será exportada para os Estados Unidos este ano.

Trens de passageiros, dos mais diversos tipos, como trens de superfície, metrô, veículos leves sobre trilhos, monotrilhos e aeromóveis, que oferecem segurança, conforto e rapidez no transporte de nossa gente, com sensível economia de energia elétrica para as concessionárias. Uma cadeia produtiva abastece todos esses veículos e fornece componentes de reposição às concessionárias, além de materiais para via permanente e sistemas de sinalização. Com todo esse cabedal de conhecimento e de capacidade instalada, o que falta para a indústria ferroviária brasileira deslanchar?

Faltam, principalmente, previsibilidade e regularidade nas encomendas pelas concessionárias, que poderão se utilizar dos fatores a seguir elencados e possibilitar um novo patamar à nossa indústria.
É premente expandir nossa malha. São vários os projetos de carga, a começar pela ferrovia Norte-Sul, leiloada em 2019, que incorporará 1.537 quilômetros à malha atual, a partir de julho deste ano.

A seguir virá a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol 1), com 537 quilômetros, de Caetité (BA) a Ilhéus (BA), que será leiloada na B3, em 8 de abril. Depois virá a Ferrogrão, com 933 quilômetros, de Sinop (MT) a Miritituba (PA), que deverá ir a leilão ainda neste ano.

Outros projetos estão em andamento, como a Fiol 2, de Caetité (BA) a Barreiras (BA), com cerca de 500 quilômetros, em fase de construção pela Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, com a participação do Exército Brasileiro.

Com previsão de início de construção ainda neste primeiro semestre, teremos a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), de Água Boa (MT) a Mara Rosa (GO), com cerca de 400 quilômetros, produto do investimento cruzado da renovação antecipada da concessão da Companhia Vale.

A Estrada de Ferro Paraná Oeste (Ferroeste) está em processo de privatização, que contempla sua extensão até Maracaju (MS). A Rumo Malha Norte prevê estender sua ferrovia, de Rondonópolis (MT) à região de Lucas do Rio Verde (MT), agregando cerca de 600 quilômetros à nossa malha.

São muitos também os projetos na área de passageiros, principalmente em São Paulo, como a construção das linhas 6 e 17 do Metrô, e a expansão das linhas 2 e 15 também do Metrô, da linha 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) da Baixada Santista. Além da construção do trem intercidades, entre São Paulo e Campinas, e do people mover do aeroporto de Guarulhos. Há vários outros projetos pelo Brasil como a concessão à iniciativa privada das linhas 8 e 9 da CPTM e de outros sistemas, como o de Brasília, da Companhia Brasileira de Trens urbanos (CBTU) e da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb).

1 – A renovação antecipada da concessão de seis malhas de carga, em vários estágios de execução no momento, deverá também alavancar a indústria ferroviária, com investimentos vultosos pelas concessionárias, que ultrapassam R$ 40 bilhões, e que proporcionarão também um novo patamar de qualidade nos serviços de transporte aos usuários das ferrovias.

2 – A renovação da frota de material rodante com mais de
40 anos de idade é um outro fator de impulso à indústria. Espera-se que as concessionárias e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) iniciem, com urgência, o “desfazimento” desta frota, preconizado por decreto presidencial, para que seja reposta a capacidade recebida pelas concessionárias há mais de 20 anos. Com isso, vagões e locomotivas obsoletos, que operam com baixa eficiência e em condições precárias de segurança, serão sucateados.

3 – Por último, mas não menos importantes, a prorrogação do Reporto e a instituição do Projeto de Lei do Senado (PLS)261, o novo Marco Regulatório das Ferrovias, estão em vias de ser votados pelo Senado Federal.

São todos temas latentes, que precisarão ser resolvidos em curto prazo, permitindo o progresso do transporte ferro- viário nacional e, por extensão, da indústria ferroviária brasileira, garantindo assim a competitividade mundial de nossas commodities e gerando emprego e renda para nossos cidadãos.

Perseguir essas oportunidades, com a resiliência natural dos ferroviários, é o nosso desafio!

 

Este artigo foi originalmente publicado pela Engenharia Automotiva e Aeroespacial, uma publicação da SAE BRASIL, Ano 19, Número 89, Edição Janeiro-Fevereiro-Março de 2021. Páginas 32 e 33.