Av. Paulista, 1313 - 9º Andar - Conjunto 912 (11) 3289-1667 [email protected]
pt-bren

Dos alertas que recebemos aos diagnósticos que precisamos

13.03.2020 | | Notícias do Mercado

“Decifra-me ou te devoro!” [Esfinge]

 

Frederico Bussinger*

Vez por outra são divulgados RX das infraestruturas brasileiras: estatísticas, pesquisas de opinião e análises mostram a situação do saneamento, energia, transporte público e logística. Também o quanto falta ser implantado e/ou a distância que nos separa de países escolhidos. Por vezes como mera notícia mas, no mais das vezes, são preâmbulos para dar credibilidade e/ou fundamentar reivindicações ou propostas. Mais frequentemente em véspera de eleições.

Recente editorial do Estadão (“A deterioração da infraestrutura” – 9/MAR/2020), para relembrar carências existentes, limitações de governos, e importância do setor privado, sistematiza um útil conjunto de dados de estatísticas de entidades, estudos de institutos de pesquisa e trabalhos de consultorias.

Em síntese: Cerca de 100 milhões de brasileiros não têm esgoto. O custo logístico é 12,3% do PIB no Brasil e 7,8% nos EUA. Custos de transporte na exportação brasileira superam os do protecionismo. Exportações poderiam aumentar 30% só com melhorias logísticas. Em infraestrutura de transportes somos o 65º país entre 137. O estoque de investimentos em infraestrutura atualmente é apenas 35% do PIB: 60% nos anos 80 e entre 65-85% em países desenvolvidos. Nele investimos, anualmente, 1,8% do PIB: 2% seria o ideal; e estimados 4,15%, por duas décadas, para se elevar o estoque ao nível dos anos 80. Em 2012 a União investiu R$ 35,6 bi em transporte; em 2020 serão apenas R$ 7,9 bi.

Informações como de estudos do tipo que embasaram o editorial são importantes como alertas. Também instrumentos de sensibilização e balizamento. Mas têm limitações. A começar pela métrica: PIB e volume investido. A inclusão de reflexões sobre a qualidade dos investimentos pode abrir novas janelas; da mesma forma que sobre padrões tecnológicos e modelos gerenciais, ambos em constante evolução.

P.ex; na década de 90 os terminais santistas passaram a poder operar 24X7, com turnos contínuos de 6 horas. Suas utilizações potenciais passaram de cerca de 54 para 144-168 h/s (32 para 86-100%): foi como se, para cada 3 berços, tivessem sido “implantados” 5 novos … e melhor, de imediato e a “custo-zero”! Se, p.ex, Alfândega, demais intervenientes e clientes também operassem 24X7, quanto ganharia a fluidez do trânsito na Baixada? Por quanto tempo poderia ser postergada nova rodovia ou ferrovia para o Planalto? Aplicativos e infoestrutura: em quanto reduzem a necessidade de estoque de material rodante (rodo e ferroviário)?

A métrica do volume de investimentos não capta ganhos de capacidade desse tipo. Tampouco ajuda a explicar deteriorações de desempenho e apontar saídas: explicações precisam ir além de corrupção e maus projetos. Mesmo porque, metodologicamente, haverá dificuldades para se explicar, de forma aceitável e legitimável, as diferenças de performance entre 2012, 16 e 20; entre a “década perdida” e os anos 90; e assim por diante. Improvisações, processos decisórios labirínticos, imprevisibilidade de licenciamentos e controles, p.ex, não são variáveis explicativas importantes?

Sem avanços no campo analítico e explicativo meras informações poderão resultar apenas em frustrações e/ou espírito macunaímico. E a discussão, ao invés de produzir luzes, planos e ações transformadoras, se limitar ao Fla-Flu ideológico.

 

*Frederico Bussinger é consultor, engenheiro e economista

 

Fonte: A Tribuna

Data: 13/03/2020