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Fenômenos climáticos vão sustentar preço do minério

23.02.2023 | | Notícias do Mercado

Fonte: Valor Econômico
Data: 22/02/2023

O mercado de minério de ferro, a principal commodity da indústria minero- siderúrgica, terá um primeiro trimestre sem sobressaltos à vista, além da tradicional sazonalidade. É comum, de janeiro a março os impactos climáticos – muita chuva nas regiões produtoras do Brasil e ciclones nos portos da Austrália, maior

fornecedor global. Por isso, os preços costumam ser pressionados nesse período, pois a China, grande consumidor mundial, é muito sensível às oscilações de oferta. É dominado por traders, que têm muita força, inclusive de apetite especulativo.

A produção de minério de ferro encontra-se 75% concentrada no Hemisfério Sul – Austrália, Brasil e África do Sul, principalmente -, explica José Carlos Martins, sócio- diretor da Neelix Consulting Mining & Metals. “O que vemos nesse período? A produção de minério cai e a de aço se mantém”, diz o consultor.

Isso, em grande parte, explica o fato de os preços do minério terem chegado a US$ 130 a tonelada neste ano, tendo fechado na sexta-feira (17) a US$ 127,30. No Brasil, por exemplo, vive-se um verão com muita chuva em 2023 e isso impacta a produção nas minas e transporte pelas ferrovias.

Conforme Martins, 95% da fabricação de aço no mundo é feita no Hemisfério Norte – EUA, Europa e Ásia – e não é afetada por problemas climáticos. Apenas o Brasil é o grande produtor siderúrgico no Hemifério Sul.

Sobre a curva de preços, ele informa que no primeiro semestre de 2021, a cotação do minério chegou a US$ 220, vindo a cair para a faixa dos US$ 80 a tonelada. Em 2022, o produto saltou para US$ 159 em decorrência da guerra da Ucrânia – depois se ajustou, batendo em US$ 79 por volta de outubro/novembro. “Neste ano, o efeito está menos acentuado do que nos dois últimos”, afirma o consultor.

“O fenômeno que se vê no momento é o mesmo, com pesos diferentes”, diz Martins. Mas o mercado está regulado, sem oferta e sem demanda adicionais. Produção e consumo, em âmbito global, estão na casa de 2,3 bilhões a 2,4 bilhões de toneladas. “Antes ainda havia algum excesso de produção. Já não existe mais”.

Os preços da commodity, neste trimestre, já chegaram ao limite, na avaliação do consultor, que foi diretor da área de ferrosos da Vale por dez anos, até 2014. “A não ser um grande fato, como a guerra da Ucrânia. No caso da Turquia, o impacto será centrado no mercado de sucata ferrosa, pois é um grande consumidor mundial”, afirma.

Para Martins, a China continua tendo papel expressivo no mercado. “A produção de ferro-gusa local, que é usado nos altos-fornos e que requer minério de ferro para ser fabricado, caiu apenas 0,6% em 2022. A mesmo tempo, a produção de aço do país recuou mais de 2%”.

Na sua visão, o grande problema de demanda de minério de ferro está no Ocidente, onde a produção de gusa sofreu forte queda – caiu de 600 milhões para 536 milhões de toneladas. “Não há problema na China, mas, sim, no resto do mundo”, diz.

Ele lembra que a produção de aço bruto da China, em 2022, foi só 20 milhões de toneladas abaixo do volume do ano anterior. Fechou em 1,013 bilhão de toneladas.

Para este ano, a previsão é de preço médio entre US$ 110 e US$ 120 a tonelada. Em 2020, foi de US$ 110; no ano seguinte, US$ 165; e no ano passado, US$ 120.

“Em 2020, apesar da pandemia, a China bateu recorde de produção de aço; em 2021, fez ajustes forçados pelo governo, enquanto o Ocidente voltou muito consistente, puxando os preços para cima”, comenta.

Há um ano, em 24 de fevereiro a Rússia invadiu a Ucrânia e provocou uma grande tensão econômica no Ocidente. As fontes de energia da Europa, incluindo gás para uso nas siderúrgicas e outras atividades industriais, foram afetadas. Preços de aço e minério subiram.

O mercado total de minério de ferro, informa, vai continuar mais ou menos igual, com demanda e oferta na faixa de 2,3 bilhões a 2,4 bilhões de toneladas. Já o mercado transoceânico, que de fato mexe com os preços, é da ordem de 1,5 bilhão de toneladas. E quase 100% desse volume vem do Hemisfério Sul, lembra Martins.