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Futuro da mobilidade urbana tem tecnologia como aliada, apontam especialistas

26.05.2022 | | Notícias do Mercado

Fonte: O Estado de S. Paulo
Data: 20/05/2022

O Summit Mobilidade 2022 chegou nesta sexta-feira, 20, ao último dia de debates com um evento na Casa Bossa, em São Paulo, no qual reuniu especialistas para discutir iniciativas públicas e privadas sobre a transformação dos modais para melhorar o trânsito e preservar o meio ambiente

O primeiro encontro foi mediado por Victor Vieira, editor de Metrópole do Estadão, e contou com a participação de Renata Falzoni, arquiteta, urbanista, jornalista e cicloativista, Sérgio Avelleda, coordenador do núcleo de mobilidade urbana do laboratório Futuro de Cidades do Insper, Mariana Cruz, coordenadora de relações governamentais da Tembici, e Vinicius Andrade, arquiteto urbanista e professor na Escola da Cidade.

Para Mariana, a questão da infraestrutura é a primeira barreira para que a mudança de modais ocorra. “Quando não temos a infraestrutura é mais difícil convencer uma pessoa que nunca pedalou a pedalar numa grande cidade ou grande centro.”

James Scavone, sócio fundador e CCO da Davinci, percebe que problemas como segurança e iluminação pública são pontos, também da infraestrutura, que precisam ser levados em consideração. “A pessoa não apenas vai para o trabalho de patinete, ela também volta à noite e precisa se sentir segura com essa escolha. Se o patinete não for dobrável, fica mais difícil guardá-lo num trecho que você opte fazer de metrô ou por outro modal. A integração é fundamental.”

Sérgio Avelleda destaca que é preciso mudar alguns conceitos. “Não existe transporte público de porta a porta. O transporte público consolida as viagens através das estações e pontos de ônibus, mas o caminho para as pessoas chegarem a esses lugares ou é a pé, ou é de bicicleta, patinete, carro. Para ampliar a matriz para o transporte público é preciso superar a visão de que a calçada é do dono do imóvel”, afirma.

Vinicius, compreende que o conhecimento precisa ser distribuído entre diferentes áreas de pesquisa. O debate sobre os problemas de mobilidade só cresce quando há colaboração.

“A gente precisa des-segmentar o conhecimento sobre a cidade. A cidade é um campo de atuação multidisciplinar e não uma especialização. Para mim, discutir mobilidade passa, antes de mais nada, pela discussão da morfologia da cidade. Que é o que determina a nossa necessidade de se deslocar pelo espaço urbano”, afirma.

Para Renata Falzoni, o principal gargalo é a priorização dos automóveis já no momento em que o deslocamento da cidade é pensado. “Um exemplo: na cidade de São Paulo temos 4 mil funcionários na mobilidade. Dez cuidam da mobilidade ativa, que é andar a pé. Se você imaginar que 33% dos deslocamentos são feitos exclusivamente a pé, é uma quantidade muito ínfima de profissionais. O foco tem que ser na vida, no deslocamento de pessoas, não dos carros.”

, “Acabamos falando muito dos gargalos, mas as boas práticas vêm sendo incentivadas pelas cidades, é sempre bom lembrar das evoluções que estamos promovendo.”conta Mariana Cruz.

Dá para zerar as emissões no transporte?
Numa conversa sobre as principais barreiras tecnológicas e financeiras enfrentadas no Brasil para a chegada da eletromobilidade, Andrea Santos, professora do programa de engenharia transportes da UFRJ, Cristina Albuquerque, gerente de mobilidade urbana do WRI Brasil, e Rafael Calabria, coordenador do programa de mobilidade urbana do Idec, conversaram sobre alguns percalços, que pesquisadores, arquitetos e outros profissionais têm encontrado quando o assunto é zerar as emissões de carbono, geradas pelo transporte.

Cristina Albuquerque vê a barreira financeira como um ponto que precisa de apoio do governo federal. “A nossa principal barreira hoje é a questão financeira, baixar os preços desses carros e, por isso, precisamos de incentivos federais. Temos algumas iniciativas locais, mas, quando se trata de um posicionamento nacional, não temos apoio do governo federal. Precisamos que a decisão seja do País como um todo, pequenas iniciativas municipais e estaduais existem e são bem vindas, mas precisamos ir além.”

Rafael defende que a barreira financeira é enorme e ela se soma à barreira administrativa. “Não temos formatos de gestão que incentivem a utilização do carro elétrico em nível nacional. Queremos que o governo federal apoie essa pauta, pela sua capacidade financeira e técnica de direcionar e orientar os municípios para avançar em ônibus elétricos para reduzir a emissão de poluentes. Hoje ficamos reféns da vontade do empresariado.”

Para Andrea Santos as cidades estão se movimentando para atrair recursos e querem transformar seus pequenos projetos pilotos e levá-los à grande escala. A professora ainda citou o hidrogênio verde e no grande potencial que o Brasil tem para usar esse combustível. “Ao meu ver, temos tecnologias, mas elas estão muito embrionárias, precisamos acelerar a queda de todas essas barreiras para chegar lá”, concluiu Andrea.

O futuro da mobilidade nos grandes centros urbanos
Tião Oliveira, editor do Jornal do Carro, do Estadão, foi o responsável por reunir Eduardo Soriano Lousada, diretor do Departamento de Tecnologias Aplicadas do Ministério da Tecnologia, Ciência e Inovações, Eliana Martins de Mello, pesquisadora do Cepesp/FGV em Economia Urbana e Transportes, e Samuel Salomão, coordenador e diretor de produtos da Speedbird Aero, em um debate sobre o futuro da mobilidade no Brasil. Os quatro conversaram sobre quais estratégias estão sendo adotadas pelo poder público e quais tecnologias estão sendo estudadas para serem aplicadas no País, para garantir uma mobilidade adequada, além de zerar a emissão de carbono.

Os especialistas concordam que o Brasil tem desafios que vão além dos compromissos assumidos na COP-26, a Conferência do Clima da ONU, realizada no ano passado na Escócia. Para Eliana, as soluções virão através da política, que é a responsável por regular a aplicação de tecnologias e também impulsionar a pesquisa e capitanear as transformações que as grandes cidades exigem em termos de mobilidade urbana. “A solução sempre está na política. Vindo de uma demanda da sociedade, discussão com a sociedade e resposta da política.”

Eduardo comentou sobre a inserção de profissionais pós-graduados para aumentar a capacidade de pesquisa e inovação do mercado. “Temos muito recurso para formar pessoas com alta capacidade, precisamos caminhar com a regulação e o desenvolvimento de tecnologia lado a lado e isso precisa ser balanceado.”

Embora muitos problemas ainda precisem ser resolvidos, o Brasil tem avançado em estratégias. Salomão acredita que o modal aéreo em breve será incluído como um meio de transporte para fazer entregas, com a utilização de drones. “Precisamos de regras para que esse transporte possa acontecer. Os drones vão rodar por corredores aéreos, já definidos. Aeronaves certificadas, para que possamos fazer esse trabalho com segurança e ter benefício para a sociedade”, explica.

“Hoje já temos operações acontecendo em Aracaju, desde janeiro. Temos operações no nordeste, também temos operações com a BRF e em breve, queremos produzir essas aeronaves e colocar em operação em outros lugares do Brasil, com a autorização da ANAC. Às vezes a gente fala em drone e as pessoas pensam que a encomenda vai bater na janela da sua casa, mas não é tão simples assim. É um trabalho bem complexo, interligado a outros modais.”

Uma das aplicações das entregas por vias aéreas é na saúde. O modal aéreo vem sendo utilizado para ajudar médicos e acelerar o atendimento em casos de emergência. Samuel Salomão deu exemplos como o de Alice, uma mulher grávida que perdeu muito sangue e tanto ela quanto o bebê precisaram de bolsas para a reposição. O tempo para a entrega foi encurtado por um drone, que levou uma caixa com o material coletado com a ajuda de um paraquedas. “Temos muito orgulho de contar que vidas são salvas graças à velocidade que conseguimos trabalhar nos drones”, conta Samuel.