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Grupo Cedro planeja investir R$ 1,8 bi em ferrovia na Serra Azul

02.10.2023 | | Notícias do Mercado

Fonte: Valor
Data: 02/10/2023

O Brasil poderá ter a primeira ferrovia de curta distância (short line, no jargão em inglês), o que é comum em países como EUA para atender cargas específicas e onde não passa grande linha férrea. O projeto foi protocolado na ANTT, agência reguladora do setor, há dois meses, dentro das regras de novas regras para ferrovias no país.

O grupo mineiro Cedro Participações, comandando pelo empresário Lucas Kallas, está à frente do empreendimento. A Cedro aguarda o aval da agência para dar partida a todos os procedimentos para viabilizar a obra, como licenciamento ambiental, apresentação do projeto aos potenciais usuários e também às comunidades da região.

“É um investimento emblemático para a mineração de ferro em Minas Gerais. Ele traz benefícios sociais e ambientais à região onde será construído, além de oferecer frete inferior aos futuros usuários”, afirmou Kallas, em entrevista exclusiva ao Valor.

O empresário, que também atua no ramo da mineração de ferro em outras partes do Estado, começou a desenhar o projeto da “small railway” há um ano, com base na situação de transporte da carga por meio rodoviário constatada na região. Kallas informa que o investimento orçado para o empreendimento, sem considerar material rodante (locomotivas e vagões), soma R$ 1,8 bilhão.

Denominada Ramal Serra Azul, a short line prevê se conectar aos trilhos da MRS Logística, que desce para portos do Rio e de São Paulo. O trajeto desenhado é de 32,4 km, ligando os municípios de Itaúna e São Joaquim das Bicas, permeando o complexo montanhoso da região Serra Azul, no Quadrilátero Ferrífero.

Na região que passará o ramal operam cinco produtoras de minério de ferro. Atualmente, essa empresas utilizam carretas rodoviárias para transportar sua produção até pátios de embarque ao lado da linha da MRS e daí é levada para portos no Estado do Rio.

Com capacidade de transportar 25 milhões de toneladas por ano, o Ramal Serra Azul vai ser uma alternativa de transporte do minério dessas mineradoras: Ipê, ArcelorMittal Mineração, Musa, Comisa e Minerita. “São 2,5 mil carretas circulando por rodovias da região, principalmente na BR-381, todo dia, carregadas com 37 mil quilos, gerando acidentes, desgastes na via e com maior custo do frete do que o que a ferrovia vai oferecer”, afirma Kallas.

No projeto estão previstos trilhos de bitola de 1,6 metro, igual à da ferrovia da MRS. Serão cinco composições (trens) de 132 vagões cada. Cada vagão pode transportar 100 toneladas. Segundo a Cedro, cada trem levará volume o equivalente ao de 471 carretas. O prazo de construção da obra, após aval de todos os envolvidos, é de 24 meses.

Com a ferrovia, a emissão anual de CO2 pode cair até 50 mil toneladas”
— José Carlos Martins

Do ponto de vista ambiental, informam Kallas e José Carlos Martins, conselheiro especializado de mineração da Cedro Participações, a short line tem vantagem sobre o transporte rodoviário na emissão de gases do efeito estufa (GEE). Segundo os estudos da empresa, a distância média de transporte cairá de 50 km para 30 km. “Como a ferrovia emite um terço do que gera os caminhões, o efeito combinado pode reduzir em até 50 mil toneladas ao ano as emissões de CO2. Mais de 70% sobre os níveis atuais de emissão”, diz Martins.

“O projeto tem muitos méritos. Havia uma apelo e pressão grande da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (AMIG) para reduzir o impacto das carretas na região do Quadrilátero Ferrífero”, observa Martins. Segundo ele, a pequena mineração nasceu onde tinha minério, e não logística integrada, e vem crescendo. “A grande vantagem é que o ramal faz a integração ao fluxo logístico da grande ferrovia e tem custo menor que o do rodoviário”, acrescenta.

“É um caminho sem volta para elevar a produção. As pequenas mineradoras viraram médias, e até grandes, e requerem logística com custo mais competitivo. Hoje, chega a representar 40% do custo total. As grandes já nasceram integradas”, diz Kallas.

Segundo o empresário, a obra será bancada com recursos próprios e parte via captação de recursos com emissão de debênture incentivada de infraestrutura. “O volume de carga permite securitizar, por isso, um mérito do ponto de vista econômico-financeiro e de longo prazo”, diz Martins.

Para viabilizar a captação do minério da região, estão previstas correias transportadoras desde o ramal até as minas – “para minimizar impacto sócio-ambiental” – e dois pátios rodoferroviários, que serão entrepostos de embarque automatizados junto à short line.

Um passo importante, após a concessão da outorga da linha pela ANTT, afirma Kallas, é fazer uma amplo debate que envolva Ministério dos Transportes, governo de Minas, órgãos ambientais, prefeituras ao longo do traçado da short line, comunidades e as potenciais clientes (as mineradoras, que, a priori, terão grande redução dos custos operacionais) e a própria MRS Logística.

O grupo informa que serão gerados na obra 1 mil empregos diretos e 3 mil indiretos. Na operação, estão previstos até 400.

Procurada, por meio da assessoria de imprensa, desde quinta-feira à tarde, a direção técnica da ANTT não respondeu pedido de informação sobre a situação do projeto dentro da agência de transportes.