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HISTÓRIA: Metrô SP 46 anos – funcionários de longa data na empresa contam como sistema se desenvolveu ao longo do tempo

22.09.2020 | | Notícias do Mercado

Na semana em que a companhia completou mais um ano de operação, o Diário do Transporte entrevistou quatro funcionários do Metrô que relataram momentos que marcaram suas vidas em mais de quatro décadas de serviço

 

Imagem do Centro de Controle Operacional do Metrô (CCO) no começo da operação comercial nos anos 1970. Foto: Arquivo Metrô de São Paulo

No dia 14 de setembro de 2020, o Metrô de São Paulo completou 46 anos de operação e o Diário do Transporte entrevistou quatro veteranos que estão na Companhia desde a década doa anos 1970, ouvindo boas histórias que vivenciaram durante o trabalho.

Iniciando o atendimento ao público em 1974, o Metrô de São Paulo transportava apenas 2,5 mil pessoas por dia, com passagem em valor mais alto comparado com os ônibus e das 9h às 13h em um pequeno trecho, de Jabaquara a Vila Mariana. A expansão foi aos poucos.

Os relatos a seguir fazem parte das memórias destes quatro trabalhadores que transmitem seu conhecimento para os mais novos de Metrô e se recordam muito bem de momentos marcantes em suas carreiras. Fruto de um bom bate papo descontraído, embarque nas histórias de Celina, Adalberto, José e Tadeu.

MULHERES E HOMENS NO MERCADO DE TRABALHO NO MESMA PATAMAR DESDE O INÍCIO DO METRÔ

Uma das entrevistadas, Celina Yukiko Kakihara, analista de Processos Operacionais na companhia, de pronto trouxe a memória de um tratamento igualitário entre homens e mulheres desde a fundação do Metrô. A metroviária que foi a primeira mulher a treinar e conduzir um trem, diz ser muito grata, pois os trabalhadores eram unidos e todas as mulheres sempre foram bem recebidas sem qualquer discriminação.

“Uma coisa que senti desde o início é que não houve nenhuma discriminação na companhia, não tinha (distinção) mulher ou homem, era todo mundo trabalhador. Isto foi o que mais me impressionou e eu sou grata por isto.” explicou.

A profissional se recorda com alegria que arrancaram risos na entrevista de momentos como quando ela já no comando de um dos trens da Linha 1-Azul,  notava que ao anunciar as estações, alguns passageiros ao ouvirem uma voz feminina iam até à frente para ver quem estava no comando. Celina lembrou de um passageiro que viajou do Jabaquara até Santana e às vezes saía, olhava e retornava para o interior do trem.

“Quando cheguei em Santana  essa mesma pessoa veio conferir se eu estava sozinha mesmo”, concluiu.

O AVANÇO TECNOLÓGICO CHEGOU COM O METRÔ:

“O metro não chegou aqui por acaso, temos pessoas de comprometimento com à empresa” disse Tadeu a direita na imagem. Foto: Reprodução arquivo pessoal

O avanço tecnológico da sociedade como um todo evidentemente chegou ao Metrô paulista e isto é brevemente evidenciado sob o olhar de José Vela do setor de implantação de sistemas que está há 45 anos na companhia e recordou a época da operação com a estação Sé ainda em construção e das certificações que a companhia conseguiu já naquela época por excelência na operação.

“Acompanhei desde o começo a certificação de qualidade, inclusive a ISO. A evolução tecnológica é legal e passamos isto para os novos (funcionários). Tentamos repassar nosso conhecimento para a turma é gratificante, passa um filme muito bacana. Estou aqui 45 anos aqui e me perguntam, não enjoou?”, disse Vela

Ao mesmo tempo, Celina deu como exemplo o modo em que os trens eram representados nos painéis de controle. Um painel de madeira com placas magnéticas e as marcações de disjuntores abertos ou fechados eram feitas com giz convencional, bem diferente do atual, painéis totalmente eletrônicos e avançados se comparados com os pioneiros.

METRÔ SE BASEOU NA AVIAÇÃO

Em relação aos dias de quando foi criado, o espaço do coração do Metrô mudou completamente, mas ainda sim cumprindo seu papel. Foto: Diário do Transporte

Quando se trata de segurança, o Metrô é lembrado por este quesito com poucos registros de acidentes entre trens ao longo dos seus 46 anos.

Tadeu Alves, chefe do Departamento de Estações, explica que o transporte aéreo, tido como um dos mais seguros do mundo, serviu de direção aos responsáveis pelo Metrô para trazer um padrão alto de segurança para ações, documentos, procedimentos e operação.

“Lá no inicio o metrô se baseou muito na aviação com foco na segurança e isto é importante até hoje. Desde os primórdios todos nossos processos sempre foram documentos, procedimentados. Temos procedimento para tudo, não existia controle de qualidade, mas o Metrô já tinha um regulamento para tudo, não se fazia nada sem estar escrito.”

Uma das filosofias implantadas era de manter tudo muito limpo e trocar quase de imediato, peças danificadas por algum motivo, como vidros riscados, se propondo a não conviver com itens degradados e o chamado “fail or safe”, responsável por impedir que ações do sistema ocasionadas por algum erro ou defeito provocassem incidentes mais sérios.

Esta “trava de segurança” impede, por exemplo, que um trem programado a rodar em um trecho de via até 80km/h e em uma eventualidade ela é diminuída ou mesmo que numa intervenção desejar ultrapassar a velocidade programada.

“Desde a implantação do Metrô. O controle é rigoroso”, explica Vela.

EXPERIÊNCIA COMO REFERÊNCIA:

Adalberto Teixeira supervisor de manutenção de trens está próximo de deixar a companhia. Ele que já tem seus mais de 40 anos a serviço da população e cuida da manutenção dos trens, mantendo a “saúde” das composições que circulam centenas de quilômetros todos os dias. Atualmente é um dos responsáveis pela instalação do CBTC embarcado, ou seja, nos trens.

Ele que faz parte do time do trabalho pesado e atuou em serviços rápidos e complexos em trens da Frota A (primeira do sistema) até os dias atuais com as frotas K, L e J, por exemplo, modernizadas anos atrás.

Nas constantes mudanças de sistemas e tecnologias que são sempre atualizadas por meio de treinamento, o conhecimento dos mais experientes é importante para os recém-chegados à empresa, que encontram nas instruções de pessoas como Adalberto, a fonte de sabedoria que amanhã será convertida em um trabalho bem feito.

“A gente viu toda a evolução dos trens, em cada fornecimento de frota tinhacoisa diferente, na ultima modernização mudou bastante”, ressaltou o metroviário.

O QUE É O CBTC?

Computadores gigantescos e com memória bem pequena foram substituídos junto com seus antigos painéis por sistemas muito mais avançados, mas que atendem com primor ás necessidades da operação diária. Foto: Diário do Transporte

José Vela de forma simples definiu o CBTC como um dispositivo que garante uma segurança ainda maior e permite mais trens e viagens para todos no decorrer do dia.

Segundo o profissional, a tecnologia anterior funciona como em sistema de espaços pelo qual um trem deixa pelo menos 150 metros nas suas “costas”, impedindo assim a aproximação de outra composição.

Já o CBTC é diferente e cria as chamadas “bolhas” nas quais um ou mais trens podem andar bem mais próximos, uma distancia de cerca de 30 metros. Desta maneira, o chamado carrossel de trens pode ser ampliado e isto é notado pelo passageiro.

“O CBTC cria uma bolha nele diferente do equipamento antigo na traseira do trem, deixando 150 metros com código zero, impedido a composição de avançar. Neste sistema antigo é preciso fazer o trem andar para gerar código para o de trás também se movimentar. Já no CBTC que é uma bolha, eu posso fazer os trens andarem mais próximos ganhando a possibilidade de inserir mais trens, diminuir a distancia e transportar mais pessoas”, explicou.

Computadores gigantescos e com memória bem pequena foram substituídos junto com seus antigos painéis por sistemas muito mais avançados, mas que atendem com primor ás necessidades da operação diária. Foto: Diário do Transporte

MÉTODO APERFEIÇOADO A CADA PROBLEMA EXISTENTE

Tadeu usou como exemplo dois grandes “blackouts” que afetaram São Paulo em meados dos anos de 1980, ambos à noite e com características.

O primeiro, em 1982, foi percebido com minutos de antecedência pela equipe que trabalha no Centro de Controle Operacional (CCO), notando oscilações no sistema elétrico. Com isto, mesmo contando com geradores e baterias que mantém por um tempo os túneis iluminados, a maioria dos trens foi posicionada nas estações e todos os passageiros foram retirados para a rua.

Porém, colocar mulheres, crianças e idosos a noite, nas ruas escuras, foi melhor avaliado após o problema, definindo nova diretriz para estes casos.

No segundo blackout também à noite, o procedimento de evacuação foi repetido, mas as pessoas ficaram acomodadas nas áreas internas das estações, com iluminação e corpo de seguranças no apoio, mudança na ação que inclusive atraiu pessoas do lado de fora (nas ruas) para a parte de dentro.

“Em toda ocorrência diferenciada, fazemos uma autocrítica e percebemos o que poderia ser feito diferente. No segundo blackout evacuamos o sistema, mas deixamos o pessoal dentro da estação em uma área iluminada, concentrando a segurança e as pessoas permaneceram lá, inclusive pessoas vindas de fora para ficar dentro do metro”, lembrou Tadeu.

Já ao final da entrevista, Tadeu Alves se emocionou ao lembrar-se de um episódio em uma forte tempestade na capital paulista. Neste dia, a estação do Tatuapé foi destelhada, com detritos caindo nos trilhos e paralisando a circulação.

Segundo ele, metroviários de férias e em folga que moravam na região, compareceram na chuva de roupa de casa e até chinelo, ajudando os demais funcionários na retirada de todos os detritos, isto permitiu a retomada do sistema em um tempo inferior ao esperado.

“Eu sempre me emociono com essa parte, apareceu um pessoal retirando os obstáculos e notamos pessoas se shorts, camiseta, chinelo de dedo em meio a tempestade e eram metroviários que moram perto”, relatava ao mesmo tempo em que mostrava seu braço arrepiado.

Estes são apenas breves relatos de quatro de milhares de pessoas que assim como eles dedicam anos e décadas de suas vidas para que o Metrô de São Paulo, hoje com quatro linhas sob sua administração, continue sendo sinônimo de excelência, inclusão social, diversidade e respeito para com todos.

Suas histórias se cruzam com as de outras milhões e, certamente, mesmo que de forma indireta, umas influenciam nas outras, seja na chegada a um destino, uma viagem, um encontro de amor ou do caminho de casa para o trabalho e no retorno ao conforto do lar no final de cada dia.

Parabéns aos funcionários do Metrô de São Paulo.

 

Fonte: Diário do Transporte

Data: 20/09/2020