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Nada mudou em relação à convicção inicial de investir na Vale, diz presidente da Cosan

18.05.2023 | | Notícias do Mercado

Fonte: Valor Econômico
Data: 16/05/2023

A Cosan permanece otimista com o investimento realizado na Vale no ano passado e uma primeira etapa importante, de participar da formação do novo conselho da mineradora, já foi cumprida, disse nesta terça-feira (16) o presidente da holding, Luis Henrique Guimarães.

“Nada mudou em relação à convicção de nossos investimentos na Vale”, afirmou, em teleconferência com analistas para comentar os resultados do primeiro trimestre.

Segundo Guimarães, a decisão do grupo, neste momento, é a de não exercer o direito de compra de fatia adicional de 1,6% da mineradora, para não pressionar a dívida e porque a Cosan está confortável com a posição de acionista detentora de 4,9%.

No primeiro trimestre, a Cosan recebeu R$ 402 milhões em dividendos da mineradora, com impacto positivo no resultado operacional (Ebitda). Desse total, R$ 215 milhões foram repassados aos bancos que estruturaram as operações financeiras que viabilizaram a aquisição. Com a marcação a mercado da posição acionária na Vale e dos derivativos associados á operação, contudo, a posição teve impacto negativo de cerca de R$ 207 milhões no resultado líquido da holding.

Conforme Guimarães, a ambição do grupo era participar da governança da mineradora, o que se concretizou com a eleição da chapa ao conselho em que aparecia como indicado.

“O processo foi conduzido de maneira clara e sem maiores questões na assembleia, que acabou elegendo um conjunto de conselheiros muito sólido e com conhecimentos diversos”, disse.

A partir de agora, o foco está em verificar se as teses de destravamento de valor na mineradora vão se confirmar, disse.

“É um modelo diferente do que usamos no passado, que sempre foi de controle ou cocontrole [das empresas investidas], mas dado o tamanho da companhia tivemos de escolher um caminho de trabalho em conjunto e alinhamento de objetivos com outros acionistas. Temos de ver se esse modelo vai funcionar”, acrescentou.

Desinvestimentos

A Cosan manterá uma postura de ativa de gestão de seus investimentos, avaliando a venda de fatia ou da totalidade de suas participação em controladas, bem como de ativos dessas empresas que não façam mais tanto sentido estratégico para o negócio, indicou Guimarães.

No caso da Compass e da Moove, empresas de gás e energia e de lubrificantes do grupo, a posição é a de deixar as empresas “sempre prontas” para a chegada de novos sócios, seja via mercado tradicional, com uma oferta inicial de ações (IPO), seja através de uma operação privada.

“Dada a qualidade desses ativos, estamos confiantes de que no momento certo vamos estar preparados”, afirmou o executivo.

Dentro das companhias, afirmou Guimarães, a discussão mais relevante diz respeito à monetização de ativos que teriam mais valor para terceiros, contribuindo para melhorar a estrutura de capital do grupo ou fazer frente a novos investimentos.

“Vamos gerar recursos adicionais através de desinvestimentos, seja atraindo sócios nas empresas debaixo [do guarda-chuva da holding] ou vendendo ativos de maneira total ou parcial, da mesma forma que já fez”, comentou.

Na Commit, joint venture entre Compass e Mitsui que assumiu as distribuidoras de gás canalizado que pertenciam à Gaspetro, a meta é vender o quanto antes as cinco distribuidoras do Nordeste. Há condições precedentes, como a cisão dos ativos, que não dependem somente da Cosan, mas a ideia é concluir esse desinvestimento ainda em 2023, conforme o presidente do grupo.

Reajuste da Petrobras

A primeira leitura do comunicado da Petrobras sobre a nova política de preços para gasolina e diesel indica que a estatal “está indo no caminho certo”, com orientação ao mercado, na avaliação de Guimarães. A Cosan controla, ao lado da Shell, a Raízen, umas das maiores distribuidoras de combustíveis no país e é o principal produtor de etanol.

“Na nossa leitura, o que a Petrobras vai fazer é competir com a melhora oferta de cada pacote. É a maneira correta de olhar o assunto”, afirmou, em teleconferência com analistas para comentar os resultados da Cosan no primeiro trimestre.

Em relação a uma política de preços para o gás natural, o executivo lembrou que o novo titular do Ministério de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, entende a relevância de ampliar esse mercado no país. O desafio será transformar esse potencial em uma política de preços que atraia mais investimentos para o setor, ponderou.

“No nosso ponto de vista, tem de ter orientação ao mercado, senão não vai estimular investimentos”, afirmou, acrescentando que a construção de infraestrutura para distribuição e transporte do insumo também é essencial.

Na avaliação do executivo, ainda é cedo para dar alguma opinião sobre o novo arcabouço fiscal, que foi detalhado ontem à noite, mas é melhor “ter qualquer tipo de bússola do que ficar no vazio”. “É uma evolução positiva”, comentou.

Uma das principais preocupações em relação ao novo governo, indicou Guimarães, reside na segurança jurídica. “Reabrir questões do passado, sobretudo tributárias, vai gerar insegurança”, disse.

Em decisão recente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) excluiu benefícios fiscais do ICMS na base de cálculo do IRPJ e CSLL, o que afeta duas controladas do grupo, Compass (Comgás) e Moove. Por causa da decisão, a Cosan reconheceu uma provisão de R$ 1,5 bilhão no primeiro trimestre, com contribuição decisiva para o em prejuízo líquido de R$ 904 milhões registrado no intervalo.

De acordo com o vice-presidente financeiro e diretor de relações com investidores da holding, Ricardo Lewin, ainda não há efeito caixa neste momento. “Não há perda, mas sim deixa de existir um crédito adicional que a gente tomava. Considerando Compass e Moove, o impacto seria de R$ 200 milhões por ano em cada empresa, e menor na Cosan”, comentou.

O executivo ponderou que o acórdão do STJ ainda não é conhecido, o que dificulta a análise do teor da decisão. A Cosan, acrescentou, seguirá defendendo a tese de que a subvenção é válida.