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Rumo (RAIL3) é uma das várias empresas que aproveitarão o “boom” das ferrovias – veja as outras

24.11.2022 | | Notícias do Mercado

Fonte: Trade Map
Data: 23/11/2022

O “boom” das ferrovias deve gerar oportunidade de crescimento não só para empresas do setor, como a Rumo (RAIL3), mas também para aquelas que também usam trens para transportar produtos, como as exportadoras de commodities.

Em dezembro de 2021 foi publicado o novo marco legal de ferrovias, que permite a entrada de investimentos privados na construção de novos trilhos, no aproveitamento de trechos ociosos e na prestação do serviço de transporte ferroviário por meio do modelo de autorizações.

Sob este modelo, o setor privado pode construir e operar ferrovias, ramais, pátios e terminais ferroviários por um processo mais rápido e menos burocrático que o das concessões.

Após a regulamentação do programa, mais de 95 empresas enviaram propostas somando um montante de R$ 295 bilhões em investimentos previstos, o que refletiria em um aumento de cerca de 77% dos trilhos já existentes.

Para a Rumo, este incentivo pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, a empresa deve expandir as rotas e elevar o volume transportado. Por outro, a entrada de novos concorrentes pode pressionar as margens.

A companhia parece estar vendo o copo meio cheio. Dos 27 pedidos de autorizações ferroviárias aprovados pelo governo até setembro, pelo menos três eram da Rumo. Além disso, a empresa aguarda a aprovação do governo para seis outras solicitações.

Para as empresas agrícolas e exportadoras de commodities, que costumam despachar produtos para os portos usando trens quando as cargas são de grande volume, a expansão da rede ferroviária também deve ser benéfica, resultando em menor custo e maior eficiência.

Outro efeito positivo do transporte ferroviário é o ambiental, uma vez que ele é menos poluente que o rodoviário. Cerca de 95% dos gases causadores do efeito estufa emitidos no Brasil vêm de carros e caminhões, enquanto só 5% vem de trens. A fatia do transporte hidroviário nesta conta é virtualmente nula.

O uso de ferrovias é pouco disseminado no Brasil – representa apenas um quinto do transporte no país. No entanto, o Ministério de Infraestrutura projeta que as ferrovias passem a ser 36% da matriz de transportes até 2035, podendo chegar à 47,2%.

Essa expansão pode esbarrar em alguns obstáculos, como a falta de infraestrutura logística, como galpões para descarregar as cargas, e alta taxa de juros, de 13,75% ao ano.

O tempo extra no desenvolvimento da malha ferroviária seria bom para algumas empresas, como por exemplo a Randon (RAPT4) e a Vamos (VAMO3), que terão que se adaptar à transição, uma vez que a menor quantidade de caminhões em circulação pode impactar negativamente o volume de vendas.

Rumo aos trabalhos

A Rumo Logística, que faz parte do grupo Cosan (CSAN3), é uma das empresas que claramente vai aproveitar as regras mais flexíveis do governo para o setor ferroviário.

No início de novembro, a empresa anunciou um investimento em torno de R$ 4 bilhões para a construção da primeira fase do terminal de carga no Mato Grosso, que deve ser concluída no primeiro trimestre de 2026.

Até o terceiro trimestre, a empresa não havia demonstrado apetite para investir. Na verdade, a Rumo tinha investido menos que entre janeiro e setembro do ano passado.

O que mudou de setembro para cá é que o caixa da empresa será reforçado com R$ 1,4 bilhão vindos da conclusão da venda de 80% de sua participação na controlada Elevações Portuárias (ESPA).

Esse valor se soma ao que já era um nível confortável de caixa ao fim do terceiro trimestre, de R$ 7,5 bilhões – suficiente para a empresa honrar todas as dívidas até 2027.

Um caixa mais robusto permite maior flexibilidade para a empresa alocar recursos. Portanto, a Rumo deve aproveitar as oportunidades e focar em investimentos para expansão das rotas. Isto elevaria a capacidade de volume transportado, refletindo em maiores receitas futuras para empresa.

A Rumo, porém, deverá enfrentar maior concorrência, uma vez que outras empresas poderão entrar na disputa. Isto elevaria a competitividade do setor e poderia diminuir as margens de lucro.

Apesar desta possibilidade, a expertise da Rumo no setor pode trazer vantagens para melhor se posicionar no mercado e fazer investimentos mais precisos. Portanto, a empresa sairia na frente das concorrentes, podendo gerar retornos mais atrativos.

Outros setores que podem surfar a onda

Os maiores beneficiados fora do setor de logística devem ser os exportadores de commodities, como Vale (VALE3), Gerdau (GGBR3), Petrobras (PETR4), além das empresas dos setores agrícolas – grandes consumidoras do transporte ferroviário.

Estas companhias devem se beneficiar do menor custo e maior eficiência para transportar seus produtos, refletindo em uma melhor rentabilidade.

Isto porque o transporte ferroviário é mais barato que o rodoviário, hoje o principal modal logístico. Os vagões utilizados para locomoção das cargas têm capacidade para levar quatro vezes a carga de um caminhão.

Por exemplo, um trem com 120 vagões suportaria a carga de 480 caminhões, reduzindo a dependência do custo de combustível e permitindo maior eficiência e segurança.

Além disso, o custo do transporte rodoviário também deve diminuir, uma vez que os trajetos feitos pelos caminhões devem ter distâncias menores, reduzindo o custo com combustíveis.

Sob a mesma lógica, os segmentos que precisam importar matérias-primas ou produtos também podem se beneficiar dessas vantagens.

O varejo de eletrodoméstico por exemplo, podem apresentar rentabilidade maior ao reduzir os custos dos fretes. Portanto, o consumidor final também pode ser beneficiado por menores preços.

Outra empresa que pode ser beneficiada pela expansão da malha ferroviária é a Randon (RAPT4), que oferece implementos e veículos para transporte de carga. A empresa atua com a fabricação de vagões e pode ver a demanda pelos produtos crescer e as vendas acelerarem.

Por outro lado, a principal receita da empresa é advinda da venda de semirreboques para caminhões e autopeças. Isto é: a menor quantidade de caminhões em circulação poderia afetar negativamente o volume de vendas da empresa, que teria que se readaptar ao cenário.

Quais podem sofrer maiores impactos?

Como nem tudo são flores, algumas empresas podem ter que se adaptar ao novo cenário de transporte brasileiro. Empresas como Vamos (VAMO3) e JSL (JSLG3), do setor de locação de caminhões, terão que lidar com o aumento na concorrência, mesmo que indireto.

Isto porque as empresas podem optar pelo transporte ferroviário não só pelo menor preço, mas também, pelo benefício ambiental proporcionado pelos trens.

Uma alternativa para equilibrar a competitividade do setor é a utilização de caminhões elétricos ou movidos a gás, que a Vamos já vem adquirindo.

Apesar da menor autonomia do veículo elétrico, isto pode não ser um problema, já que o percurso para os caminhões deve ser mais curto após implementação das novas rotas ferroviárias.

Outro segmento que pode sentir um impacto negativo na receita são os de infraestrutura rodoviária, como a CCR (CCRO3). Estas empresas ganham dinheiro por meio de concessões rodoviárias, o famoso “pedágio”.

Então um menor volume de caminhões passando nos pedágios deve reduzir as receitas operacionais. Além disso, a menor necessidade de investimentos em infraestrutura poderia diminui a receita vinda de construções.

É claro que ainda é cedo, o programa do governo para as ferrovias ainda está no início e deve levar algum tempo para surtir efeito sobre as empresas. Além disso, a ampliação do transporte ferroviário não exclui a necessidade do transporte rodoviário.

Mesmo com a ampliação da rede de trilhos, os caminhões ainda serão altamente importante para a logística, o que torna os negócios destas empresas ainda atrativos.

Vale ressaltar que a análise é baseada em uma primeira impressão sobre o impacto da evolução do transporte ferroviário. Para melhor avaliação é necessário incluir outros fatores, como ambiente financeiro, corporativo e econômico em que a empresa está inserida.