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Trem para o aeroporto: verdades e mitos

04.02.2020 | | Notícias do Mercado

 

Jurandir Fernandes*

Clodoaldo Pelissioni*

Inaugurada em 2018, a ligação ferroviária entre o centro de São Paulo e o Aeroporto de Guarulhos, feita pela Linha 13 da CPTM, tem sido criticada – inclusive por esta Folha – por chegar apenas ao Terminal 1 do campo de aviação. Por que o trem não avança até os Terminais 2 e 3, que concentram o maior volume de passageiros? Difunde-se a ideia de que o Governo do Estado de São Paulo, então comandado por Geraldo Alckmin, fez o serviço pela metade, por falha de projeto ou simples incúria. É uma versão distorcida dos fatos, que confunde responsabilidades e exige correção.
Desenvolvido entre os anos de 2002 e 2012, o projeto do governo paulista previa que a Estação Aeroporto fosse localizada na entrada do Terminal 2. Ele teve licenças aprovadas em mais de 20 órgãos municipais, estaduais e federais. Em particular, obteve-se o aval da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), órgão federal competente para autorizar as obras espaço aeroportuário .
A situação se transformou em 2012, na concessão do Aeroporto de Guarulhos pelo governo Dilma Rousseff. O consórcio vencedor foi o GRU Airport, que tem 51% das ações nas mãos de investidores privados e 49% nas mãos da estatal Infraero. Nas contas do grupo, o local destinado à estação de trem deveria ser usado para um shopping, cujas receitas ajudariam a pagar o investimento.
Numa série de reuniões capitaneadas pela Infraero, o governo paulista foi informado de que deveria alterar o projeto da linha ferroviária, deslocando a estação para a vizinhança do Terminal 1. Em contrapartida, a GRU Airport se comprometia em construir um monotrilho entre a estação de trem e os movimentados Terminais 2 e 3. Esboços foram apresentados. Um deles previa, inclusive, uma segunda plataforma ferroviária para o trem de alta velocidade entre São Paulo e Rio de Janeiro que o governo Dilma sonhou em implantar.
Para o Governo do Estado, a mudança do local da estação foi má notícia. A começar pelos custos do redesenho, bancados pelos cofres paulistas. Mas seguir em frente era a única opção. A despeito da importância da Estação Aeroporto, ela não é a única razão de ser da Linha 13, que deve ser vista no contexto da integração São Paulo-Guarulhos por meio do transporte público. Os estudos da linha já preveem expansão para regiões de rápido crescimento populacional em Guarulhos, como o Bairro dos Pimentas. Como todas as linhas da CPTM, a 13, que já transporta cotidianamente cerca de 15 mil passageiros. está destinada a evoluir para o atendimento diário a centenas de milhares de pessoas.
A Estação Aeroporto pode se transformar na opção cômoda de chegada ao aeroporto que deve ser? A primeira solução está no cumprimento da promessa de entrega do monotrilho pela GRU Airport. O governo federal e a concessionária anunciaram que as obras terão início neste ano. É preciso cobrar essa realização.
Do lado paulista, é possível ampliar a frequência dos trens ligando o centro de São Paulo ao aeroporto. Hoje, a Linha 13 oferece três serviços: um que parte da Estação Engenheiro Goulart, na Zona Leste; o Expresso, que parte da Estação Luz; e o Connect, que leva do Brás ao Aeroporto. Esse último tem o maior potencial de atendimento a passageiros. Para tanto, é necessário adaptar o sistema dos trens. Uma tarefa delicada, por envolver a segurança de quem viaja, mas não um desafio insuperável. Não há por que adiar sua solução.

*Ex-secretários dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo

 

Fonte: Folha SP

Data: 02/02/2020