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Vale abre vantagem como companhia mais valiosa da América Latina

29.04.2021 | | Notícias do Mercado

Valor Econômico - 28/04/2021

 

Valor Econômico — Foto: Imagem Valor Econômico

Impulsionadas pelos preços elevados do minério de ferro e a divulgação de um balanço sólido com forte geração de caixa, as ações da Vale atingiram novo recorde no pregão de ontem e agora sustentam a cotação de R$ 110 por papel. Essa disparada, que prevalece desde o ano passado, abre a vantagem da empresa no ranking das companhias mais valiosas da América Latina.

Para efeito de comparação, a Vale tomou a liderança da região em 23 de fevereiro deste ano e o valor de mercado da mineradora está atualmente em US$ 103,8 bilhões. Com isso, ela supera, de longe, o valor de Mercado Livre (US$ 80 bilhões), WalMart México (US$ 56,9 bilhões), Petrobras (US$ 54,8 bilhões) e America Movil (US$ 48,5 bilhões), de acordo com levantamento da Economática a pedido do Valor.

O bom desempenho da mineradora acompanha o salto no preço de seu principal produto de exportação: o minério de ferro, que saiu do patamar de US$ 100 por tonelada em meados do ano passado e agora já se aproxima da marca de US$ 200 por tonelada.

Analistas e gestores enxergam espaço para ganhos adicionais das ações da Vale, devido ao cenário para commodities

Além disso, o impulso conta, ainda, com a forte geração de caixa e poucas dívidas no balanço da companhia, o que permite distribuição de dividendos ou programas de recompra de ações. Também entram nessa conta os acordos firmados com as vítimas da tragédia de Brumadinho (MG), o que reduz os riscos jurídicos da companhia.

Com isso, é possível perceber o longo caminho percorrido desde janeiro de 2019 quando houve o rompimento da barragem que tirou a vida de centenas de pessoas. Na época, de um pregão para outro, as ações da Vale sofreram um tombo de 25%, de R$ 50 para a cotação de R$ 38. Dois anos depois, em fevereiro de 2021, o governo de Minas Gerais e a Vale fecharam acordo de R$ 37,6 bilhões para compensar danos da tragédia de Brumadinho. Agora, as ações se recuperaram e já atingem novos recordes.

Considerando o universo das ações da bolsa brasileira, o valor de mercado da Vale atinge a marca de R$ 581 bilhões – quase o dobro da Petrobras, segunda maior empresa brasileira na bolsa, com valor de R$ 298 bilhões. Itaú Unibanco, Ambev e Bradesco completam, nesta ordem, as cinco maiores empresas em valor de mercado da bolsa brasileira. Só neste ano, as ações sobem 31,42%.

De acordo com dados do Valor Data, a Vale tomou a posição de liderança em valor de mercado em definitivo a partir de junho do ano passado. Antes disso, há períodos de alternância com Petrobras em alguns dias do começo do ano passado.

Todo esse movimento também tem sido acompanhado por um aumento significativo no volume de negociação das ações na bolsa. Nos seis primeiros meses de 2020, por exemplo, o giro médio dos papéis da Vale dificilmente superava R$ 1,5 bilhão por dia. Já agora, em abril de 2021, o volume médio por dia vai além de R$ 2,2 bilhões.

Ontem, por exemplo, as ações da mineradora fecharam em alta de 1,43%, cotadas a R$ 110,12, com giro de R$ 2,6 bilhões, após a divulgação do balanço do primeiro trimestre.

Os resultados vieram dentro do esperado pela maioria dos analistas, ao registrarem um salto de nada menos que 2.200% no lucro no primeiro trimestre deste ano, para US$ 5,546 bilhões, na comparação com igual período do ano passado. No entanto, para boa parte dos analistas, o desempenho robusto refletiu mais a alta do preço do minério de ferro do que o comportamento operacional da Vale no período.

“Os preços mais fortes no segmento de minério de ferro compensaram parcialmente os menores volumes de vendas”, explicam, em relatório, os analistas Yuri Pereira e Thales Carmo, da XP Investimentos. Já os analistas da Ativa Investimentos, Pedro Serra e Ilan Abertman, explicam que o ritmo de volume produzido e vendido apresentou um desempenho mais fraco na comparação trimestral, devido a fatores climáticos sazonais do início do ano.

Ainda assim, analistas e gestores ainda enxergam espaço para ganhos adicionais das ações da Vale, devido ao cenário global positivo para commodities e o desconto dos papéis da mineradora brasileira em relação aos pares globais. Para o estrategista-chefe da Guide Investimentos, Luís Sales, o desconto ao redor de 30% da ação da Vale em relação aos principais pares não se justifica. “O cenário para o minério de maior qualidade [teor 65%] segue melhorando”, ressalta.

Na mesma linha, os analistas Caio Ribeiro e Gabriel Galvão, do Credit Suisse, afirmam que os múltiplos de EV/Ebitda – métrica que calcula quantas vezes vale uma empresa em relação ao seu lucro operacional – da mineradora brasileira estão “excessivamente decontados”. Nesse caso, a ação da Vale opera atualmente com múltiplo de 2,6 vezes, ante a média de 4,1 vezes das empresas australianas. “Acreditamos que as precificações da Vale ainda são muito atraentes para os investidores ignorarem e vemos fortes rendimentos de dividendos, aumento das remessas e redução de custos futuros”, dizem.

De certa forma, o que ainda pesa na companhia brasileira é o cenário macroeconômico local. “As ações brasileiras estão mais baratas em relação às contrapartes globais por causa do prêmio de risco macroeconômico, devido a preocupações sobre a sustentabilidade da dívida pública”, afirma o estrategista-chefe de mercados emergentes do BCA Research, Arthur Budaghyan. Segundo ele, levando-se em conta os múltiplos, as ações brasileiras de bancos e relacionadas às commodities, em especial a Vale, parecem “mais baratas” do que os pares globais.

Ainda assim, os sinais vindos da empresa seguem animando os investidores. “A execução do plano de retomada de produção tem sido impecável e isso passa confiança ao mercado de que esses volumes serão atingidos. Além disso, os dados de geração de caixa, combinados com um baixo endividamento, trazem a perspectiva de dividendos elevados e planos agressivos de recompra, tanto de ações quanto das debêntures participativas”, diz Tiago Sampaio Cunha, gestor de ações da Grou Capital.