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Pandemia dobra crédito do BID para o Brasil este ano

28.04.2020 | | Notícias do Mercado

Aumento no país é maior que no restante da América Latina, onde recursos devem dobrar este ano

 

Morgan Doyle: “Este ano tem esse incremento enorme principalmente porque a gente entende que o BID pode ter uma ação contracíclica em momentos assim” — Foto: Divulgação

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) refez seus cálculos e prioridades para este ano e prevê que, em função da pandemia, o volume créditos a ser concedido a governos e a empresas na América Latina poderá chegar a cerca de US$ 15 bilhões. É quase o dobro do que estava sendo previsto antes da crise.

A previsão para o Brasil é que os recursos cresçam um pouco mais. Em 2019 o banco emprestou ao país US$ 1 bilhão. Para este ano, a estimativa era baixar o valor para US$ 880 milhões, mas, com as mudanças, o BID calcula que destinará US$ 2,2 bilhões ao Brasil.

Esse número pode ser maior, dependendo do avanço de alguns projetos estratégicos e também do remanejamento da carteira existente.

“O Brasil tem uma demanda financeira que vai muito além daquilo que a gente pode fazer”, afirmou o revela o representante da instituição no Brasil, Morgan Doyle, em entrevista ao Valor. “Mas temos, com certeza, alguns recursos que são relevantes para nossos parceiros e estamos trabalhando com eles para atender as suas necessidades de liquidez neste momento.”

Doyle não detalhou novas negociações que eventualmente estejam em curso com países da América Latina. Atualmente, está nas mãos de governos e de empresas no Brasil um total de US$ 10,3 bilhões em créditos concedidos pelo BID e a instituição trabalha para que parte desses recursos possam ser redirigidos para áreas relacionadas à urgência do coronavírus.

Doyle disse que a direção do banco definiu quatro grandes áreas relacionadas à crise que passaram a ter destaque na política de concessão de financiamentos.

A primeira área diz respeito ao atendimento a populações mais pobres, cujo fardo da redução da receita tem um efeito particularmente dramático. “A crise vai ter uma série de consequências graves para essas populações”, disse.

A segunda área diz respeito a projetos e iniciativas ligados à saúde. Podem ser pacientes em UTI com quadros mais agudos de covid-19, ou relacionados a equipamentos de proteção pessoal ou ainda a projetos ligados a pesquisas.

Outra frente do BID é a proteção das empresas e, consequentemente, dos empregos, neste momento de retração econômica global. A ideia é ajudar as empresas a não entrarem em processos de insolvência e, assim, manterem a maior parte possível do seu quadro de trabalhadores.

“Uma quarta área tem a ver com a política fiscal, com a sustentabilidade no longo prazo”, disse o executivo do BID, referindo-se às contas dos Estados e à pressão por mais gastos com saúde.

“Há uma necessidade grande de fazer gastos extraordinários para atender a essa situação no momento em que se tem uma queda enorme de arrecadação. Isso traz uma série de desafios”, disse, acrescentando que o banco, com seus mais de 60 anos de operação, tem expertise para colaborar na definição de planejamentos fiscais.

Puxado por essas quatro prioridades, o banco prevê um salto no volume de desembolsos de empréstimos este ano.

“De modo geral, o banco vai quase duplicar seus desembolsos, que podem chegar a US$ 15 bilhões este ano a para toda a América Latina”, afirmou Doyle.

Ele disse que as cifras e os projetos ainda estão sendo avaliados, mas que esse é o valor que norteia as expectativas. Em 2019, o volume total de desembolsos para América Latina e Caribe foi de US$ 8,9 bilhões.

“Este ano tem esse incremento enorme principalmente porque a gente entende que o BID pode ter uma ação contracíclica em momentos assim, e esse é parte do nosso papel”, disse Doyle.

Ele diz que uma das vantagens do banco – dirigido pelo colombiano Luis Alberto Moreno – é o fato de ser uma entidade triple A em termos de avaliação de risco de crédito, mesmo neste momento de turbulência. “A gente pode acessar os mercados globais de uma forma vantajosa neste momento e essa é a razão de ser do BID:

O BID financia, segundo informa sua página na internet, 583 projetos com garantia soberana em países da América Latina e Caribe. O Brasil aparece no topo da lista, com 79 projetos.

Doyle disse que a direção do banco não leva em conta na hora da concessão de créditos – para a enfrentamento da pandemia – as posições que presidentes ou governadores de Estado adotam em relação às políticas de isolamento social.

Na região, o presidente Jair Bolsonaro tem sido o crítico mais visível dessas políticas – posição que, por um tempo, chegou também a ser adotada pelo presidente do México, Manuel López Obrador.

“Isso não é assunto para opiniões pessoais de minha parte e não tem nenhum impacto sobre o acesso dos nossos países parceiros ao BID como fonte de recursos”, disse.

 

Fonte: Valor

Data: 27/04/2020