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Qual é o potencial da malha ferroviária de passageiros do Brasil?

22.08.2022 | | Notícias do Mercado

Fonte: BN Américas
Data: 18/08/2022

As redes brasileiras de transporte de passageiros poderiam crescer significativamente se o governo federal se envolvesse mais na criação de planos de longo prazo.

Até agora, o transporte de passageiros é organizado pelos governos locais, mas são necessárias regulamentações para conectar melhor os estados e desenvolver mecanismos de financiamento.

Joubert Flores, presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), conversa com a BNamericas sobre o potencial de novos projetos, a demanda de passageiros depois da pandemia e as solicitações que os players do setor fizeram aos candidatos presidenciais antes das eleições de outubro.

BNamericas: O que os players do setor esperam dos candidatos à Presidência?

Flores: Nosso principal objetivo com nossas demandas é fortalecer o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, que ainda é um segmento pequeno se compararmos com o tamanho da população do país. A participação do governo federal no planejamento e nas medidas relacionadas ao setor sempre foi baixa, e isso precisa mudar.

Diante disso, encaminhamos quatro propostas aos candidatos. Essas propostas estão relacionadas com a formulação de um marco legal para o setor, uma política de financiamento do transporte público, a criação de reguladoras metropolitanas de transporte público e um plano nacional para o desenvolvimento do transporte ferroviário de passageiros.

BNamericas: É preciso ter um regulador para o transporte ferroviário de passageiros?

Flores: Uma das razões para o baixo nível de desenvolvimento da nossa estrutura de mobilidade urbana é o fato de que não temos uma entidade estatal voltada para o setor, desenvolvendo planos de longo prazo. Uma entidade com poderes mais amplos poderia definir a integração de linhas de trem entre cidades e entre estados.

Além disso, a falta de uma entidade para estabelecer planos de longo prazo dificulta a elaboração de projetos e a busca por fontes de recursos para [projetos em] localidades com pouco apelo econômico. Também do lado do financiamento, temos muito pouca contribuição do governo federal.

BNamericas: Ainda assim, alguns projetos estão avançando. Qual é o potencial desses projetos?

Flores: Temos projetos de PPP e concessões muito bons no setor, mas precisamos de mais.

Atualmente, temos apenas 1.100 km de rede ferroviária para passageiros no país e, desse total, só duas linhas são trens intermunicipais, enquanto países muito menores, como França, Espanha e Japão, têm uma série de linhas intermunicipais.

O governo federal precisa entender que investir no transporte por trilhos é economizar R$ 20 bilhões (US$ 3,84 bilhões) por ano, devido à redução do número de acidentes automobilísticos e dos níveis de poluição.

Temos projetos estruturados que podem ampliar nossa malha ferroviária. Seria realista pensarmos em aumentar a rede atual em mais 3.000 km.

BNamericas: E quais são os projetos mais avançados?

Flores: Há projetos avançados em termos de estruturação, como as linhas 19 e 20 do metrô de São Paulo, juntamente com a expansão das linhas 15 e 17. Há também o trem Intercidades, ligando São Paulo e Campinas, a linha 2 do metrô de Belo Horizonte e a linha 3 do Rio de Janeiro, que liga Niterói e São Gonçalo.

BNamericas: A participação do setor privado na operação dessas linhas vai aumentar?

Flores: Cerca de 50% da malha ferroviária de transporte de passageiros é operada por empresas do setor privado. Como a maioria desses projetos com realização prevista para os próximos anos é de concessões e PPPs, acredito que essa participação deva aumentar para 60%.

BNamericas: O setor já se recuperou da crise da pandemia?

Flores: Na pior fase da pandemia, a queda na demanda de passageiros foi de 80%. Hoje, temos um volume de passageiros transportados por dia ainda 35% menor do que tínhamos antes da pandemia, quando o segmento transportava 11 milhões por dia.

Do começo da pandemia até agora, o setor todo acumulou um prejuízo financeiro de R$ 17 bilhões, mas a fase mais crítica já passou. Agora, passo a passo, estamos voltando à demanda que tínhamos antes.