17.11.2025 | ABIFER | Notícias do Mercado
Fonte: Estadão Data: 14/11/2025
Um levantamento feito pela consultoria Deloitte e pela plataforma de investimentos Capital For Climate calculou que ao menos US$ 10,7 bilhões devem ser investidos no Brasil até 2027 para soluções baseadas na natureza (SBNs), que adotam o ciclo natural das plantas como forma de diminuir as emissões de gases que causam o aquecimento global.
Entre as soluções baseadas na natureza estão ações como o plantio de agroflorestas, a recuperação de pastagens degradadas, a integração lavoura-pecuária-floresta e a conservação de áreas que ainda tem os biomas intocados. Também há soluções para adaptação às mudanças do clima, como, por exemplo, permitir maior circulação de ar e de luz natural em edifícios como formas de economizar energia, ou utilizar árvores como forma de baixar a temperatura no solo e diminuir a velocidade da água de uma correnteza.
No estudo, os autores ouviram instituições financeiras e fundos institucionais para entender se investiriam em SBNs no período e qual seria o valor desses investimentos. A expectativa era de no mínimo US$ 5 bilhões, considerado o necessário para dar tração ao mercado, mas o número que eles estimaram acabou sendo mais que o dobro. Outros números trouxeram otimismo: US$ 3,91 bilhões já foram investidos desde 2022 e, do total de 10,7 bilhões, US$ 2,7 bilhões já foram investidos até agora em 2025 – o número corresponde ao dobro da soma do total investido em 2023 e 2024.
Além disso, o universo de investimentos pode ser ainda maior. Segundo os autores, houve instituições que não conseguiram responder a pesquisa, mas informaram posteriormente que pretendiam investir em SBNs. Há ainda outros alocadores de capital menores que não foram mapeados.
O Brasil é um mercado promissor devido às características geográficas, com bastante incidência de sol durante praticamente todo o ano e biomas altamente biodiversos, desde as florestas tropicais como Amazônia e Mata Atlântica até outros como Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal.
“O Brasil tem uma extensão territorial grande, tem uma agricultura pujante, tem muita pastagem degradada. Temos os insumos para fazer das soluções baseadas na natureza um mercado grande, uma agrofloresta pode crescer mais rápido aqui”, avalia Anna Lucia Horta, diretora executiva da Capital for Climate no Brasil.
Para os investidores, as SBNs também podem ser promissoras. Os fundos de capital privado e de capital de risco focados em SBNs reportaram um retorno médio de 21,4% ao longo de um período de aproximadamente 10 anos, enquanto instrumentos de crédito privado e dívida reportaram retornos médios de 12% ao longo de um prazo de vencimento de 6 anos. A rentabilidade pode variar, com agroflorestas que produzem commodities como cacau e café, créditos de carbono e créditos de biodiversidade tendo retornos ainda maiores.
Luiz Paulo Assis, sócio da Deloitte Brasil, explica como a eficiência das SBNs é melhor para o meio ambiente, mas também pode ser mais rentável para quem investir. “Mais eficiente do que deixar pastagem totalmente degradada é buscar soluções baseadas na natureza, através das quais se consegue fazer a recuperação daquele solo e efetivamente monetizar aquela terra, que hoje tem baixa produtividade ou não está sendo remunerada”, relata.
A partir de agora, a busca é por uma combinação entre os desejos dos investidores e as soluções. O que pode travar alguns dos investimentos são as faltas de garantias, já que boa parte dos investidores são naturalmente avessos aos riscos e as soluções, em alguns casos, dependem dos ciclos naturais. Há formas de garantir esses investimentos com seguros e uma assertividade maior no tipo de SBN que se busca.
“Tem gente que só quer um tipo de solução. Tem gente que tem um horizonte de tempo muito específico. E tem gente que só trabalha num bioma ou em outro”, cita Anna Lucia Horta, da Capital for Climate.
Outra preocupação é garantir que o investimento chegue na ponta, ou seja, que o dinheiro chegue também a pequenos e médios produtores que precisam dele e o aplicam de forma correta na preservação. O caminho para isso é a realização de due dilligence, uma investigação prévia, além de verificações e monitoramento constantes do que está sendo feito.
Também é necessário garantir a participação das comunidades tradicionais, como povos indígenas e ribeirinhos, e remunerá-los pelos conhecimentos que possuem e trabalhos que executam, na chamada “sociobioeconomia”. “Eles já têm a terra, eles já têm o know-how, eles já têm a mão de obra, que são eles mesmos”, resume Horta. Da mesma forma, buscar na biodiversidade, em plantas, animais, fungos e outras espécies novas soluções é uma forma de fortalecer os investimentos.
Luiz Paulo Assis, da Deloitte, reforça: a questão social não é subjacente, é parte do core business para projetos de investimento em soluções baseadas na natureza. “O engajamento do território pode definir o sucesso ou fracasso de um projeto. Se você não tiver o engajamento do território, esse projeto tem uma dificuldade maior para ser implementado”, diz.
O Brasil tem potencial para se tornar líder nesse campo, caso consiga fornecer as garantias. Ou, como colocam os pesquisadores, de desenhar o mapa do tesouro para países da África, da Ásia e da América do Norte, se tornando um exportador de tecnologias, com as devidas adaptações para as naturezas de cada região.
Um levantamento anterior da Capital for Climate, com informações do Instituto Potsdam, da London School of Economics e da ONG The Nature Conservancy, aponta que as SBNs podem reduzir as emissões em 35% com o custo de US$ 10 trilhões. Os outros 65% de emissões demandariam gastos muito maiores, de cerca de US$ 165 trilhões, para serem cortados.