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Brasil sobe no ranking dos destinos mais atrativos para o investimento estrangeiro

25.04.2024 | | Notícias do Mercado

Fonte: Valor Econômico

Ausente em 2023 pela segunda vez em 25 anos, o Brasil voltou à lista dos 25 países mais atrativos para o Investimento Estrangeiro Direto (IED) desenvolvido pela consultoria Kearney. O país alcançou a 19ª posição do top 25, seu melhor resultado desde 2017.

Entre as economias em desenvolvimento, o país subiu duas posições e foi considerado o quinto destino mais atraente, à frente do México e atrás apenas da China, dos Emirados Árabes Unidos, da Arábia Saudita e da Índia.

Para Mark Essle, sócio da Kearney no Brasil, a volta brasileira ao ranking é uma boa notícia, ainda que o país esteja longe do seu melhor resultado – entre as décadas de 2000 e o começo da de 2010, chegou a figurar em terceiro lugar. “Sumimos do mapa por causa de várias crises, mas devagar estamos novamente reaparecendo no contexto dessa fragmentação do comércio mundial, do olhar mais cuidadoso dos grandes investidores institucionais sobre onde querem alocar seus recursos”, diz.

O índice de confiança do IED da Kearney é construído com base em entrevistas com executivos de empresas de 30 países com receita anual superior a US$ 500 milhões, e lista mercados com maior potencial de atrair investimento direto nos próximos três anos. Em 2024, os participantes se mostraram mais propensos a ampliar seus investimentos nos próximos três anos: 88% afirmaram que pretendem fazê-lo, contra 82% em 2023.

“Assim como o restante das Américas, o Brasil se beneficia do fato de que está perto dos Estados Unidos, país cuja economia vai muito bem. Neste momento em que o ‘nearshoring’ [tendência das multinacionais de se deslocar para perto de suas matrizes] se fortalece, o IED costumar seguir de perto a dinâmica da disputa geopolítica”, diz Essle. “Ao mesmo tempo, o Brasil também tem relacionamento estreito com a China e com a Europa, consegue caminhar entre os três blocos sem se comprometer com nenhum e é importante que continue assim.”

Uma mostra da importância do contexto geopolítico e do receio sobre medidas protecionista são as mudanças na lista de prioridades que o investidor institucional tem ao pensar sobre onde deseja alocar seu investimento.

Na edição de 2024, eficiência regulatória e facilidade de mobilidade de capitais cresceram e ficaram entre os três interesses mais listados pelos participantes, com 15% e 14% de citações, respectivamente. Eles desbancaram questões como transparência regulatória (13%) e as taxa de juros (11%). A capacidade tecnológica e de inovação se manteve no topo dos interesses dos investidores, com 17% de citações.

Este último, no entanto, não é o caso brasileiro. “Quando olhamos com lupa, o interesse do investidor no Brasil está mais voltado a mineração, ao agronegócio, toda essa indústria de base atrai bastante investidor. A questão é: para não corrermos o risco de ter um novo voo de galinha, é preciso usar essa chance para viabilizar investimentos em infraestrutura e acompanhar essa maior demanda por exportação”, diz Essle.

O relatório cita a intenção, vocalizada pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, de que o país quer atrair R$ 180 bilhões em investimentos em rodovias e ferrovias nos próximos três anos. Além destes, o consultor cita a oportunidade de produzir bens com baixa emissão de carbono embutida.

“O Brasil é, entre os grandes países, aquele com matriz energética mais limpa. E a União Europeia já está introduzindo uma taxa sobre pegada de carbono dos produtos vendidos por lá. Isso vai transformar produtos com baixa pegada de carbono comparativamente mais baratos do que aqueles produzidos em países com matriz energética dependente de carvão, por exemplo”, explica. “Muito se fala sobre o Brasil exportar hidrogênio, mas o mais inteligente é mais inteligente usar essa mudança para agregar valor a produtos que já saem daqui, como transformar minério de ferro em aço ‘verde’, por exemplo.”

Entre os vizinhos, destaque para a Argentina, que voltou a figurar no ranking pela primeira vez desde 2013, na 24ª posição. “O governo Javier Milei tem prometido reformas para estabilizar finanças do país, o que atrai o investidor. E as oportunidades lá são parecidas com a do Brasil: a Argentina é muito rica em recursos naturais importantes para a transição energética, como o lítio. Se daqui 30 anos queremos ser emissão líquida zero de carbono, vamos precisar minerar mais do que em todo o restante da história da humanidade”, diz.

Os resultados mais gerais do ranking mostram que as atenções dos investidores permanecem no mundo desenvolvido. Além do Brasil e da Argentina, apenas seis países emergentes figuram no top 25 da Kearney. Os Estados Unidos se mantiveram no topo pelo 12º ano seguido. Já a China, que havia caído para a sétima colocação em 2023, retornou à terceira, ajudada pelo afrouxamento de controle de capitais que o governo em Pequim anunciou no segundo semestre.

Apesar disso, as economias emergentes se saíram melhor neste ano na comparação com o anterior. 84% dos respondentes disseram que planejam manter ou buscar novos investimentos nesses mercados, alta de três pontos percentuais em relação a 2023. “A entrada de México, Brasil e Argentina entre os 25 principais destinos é talvez uma reflexão sobre o crescente movimento associado ao ‘nearshoring’”, diz o relatório.

Data: 23/04/2024