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‘Novo’ BNDES agora atua em infraestrutura por meio de ofertas de debêntures

19.09.2023 | | Notícias do Mercado

Fonte: Valor Econômico
Data: 19/09/2023

Antes grande investidor direto em infraestrutura, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem mudado sua atuação no setor diante da expansão do mercado de capitais, que tem ocupado maior espaço no financiamento de companhias. Agora, a participação no setor se dá por meio da participação em ofertas de títulos de infraestrutura, seja na compra de parte dos papéis ou na coordenação das operações em trabalho conjunto com outros bancos.

A relação dos desembolsos diretos do BNDES em infraestrutura e as emissões desses títulos pelo mercado de capitais tem se estreitado, de acordo com levantamento consultoria FTI Capital Advisors, a partir dos dados da Anbima. Em 2016, o banco de fomento financiou R$ 37 bilhões, contra R$ 4 bilhões do mercado. Em 2019, houve uma inversão nessa curva, com R$ 34 bilhões no mercado e R$ 31 bilhões em desembolsos do BNDES. Dois anos mais tarde, as debêntures atingiram R$ 47 bilhões, enquanto a instituição financeira financiou cerca de R$ 30 bilhões. No ano passado, o banco desembolsou R$ 44 bilhões, enquanto os títulos de infraestrutura atingiram R$ 40 bilhões.

“O mercado de capitais dando funding para infraestrutura era muito baixo até um passado recente, depois vimos um crescimento”, afirma Ricardo Russo, chefe da área de infraestrutura de Pinheiro Neto Advogados.

O novo formato de participação, no entanto, veio acompanhado de críticas, especialmente após a operação da Aegea, em agosto deste ano. A companhia de saneamento captou R$ 5,54 bilhões em debêntures incentivadas. A demanda ultrapassou R$ 9,6 bilhões, o que provocou uma redução no spread. O BNDES ficou com cerca de R$ 1,9 bilhão em títulos, ajudando a puxar a remuneração para baixo. A primeira série, de 10 anos e meio, saiu com taxa de IPCA + 6,9%. A segunda, de 18 anos e meio, a IPCA + 7,2%. Os tetos iniciais eram de IPCA + 8,1% e IPCA + 9,3%, respectivamente.

Com o BNDES na operação, muita gente ficou de fora, segundo gestores críticos ao posicionamento do banco. Um deles calcula que cerca de 30% dos investidores que haviam manifestado interesse nas debêntures acabaram não ficando com os papéis.

O BNDES também quer ser coordenador das ofertas e já pediu registro na CVM”

— Natália Dias

Russo, contudo, vê esse movimento do BNDES como positivo, uma vez que na posição de investidor o banco de fomento poderá vender os títulos e fomentar o mercado secundário, já que o “tem um selo” em projetos de infraestrutura no país.

Entre os gestores de crédito, há também quem veja esse posicionamento como algo bom para o mercado. Como o BNDES é conhecido pela atuação técnica, emissões com a participação do banco tendem a ser bem recebidas, afirma um gestor que não quis ser identificado. “O fato deles entrarem uma operação ajuda na tomada de decisão de outros agentes”, destaca.

Ao Valor, Natália Dias, diretora da área de mercado de capitais e finanças sustentáveis do BNDES, afirma que o banco será mais ativo em debêntures, com uma participação em mais operações ainda este ano como investidor, apesar das críticas que recebeu do mercado financeiro na operação da Aegea. “O BNDES também quer ser coordenador das ofertas e já pediu registro na Comissão de Valores Mobiliários. Temos um ‘pipeline’ [operações em preparação] grande de infraestrutura.”

“No caso da Aegea, o banco já tinha se comprometido [com a oferta]. Há críticas de parte do mercado financeiro, que não vê com bons olhos a entrada do banco nessas operações”, afirma.

O banco também participou da operação da Iguá no fim de junho. A empresa de saneamento levantou R$ 3,8 bilhões e o BNDES ficou com R$ 1,8 bilhão. Nesse caso, as críticas não apareceram porque a demanda dos investidores foi bem menor. “Há um grande desafio para destravar projetos de infraestrutura e energia. O banco vai ter uma grande participação no PAC”, afirma Dias.

O banco de fomento coordenou ofertas que somaram R$ 6 bilhões no primeiro semestre. O valor alocado pela instituição foi de R$ 2,1 bilhões no período. Para o segundo semestre, o BNDES está formalmente engajado em ofertas de R$ 14 bilhões e tem outros R$ 5 bilhões em análise.

Para Luciano Lindemann, diretor-executivo sênior da consultoria FTI Capital Advisors, esse movimento do BNDES de participação como investidor é importante. “Sai a figura do BNDES patriarcal, de ser o provedor de capital, para virar investidor puro.”

Lindermann lembra que o banco tem a expertise de montar o “project finance” (financiamento de projetos) e no papel de investidor tem um outro papel estratégico “com o ‘funding’”.