05.02.2024 | ABIFER | Notícias do Mercado
Fonte: Metrô CPTM
Data: 04/02/2024
A concessão das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, assumidas pela ViaMobilidade, completou dois anos no final de janeiro. Com a expectativa de mudanças positivas no serviço, a empresa do Grupo CCR tem enfrentado um dos maiores desafios na operação de sua plataforma de mobilidade.
Para avaliar se a ViaMobilidade realmente obteve avanços na qualidade do serviço, o site recorreu à Lei de Acesso à Informação para obter dados oficiais sobre as linhas 8 e 9.
O objetivo desta matéria é, portanto, traçar um histórico da operação e manutenção e constatar a evolução do serviço.
Segundo o contrato de concessão, sete indicadores medem a qualidade da operação das linhas 8 e 9. A média ponderada destes sete indicadores são utilizados para a obtenção do Índice de Qualidade do Serviço Prestado (IQS) que é aferido de 0 (nota mínima) até 1 (nota máxima).
O site fez um artigo mostrando como a operação da concessionária é avaliada. Os sete indicadores são, resumidamente:
A Linha 8-Diamante teve melhorias na operação em 2023. O índice IQS médio para 2022 foi de 0,34 enquanto no ano de 2023 houve ascensão para 0,74. A linha 8 teve aumento em diversos indicadores, destacando-se o tempo médio de percurso na linha e a quantidade de acidentes reduzida.
Já na Linha 9-Esmeralda houve uma leve queda na qualidade do serviço prestado. Em 2022 o indicador IQS era de 0,56 e, em 2023, caiu para 0,54. Observa-se que alguns itens foram seriamente prejudicados como lotação no horário de pico, acidentes com passageiros e incidentes, indicador mais grave, que se mantém em níveis críticos desde o começo da concessão.
Fazendo a análise completa dos dados de operação observa-se de forma clara que os serviços das linhas 8 e 9 se inverteram. Antes a Linha 9-Esmeralda era tida como a melhor dos ramais de trens metropolitanos. Atualmente, na concessão da ViaMobilidade, a Linha 8-Diamante passou a ser a melhor linha em termos de qualidade de operação.
Para a medição da qualidade da manutenção são aferidos cinco indicadores que são submetidos a média aritmética. Os indicadores são:
Para melhor compreender as informações, o site fez um pequeno resumo destes indicadores.
DTT – Disponibilidade Técnica de Trens para atendimento do programa de Oferta de Trens nos Picos
O objetivo do indicador DTT é realizar o monitoramento da disponibilidade de trens pela manutenção durante os horários de pico.
O indicador estabelece que a disponibilidade ideal é de 99,43% de trens operacionais no horário de pico. Caso a manutenção ofereça menos do que 99,13% dos trens necessários para a operação em horário de pico, a nota da concessionária é zerada.
MRO1 – Indicador de Confiabilidade de Material Rodante
O objetivo deste indicador é medir a média de falhas operacionais da frota de trens. Para o cálculo deste indicador é feita a apuração da quilometragem total percorrida pelos carros dos trens dividido pelo número de falhas.
A meta de manutenção é de uma falha a cada 45 mil quilômetros rodados. A nota pode ser zerada se ocorrerem falhas com frequência menor à 40,5 mil quilômetros rodados.
MRO2 – Indicador de Confiabilidade de Material Rodante
Este item segue a mesma métrica estabelecida para o MRO 1, porém terá cálculos diferentes e realizados de forma automática pelo Sistema Informatizado de Gestão da Manutenção (CMMS) que deverá ser implantado futuramente.
As metas da concessionária são de elevação da qualidade ao longo do tempo. São estabelecidos três patamares para as três décadas de concessão. São considerados como valores ideais (nota 1) e valores críticos (nota 0):
EST1 – Regularidade das Estações
O objetivo do indicador EST1 é averiguar a conservação das estações, dos ativos e equipamentos, obtendo-se seu valor de disponibilidade para a operação.
A ideia do cálculo é medir o percentual do tempo de funcionamento de todos os equipamentos de todas as estações por mês. O valor ideal é de que 98,67% dos equipamentos estejam em pleno funcionamento. Se o valor foi abaixo de 98,24%, a concessionária é penalizada com a nota mínima.
EST2 – Regularidade das Estações
Segue a mesma metodologia do EST1, porém os dados são calculados diretamente pelo CMMS.
Os indicadores de disponibilidade em estações são mais rígidos. O ideal é uma disponibilidade de 99,3%, garantido-se uma nota máxima. O valor crítico é de 97,65%, ou seja, caso a disponibilidade seja menor do que este valor a nota atribuída será zero.
LIN1 – Regularidade dos Sistemas de Linha
O indicador LIN1 vai medir a disponibilidade dos equipamentos de eletrificação, via permanente e sinalização. Os cálculos serão realizados levando em consideração os tempos de atividade do sistema de sinalização, eletrificação e via permanente.
O valor ideal para a disponibilidade de sistemas nas linhas será de 99,65%. Caso o valor seja menor do que 99,54% a nota zero será atribuída.
LIN2 – Disponibilidade dos Sistemas de Linha
Seguirá a mesma lógica do LIN1, porém com os cálculos realizados automaticamente pelo CMMS. Os valores de cada subsistema deverão ser apurados.
Ao mesmo tempo, o valor para o atingimento da nota máxima será aumentado. A disponibilidade ideal será de 99,68%. A nota crítica será de 99,22%
FC – Confiabilidade de Dados
Este indicador foi criado para verificar se a concessionária está repassando dados precisos para o poder concedente. Para constatar este fato é necessário que se realize inspeções periódicas nas linhas.
Nas vistorias são medidas as não conformidades encontradas. Esses dados vão compor o FC que irá influir diretamente no IQM
IQM – Indicador da Qualidade da Manutenção
O IQM é utilizado para verificar a qualidade de manutenção das linhas. Para a obtenção deste valor será realizada a média entre os quatro indicadores DTT, MRO, EST e LIN.
O IQM1 deverá acrescentar o FC após a média para a obtenção do valor de qualidade da manutenção. Isto ocorre para evitar possíveis distorções de dados da concessionária.
Já no IQM2, os dados deixam de apresentar o FC, já que o CMMS deverá estar ativo e computará as falhas de forma automática.
Os dados de IQM serão somados ao IQS para obtenção do Coeficiente de Mensuração de Desempenho da Concessão (CMD).
Os indicadores de manutenção da Linha 8-Diamante evoluíram de forma significativa. Em 2022 foi apurado nota média de 0,31 para o IQM. Já em 2023 os dados apontaram impressionantes 0,94 de nota média.
Indicadores como a confiabilidade do material rodante, regularidade de sistemas e confiabilidade de dados influíram positivamente no aumento da qualidade.
Na Linha 9-Esmeralda os indicadores de manutenção sofreram uma pequena queda. Em 2022 foi apurado o valor de 0,93 enquanto em 2023 foi apurado o valor de 0,92.
Os valores que impactaram negativamente foram a regularidade de sistemas da linha, que sofreu uma forte queda em fevereiro de 2023.
Em geral é possível ver que até mesmo no quesito manutenção a Linha 8-Diamante está apresentando níveis melhores do que a Linha 9-Esmeralda. As recentes falhas e a pressão constante do sistema sobre o trecho mais demandado da concessão gera impactos intensos nas notas obtidas.
O CMD é o Coeficiente de Mensuração de Desempenho da concessão. Este dado é obtido através da média ponderada do IQM e IQS das Linhas 8 e 9 com base na quantidade de passageiros transportados por cada ramal.
O CMD tem impacto direto na receita auferida pela concessionária. O indicador tem peso de 12% na receita operacional que a ViaMobilidade recebe do governo. Portanto, manter este indicador em alta é importante para o sucesso financeiro da operação.
Os dados oficiais do governo apontam: A ViaMobilidade teve melhoria de aproximadamente 120% na qualidade da concessão comparando ao período 2022 com 2023. O CMD subiu de 0,35 em 2022 para 0,77 em 2023.
Percebe-se que os principais fatores que influenciaram a elevação do serviço foi o foco na operação e manutenção da Linha 8-Diamante. Neste sentido a concessionária priorizou os maiores problemas e conseguiu obter bons indicadores gerais.
Apesar dos números surpreendentes que a concessionária obteve, uma coisa não mudou: a reputação da empresa perante à sociedade continua em níveis baixos.
É inegável. Desde o início da concessão a ViaMobilidade não conseguiu pontuar no indicador de satisfação do passageiro. Um fator, que parece isolado, pode afetar diretamente a visão do passageiro sobre o serviço: Os Incidentes.
Apesar de não serem itens graves, os incidentes são os maiores geradores de insatisfação. Eles dão impressão de que a empresa não consegue operar bem as linhas. Viagens demoradas, trens evacuados por defeitos, etc. Tudo isso impacta no serviço.
A concessionária pode comemorar em parte o crescimento dos indicadores. Atualmente ela deverá sanar os problemas mais graves que são relacionados à estabilidade da operação de forma duradoura e, sobretudo, obter a resolução para sua reputação.
A ViaMobilidade, de certa forma, acendeu um sinal de alerta em parte da população que hoje questiona se o modelo de concessões é realmente o melhor para o transporte. Caberá à própria concessionária provar, com ações, se essa visão está correta ou equivocada. Esse é seu maior desafio.
