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Fazenda pressiona Transportes por acordo com Vale para garantir R$ 10 bi de ferrovias e fechar contas

05.08.2024 | | Notícias do Mercado

Fonte: Folha de S.Paulo
Data: 02/08/2024

Ministério da Fazenda cobrou do ministro dos Transportes, Renan Filho, a entrega até o final do ano de R$ 10 bilhões de receitas com a revisão de contratos de concessões de ferrovias.

Os recursos são chave para ajudar no cumprimento da meta fiscal de déficit zero e para evitar um novo congelamento até o final do ano nos moldes dos R$ 15 bilhões anunciados no mês passado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O tema foi discutido há alguns dias pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, em encontro com Renan e o secretário-executivo dos Transportes, George Santoro.

No encontro, Renan pediu que o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, entrasse em campo com o seu peso político para o fechamento de um acordo com a mineradora Vale que possibilite o pagamento à vista até o final do ano da revisão de contratos com a companhia.

Em troca, a negociação pode incluir mudanças regulatórias, como regras de saturação da malha ferroviária, para que a empresa pague uma parcela maior à vista.

Haddad disse a interlocutores ouvidos pela Folha que ele colocou o ministério à disposição de todos os atores envolvidos para conseguir destravar o acordo entre a Vale e o Ministério dos Transportes.

A revisão da concessão é referente a uma cobrança total de R$ 27,5 bilhões que o Ministério dos Transportes fez à mineradora em relação a outorgas não pagas na renovação antecipada dos contratos das EFC (Estrada de Ferro Carajás) e da EFVM (Estrada de Ferro Vitória a Minas) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Pessoas a par das tratativas dizem que as negociações avançaram. O próprio ministro Renan Filho afirmou publicamente, em junho, que as conversas com a Vale estão maduras.

O acordo com a Vale pode resultar num valor menor, de cerca de R$ 20 bilhões, mas uma parte deve ser em investimentos que a empresa se compromete a fazer nas ferrovias.

Descontada essa parcela, há uma expectativa de que entre R$ 16 bilhões e R$ 17 bilhões fiquem com o caixa do governo, ainda sem uma data definida para pagamento.

A Fazenda e os Transportes querem acelerar o processo para que a Vale pague o maior valor possível até o final deste ano, com o objetivo de reforçar o caixa do governo.

A meta é usar os esperados aportes da Vale e outras negociações menores para conseguir pelo menos R$ 10 bilhões em 2024 —expectativa que está prevista no Orçamento.

Procurada pela Folha, a Vale informou que segue em discussões com o Ministério dos Transportes sobre as condições gerais para otimizar os planos de investimentos nos contratos da EFC e EFVM. Segundo a companhia, os contratos hoje são regularmente executados nos termos estabelecidos e divulgados ao mercado em 16 de dezembro de 2020.

“A Vale manterá o mercado atualizado sobre qualquer compromisso relevante assumido no âmbito das negociações, em linha com a legislação aplicável”, disse a empresa.

Procurado, o Ministério da Fazenda não respondeu.

Outros dois acordos de revisão de concessão de ferrovias já foram fechados, nos valores de R$ 1,5 bilhão, referente ao contrato da Malha Paulista da Rumo, braço de logística do grupo Cosan, do empresário Rubens Ometto; e de R$ 2,6 bilhões, do contrato da Malha Sudeste com a MRS.

A negociação com a Rumo foi a primeira do gênero para o setor de ferrovias. As discussões contaram com a participação da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).

O relatório de avaliação de receitas e despesas do Orçamento do terceiro bimestre, que apontou a necessidade de um congelamento de R$ 15 bilhões, manteve a previsão de R$ 10 bilhões de receitas com essas negociações. Isso explica a preocupação do Ministério da Fazenda com as condições das negociações.

Os analistas em contas públicas consideram a previsão de R$ 10 bilhões com as ferrovias um dos pontos mais frágeis das estimativas de receitas do último relatório.

Se não houver evolução no acordo com a Vale até 22 de setembro, data do próximo relatório, os ministérios do Planejamento e da Fazenda terão de diminuir a previsão de receitas com as ferrovias.

Nesse caso, aumentam as chances de um novo congelamento de despesas em valor elevado daqui a dois meses, para o cumprimento da meta.

A Rumo pagou na semana passada uma parcela de R$ 170 milhões. Já o acordo com MRS depende de homologação do TCU. A previsão é de entrada de R$ 800 milhões neste ano.