23.10.2025 | ABIFER | Notícias do Mercado
Fonte: Tribuna Liberal
Em expansão, complexo de indústrias de trens do município responde por 20% do faturamento nacional do setor, segundo a ABIFER, que prevê cenário mais promissor, a partir de 2026, impulsionado pela renovação das concessões
O polo ferroviário de Hortolândia está em expansão e se consolida como um dos mais importantes do Brasil. É no município que são fabricados vagões, trens de passageiros e equipamentos que atendem ao mercado nacional e internacional, atividades que movimentam R$ 500 milhões por ano e geram 4.600 empregos, entre diretos e indiretos, segundo estimativas da ABIFER (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária). O setor deve crescer ainda mais, a partir de 2026, impulsionado pela renovação das concessões ferroviárias em todo o País.
De acordo com o presidente da ABIFER, Vicente Abate, atualmente o polo ferroviário de Hortolândia responde por 20% da média de faturamento nacional do setor, calculado em R$ 3 bilhões/ano.
Segundo a Associação, em Hortolândia cinco empresas estão na linha de frente de produção para o mercado ferroviário: a Greenbrier Maxion, que produz vagões de carga e truques; a Plasser, especialista na fabricação de máquinas e equipamentos para manutenção e construção de vias férreas; a Hewitt Equipamentos, que faz aparelhos de mudança de vias; a Wabtec, que produz componentes e acessórios para veículos ferroviários, além da CAF (Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles), que fabrica trens de passageiros. Das cinco, somente a CAF funciona fora do complexo Greenbrier Maxion, localizado no Jardim Nova Europa.
Dos 1.600 empregos diretos gerados pelo setor em Hortolândia, 1.000 são da Greenbrier Maxion, estima Abate. Segundo o presidente da Abifer, a gigante do setor ferroviário atende às principais concessionárias ferroviárias do País: Rumo Logística, Vale, MRS e VLI Logística.
Levantamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo mostra que, em 2024, o setor ferroviário de Hortolândia exportou o equivalente a R$ 36 milhões em vagões para transporte de mercadorias sobre linhas férreas.
“É o quarto produto com maior valor de exportação de Hortolândia, tendo como destino Guiné. O setor está em expansão, com novas empresas chegando ao polo ferroviário do nosso município, a exemplo da Plasser”, comemora o secretário Dimas Correa Pádua.
A multinacional de origem austríaca, inaugurou a planta fabril em Hortolândia, em 2023. Na época, foram divulgados investimentos iniciais de R$ 60 milhões na fábrica de Hortolândia, que funciona em um prédio locado, dentro do complexo Greenbrier Maxion, e geração de 30 empregos.
O complexo Greenbrier Maxion, instalado em 2004, marcou o renascimento da indústria ferroviária em Hortolândia. Na década de 1980, o município era sede da Cobrasma, uma das maiores empresas ferroviárias do Brasil. Em seu auge, a fábrica chegou a empregar mais de 3.600 pessoas. Com a decadência do setor, a empresa faliu e fechou as portas, em 1998.
Seis anos depois, a Amsted Maxion (agora Greenbrier Maxion) instalou sua linha de produção nos galpões ociosos da antiga Cobrasma e retomou a produção ferroviária na cidade, relembra Pádua. Atualmente, a maior parte das indústrias que formam o polo ferroviário de Hortolândia funciona lá.
“O setor ferroviário em nosso município tem muita relevância. Emprega milhares de trabalhadores, gera uma renda diferenciada e fortalece o potencial de consumo das famílias”, assinala o secretário.
CAF RETOMA PRODUÇÃO COM REFORMA DE TRENS PARA A BAHIA
A retomada das atividades industriais da CAF em Hortolândia é um dos sinais de expansão do polo ferroviário em Hortolândia. A multinacional espanhola colocou a linha de produção em pleno funcionamento graças ao contrato firmado com o Governo da Bahia, que prevê a revisão e adequações técnicas de 40 composições do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e metrô, que atenderão à região do Subúrbio, em Salvador.
O investimento estadual, que ultrapassa R$ 1 bilhão, tem como objetivo requalificar a malha ferroviária da capital baiana, com foco no transporte sobre trilhos para a região do Subúrbio.
Os trens são do modelo URBOS 100, fabricado pela CAF desde 2008 e reconhecido por sua durabilidade, conforto e eficiência. Cada composição conta com sete vagões, duas cabines e capacidade para transportar até 400 passageiros.
A encomenda gerou empregos para a cidade com a contratação de 60 funcionários para trabalhar na reforma e revisão dos trens de passageiros, segundo dados da Prefeitura de Hortolândia.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), visitou a sede da CAF em Hortolândia, no mês passado, para conhecer a linha de produção de trens e o processo de revisão técnica das composições. O prefeito Zezé Gomes acompanhou a comitiva.
A CAF inaugurou a fábrica de trens em Hortolândia, em 2010, numa área de 52 mil metros quadrados, no Jd. Nova Europa. Começou a funcionar com uma lista de mais de 100 trens, a maior parte deles para a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e o metrô de São Paulo.
Na época, foram anunciados a geração de 1.000 empregos diretos e a capacidade de produção de 500 vagões/ano. A queda das encomendas de trens de passageiros nos últimos anos colocou a linha de produção da empresa em marcha lenta.
“A retomada das operações da CAF fortalece nosso polo ferroviário e tem impacto direto no desenvolvimento econômico e social de Hortolândia”, comentou Zezé Gomes.
PROGRAMA EMPREGA JOVENS DE BAIXA RENDA
O polo ferroviário de Hortolândia também produz novos profissionais, por meio do Programa Formare, que nasceu em 2006, dentro das empresas Iochpe-Maxion. O objetivo é desenvolver as potencialidades de jovens de baixa renda, com idades entre 16 e 17 anos, dentro da própria companhia.
Segundo a Abifer, o programa se transformou numa espécie de franquia e tem mais de 70 escolas no Brasil, mantidas por empresas, que disponibilizam espaço físico e tempo de seus funcionários para atuarem como educadores voluntários.
Criado por meio de uma parceria da Fundação Iochpe com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o programa tem a duração média de 11 meses. Os participantes das escolas da rede Formare recebem benefícios, como transporte, assistência médica, seguro de vida, refeição, bolsa-auxílio, cesta de Natal e material escolar.
Richard: ex-aluno do programa Formare hoje é funcionário da Greenbrier Maxion
O curso é ministrado por colaboradores voluntários da própria empresa e da comunidade, treinados pela Fundação Iochpe. A capacitação inclui aulas teóricas e práticas, onde os adolescentes têm a oportunidade de estagiar na área administrativa e fabril.
“Na formação, os aprendizes são preparados para se tornarem futuros colaboradores. Cerca de 90% dos estudantes saem do curso de qualificação empregados”, afirma Abate.
É o caso de Richard Ramos Ibrahim, 19 anos, morador de Hortolândia, ex-aluno do Programa Formare, que exerce a função de soldador e montador na Greenbrier Maxion, desde 2024.
“Em 2023, vi o anúncio do curso de qualificação do Formare e me inscrevi. Passei na prova e na entrevista. Depois da formação, fui efetivado. O Formare prepara os jovens para o mercado de trabalho, abre caminhos e oportunidades”, conta o morador do Jd. Amanda.
Motivado pelo ambiente de trabalho, Richard faz faculdade de engenharia mecânica e diz que pretende seguir carreira na indústria ferroviária. “A Greenbrier Maxxion é uma ótima empresa para trabalhar, com líderes que se comunicam bem com os colaboradores. Fazer parte da equipe é a oitava maravilha para mim”, valoriza Richard. No complexo Greenbrier Maxion também funciona a escola do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) com o curso de soldador.
PRESIDENTE DA ABIFER PREVÊ CRESCIMENTO NA PRODUÇÃO DE VAGÕES A PARTIR DE 2026
Com a renovação das concessões ferroviárias em todo o País, a indústria de trens tende a entrar em novo ritmo a partir do ano que vem. Segundo Vicente Abate, presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), a estimativa é que, em 2026, a produção de vagões de trem aumente de 1.700 para 2.000, um crescimento de aproximadamente 18%.
Dados da Abifer mostram que, desde 2019, a indústria ferroviária vem diminuindo o ritmo de produção no Brasil, quando a fabricação de vagões despencou de 4.400/ano para 1.006. Um dos motivos da queda seria o impasse na renovação antecipada das concessões ferroviárias de cargas.
“O mercado ferroviário é uma montanha russa, cheio de altos e baixos. Decresceu a partir de 2019. Nos últimos dois anos, esteve estagnado. Agora, estamos otimistas com a renovação das concessões ferroviárias pelo País e a retomada de crescimento do setor. Haverá necessidade de novas locomotivas e vagões. Em 2026, nossa expectativa é produzir 2 mil vagões e esperamos seguir nesse ritmo, com previsibilidade e regularidade”, comenta Vicente Abate.
Outro cenário positivo para impulsionar a indústria brasileira de trens é o investimento de R$ 94,2 bilhões em projetos ferroviários anunciados pelo governo federal, por meio do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), até 2026. A medida, segundo o governo, visa ampliar o modal no País, fortalecer o segmento, gerar trabalho e renda.