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“Buy Brasil” tentará estimular a compra de produto nacional

19.05.2020 | | Notícias do Mercado

Marino, da Abiquim: competição com importados já era desigual, a covid-19 ampliou. “Estamos numa situação muito difícil” – Foto: Divulgação

Inspirada no “Buy American” (Compre América), que ajudou a economia americana a superar crises como a de 2008 e 2009, a indústria brasileira prepara uma ampla campanha para estimular o consumo de produtos nacionais. Com a iniciativa “Buy Brasil”, a intenção é acelerar a retomada econômica no Brasil, que sairá da pandemia de covid-19 debilitado e depois de outros países com indústrias potentes, dentre eles a poderosa China.

Dezenas de entidades representativas do setor, reunidas na Confederação Nacional da Indústria (CNI), estão por trás da iniciativa, que já foi levada ao presidente Jair Bolsonaro e aos ministros Paulo Guedes e Braga Netto. O projeto foi apresentado na reunião entre governo e executivos de diferentes setores industriais há cerca de dez dias, que ficou marcada pela caminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Procurada, a CNI confirmou em nota que “estuda a realização de campanha com este mote, mas o processo ainda está em fase de levantamento de dados e, por isso, seu escopo ainda não está definido”. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a repercussão negativa da caminhada ao STF, que não estava prevista na agenda e foi proposta por Bolsonaro com vistas a levar ao Judiciário os reflexos econômicos das medidas de isolamento social, adiou momentaneamente os planos de lançamento da campanha. Mas, a expectativa é que ela saia em breve do papel.

No encontro, integrantes da Coalizão Indústria, grupo formado por 15 entidades de classe que acabou assumindo o papel de porta-voz da iniciativa naquele momento, exibiram um filme institucional de pouco mais de um minuto, que resume a mensagem da campanha: essa é a mais grave crise da história e será preciso união para vencer a segunda parte da guerra, a economia.

“Quando a quarentena terminar, o Brasil vai precisar movimentar o comércio e a indústria, para que os empregos sejam mantidos. Por isso, será importante consumir produtos fabricados no país”, diz o filme, que já circula nas redes sociais.

Do lado do governo, a contrapartida à campanha seria dar condições de competição do produto nacional com o importado, em uma corrida na qual outros países largaram na frente. Medidas protecionistas estão na lista de ações sugeridas pela indústria num primeiro momento.

Os executivos reportaram ao governo que, na China pós-confinamento, as autoridades  têm atuado para garantir a recuperação da atividade e fábricas voltaram a operar com carga máxima, num esforço de reduzir os danos da pandemia. Em muitos setores, como a química, essa produção já começou a chegar ao mercado internacional, distorcendo preços.

Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Ciro Marino, a competição com os importados já era desigual e a covid-19 ampliou os desafios. Hoje, no setor, as fábricas estão rodando em média com 50% a 60% da capacidade, com custos de matéria-prima e energia mais altos que os da concorrência internacional.

“A indústria nacional está em uma situação muito difícil. A teoria econômica, de que o mercado se acomoda à medida que um desafio é colocado, não condiz com a realidade no Brasil”, afirma. Segundo Marino, o setor é favorável à abertura comercial, desde que bilateral ou multilateral, e ao mesmo tempo em que o custo Brasil seja reduzido. “As assimetrias precisam ser corrigidas antes de deixar que o mercado se ajuste”, defende.

A competição com a China, que já superou a pandemia, é algo que preocupa. Há poucos dias, informa Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, o governo chinês retomou medida tributária de estimulo – semelhante ao nosso Reintegra (compensação de resíduos tributários na exportação) às suas empresas para exportar. De zero, elevou para 10% a 13%. “Assim, ficará ainda mais difícil competir com produtos chineses”, disse Lopes.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, a indústria brasileira como um todo está preocupada com o “dia seguinte”. “Para manter empregos e estimular a produção, a maioria dos países vai apoiar a produção local. Esse é um dos caminhos mais rápidos para a saída da crise”, defende Roriz, acrescentando que a preparação para a retomada envolve ainda outras iniciativas, como a definição de protocolos e crédito para capital de giro às empresas.

Lopes, do Aço Brasil, diz que o apoio do governo para esse momento difícil da indústria de transformação passa por um tripé, com medidas emergenciais. Primeiro, facilitar o acesso a crédito nos bancos, que não têm fluido como se deveria para todas as empresas. Segundo, proteção temporária (seis a oito meses) contra países que já voltaram a produzir ou que têm práticas desleais de comércio comprovadas, como China e Coreia do Sul – “os dois são campeões de processos”. Terceiro, retomada do crescimento, estimulando infraestrutura, construção civil e exportação.

Neste último, diz, há o Buy Brasil. “É uma campanha que está sendo estruturada na CNI para valorizar o produto nacional”. Lopes acrescenta: “Estamos em guerra. Por isso, quando há vontade política, há instrumentos de proteção”.

 

Fonte: Valor

Data: 18/05/2020