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Brasil mostra potencial e tenta atrair capital ‘verde’ para negócios

21.09.2023 | | Notícias do Mercado

Fonte: Valor
Data: 21/09/2023

Para destravar o potencial de se tornar líder global em soluções “verdes”, o Brasil precisa se mostrar mais ao mundo e atrair muito capital. Esse foi o mote de conversas entre executivos e empresários durante eventos realizados nos últimos dias em Nova York para falar sobre oportunidades e riscos para o país com as mudanças climáticas. O tom do Brazil Climate, organizado por alunos e ex-alunos da Universidade de Columbia com apoio de empresários brasileiros, e do SDGs Brasil, realizado pelo Pacto Global da ONU, variou entre otimismo com os avanços obtidos até agora e cobranças para que o ritmo das soluções seja mais rápido.

No SDGs, Tarciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil, e Luiza Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza, destacaram o avanço na questão de diversidade. “Estudos indicam que empresas com maior diversidade étnico-racial podem obter cerca de 35% de incremento na sua rentabilidade. Imaginem o impacto que essa mudança poderia gerar nas nossas corporações”, afirmou Medeiros, ao citar que o banco tem programa para ajudar mulheres a progredir na carreira e apoia movimentos do Pacto Global. Trajano disse que empresas estão mais interessadas em diversidade e sustentabilidade, até pela pressão de investidores e stakeholders por avanços em ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança).

Mas a energia foi, certamente, a grande potencialidade brasileira em debate, em especial no Brazil Climate. “Se perdermos essa oportunidade da transição energética e descarbonização, vamos nos arrepender pelo resto da vida. Precisamos apoiar e liderar essa posição; temos capacidade para isso”, disse o presidente da Cosan, Luis Guimarães. Para ele, é preciso escolher pautas prioritárias. Além das já citadas, ele lembra que a agricultura brasileira já é referência mundial em baixo carbono, com o caso da soja, mas também tem se destacado na produção de insumos para a indústria de biocombustíveis.

Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e diretor de estratégia econômica e relações com o mercado do Banco Safra, destacou a importância de se atrair investimentos externos e fazer parcerias com outros países para desenvolver tecnologias como o hidrogênio verde. “Precisamos ter grandes ambições. Podemos ser o primeiro país do mundo a chegar ao net zero” [emissões líquidas zero], disse. “Mas não precisamos fazer isso sozinhos. Podemos contar com parceiros.” A matriz elétrica brasileira, 92% renovável, foi destacada pelos painelistas como uma vantagem competitiva para a indústria local.

A bioeconomia foi outro grande tema. Atividades como extrativismo responsável de bioinsumos, agricultura regenerativa, práticas de manejo sustentáveis, crédito de carbono por preservação florestal e mercado de restauração de florestas são alguns exemplos das chamadas soluções baseadas na natureza. A Amazônia, para especialistas, é um dos principais lugares para desenvolver esse valor.

“Cerca de um terço das emissões globais podem ser reduzidas usando soluções baseadas na natureza [SbN], como regeneração, agricultura regenerativa, entre outras. O capital se move para onde vê oportunidades e elas estão em projetos de ‘nature positive’ e cadeia de suprimentos sem desmatamento”, disse Tony Lent, cofundador da Climate for Capital (C4C), companhia que faz a ponte entre investidores e projetos, no evento de Columbia.

Para ele, o Brasil tem a oportunidade de ser o “número 1” no destino de capital estrangeiro para projetos sustentáveis. “Nos últimos cinco anos, as mudanças que vimos no mercado como resposta à crise climática são impressionantes. Mais da metade dos profissionais de investimentos já estão comprometidos com o net zero em suas estratégias”, disse.

No mesmo painel, Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), avaliou que, além de poder exportar soluções para a transição verde, o Brasil é, em sua opinião, o único país do mundo que pode atingir o net zero sem precisar de novas tecnologias. “Nosso maior desafio é o desmatamento. E as SbN podem nos ajudar a zerar as emissões. Mas, para isso, teremos que lidar com o elefante branco na sala do desmatamento legal”, afirmou.

Outra questão delicada com a qual o país terá de lidar se quiser se tornar uma potência verde, na visão de Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, é o plano de eliminar gradativamente o uso de combustíveis fósseis. “Está claro que podemos ser pioneiros em soluções baseadas na natureza, mercado de carbono, mas não está claro como vamos lidar com a nossa própria meta de descarbonização e qual o plano de ‘phase out’ dos combustíveis fósseis. Nós precisamos de uma data.”

Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, pontuou que a capacidade de atração de investimentos para a região amazônica depende da superação de alguns gargalos, a começar por questão fundiária, presença em alguns locais de crime organizado e dificuldade logística, além de melhor compreensão da bioeconomia. “Precisa ser uma bioeconomia que ajude as 30 milhões de pessoas que vivem na Amazônia a manter a floresta em pé. Talvez isso passe por ser menos extrativista e em menor escala”, disse. O pacto lançou um movimento para atrair as empresas para a pauta e trabalhar riscos, oportunidades e planos de ações de forma setorial. “Nosso olhar será setorial e vamos fazer um mergulho na cadeia de valor, ter produtos e a cadeia livre de desmatamento”, afirmou Pereira.