03.11.2025 | ABIFER | Notícias do Mercado
Fonte: Valor Data: 31/10/2025
O Plano Nacional de Logística (PNL) 2050, documento que o governo federal deve apresentar até o fim deste ano com as diretrizes para a expansão da infraestrutura de transportes do país, tem gerado altas expectativas — no mercado e na própria equipe responsável pelo planejamento de longo prazo.
Acontece que, diferentemente dos projetos anteriores, desenhados pelo governo sem qualquer participação de terceiros, o PNL 2050 promete mudar a lógica da política de infraestrutura logística nacional, tendo em vista que vem sendo elaborado em proximidade com o setor privado, organizações da sociedade civil e comunidades potencialmente afetadas por obras de larga escala.
Embora o documento só deva ser publicado em dezembro, o governo indica que trabalha com a intenção de balancear a matriz de transportes brasileira. “Temos uma grave dependência do modal rodoviário. Precisamos equilibrar isso; então, teremos um carinho especial com hidrovias e ferrovias”, afirma a subsecretária de fomento e planejamento do Ministério dos Transportes, Gabriela Avelino.
No momento, a pasta está condensando em diretrizes as contribuições encaminhadas pelo mercado por meio de consultas públicas e colhidas em dez eventos presenciais (dois em cada região do país) ao longo do primeiro semestre. Também foram feitas pesquisas qualitativas com mais de cem entrevistados, com apoio da Fundação Dom Cabral.
De acordo com a subsecretária, a ideia é traduzir as demandas e críticas da sociedade em projetos executáveis, inclusive para o transporte de passageiros, com novos modais ferroviários e hidroviários pelo território nacional. “Outro foco é o escoamento de commodities, que é fundamental para o crescimento da economia. Mas também estamos olhando o abastecimento interno, como, por exemplo, levar medicamentos para Manaus ou alimentos para regiões carentes e pouco exploradas do ponto de vista socioeconômico”, aponta Avelino.
O diretor de relações institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Roberto Muniz, diz que o PNL “marca o início de um novo ciclo de planejamento de transportes” e se mostra “uma janela de oportunidades para corrigir problemas estruturais do modelo vigente”. Segundo a instituição, nas últimas duas décadas, os investimentos em transporte e logística no Brasil variaram de 0,4% a 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano, apesar de uma necessidade de algo em torno de 2,2% ao ano.
Na avaliação da CNI, obras como o novo terminal de contêineres de Santos (SP), a extensão da Ferrovia Norte-Sul entre Açailândia (MA) e Barcarena (PA) e a conclusão da Ferrovia Transnordestina, no trecho de Eliseu Martins (PI) e Pecém (CE), são alguns dos projetos que podem ajudar o Brasil a atacar as deficiências logísticas.
“Tem uma distância muito grande entre o que está no papel e o que de fato vira investimento”, ressalta Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), diante da falta de cumprimento integral de planos anteriores.
Para a CNA, é importante que o PNL leve em conta a carência de ferrovias no Estado do Mato Grosso, maior produtor de grãos, e a necessidade de investimentos em armazenagem, o que pode contribuir para diversificar os períodos de escoamento das safras. A entidade ainda aponta que o custo do transporte de soja do Brasil para a China gira em torno de US$ 126 por tonelada, enquanto, saindo dos Estados Unidos, o custo da mesma carga cai para US$ 67. “O custo do Brasil é 46,8% maior, porque perdemos em competitividade ao depender do modal rodoviário”, resume Lopes.
Camillo Fraga, sócio e diretor comercial do grupo Houer, consultoria especializada em projetos de engenharia e infraestrutura, demonstra otimismo com o PNL. De acordo sua avaliação, o plano será eficiente se entender que a lógica do investimento em infraestrutura depende tanto do setor público quanto do setor privado, aproximar os governos federal e estaduais e fortalecer a segurança jurídica em concessões. “Se a gente chegar em 2050 com uma participação menor em relação ao que temos hoje do transporte de cargas em rodovias e maior em ferrovias e hidrovias, do ponto de vista de plano, será muito bom”, afirma Fraga.