27.10.2020 | ABIFER | Notícias do Mercado
Plano da concessionária de carga é separar mais de 90 km de vias do trecho entre Jundiaí e Rio Grande da Serra, mas gargalo no centro da capital deve permanecer
Nada de Ferroanel Norte ou trem regional com novas e velozes vias. O plano costurado pelos governos federal e estadual junto às concessionárias de carga Rumo e MRS até aqui delineia apenas adaptações na malha ferroviária entre a região de Campinas e o ABC Paulista. É nesse eixo, oriundo da São Paulo Railway no final do século 19, que se concentram as principais intervenções estudadas pelas duas empresas.
A Rumo, que detém a concessão da Malha Paulista, já assinou a extensão do contrato com governo federal e que prevê investimentos de R$ 6 bilhões na modernização de seus trilhos. Nesse valor estão incluídos os trabalhos de segregação do trecho entre Jundiaí e Campinas, que serão usados pelo Trem Intercidades e pelo Trem Intermetropolitano, do governo do estado.
De Jundiaí até a região metropolitana de São Paulo, a tarefa caberá à MRS, que hoje transporta cargas nesse eixo até o porto de Santos. É dela o maior desafio de permitir que os trens de passageiros possam conviver com seus pares de carga sem que ambos sejam prejudicados, algo comum atualmente.
Ao contrário da Rumo, a MRS ainda está finalizando sua proposta para renovar a concessão, as detalhes dos seus planos foram divulgados pela empresa recentemente. Segundo esse estudo, a MRS planeja lançar duas obras de segregação de vias, a Noroeste, entre a estação Barra Funda e Jundiaí, e a Sudeste, do Brás à Rio Grande da Serra. Somadas elas têm mais de 90 km de extensão e prometem otimizar tanto o transporte de passageiros quanto o de cargas.
O trecho Noroeste prevê um túnel duplo de cerca de 2 km de extensão na região de Botojuru, mas no restante do percurso, a concessionária deve apenas implantar uma via exclusiva para seu trens. Na outra frente, a via segregada partirá do Brás e se beneficiará da larga faixa de domínio existente até Rio Grande da Serra. No mapa compartilhado pela MRS, a atual estação Mooca dará lugar à essa nova via, com isso uma nova estação será construída 200 metros mais ao sul, onde também haverá um terminal intermodal. Vale dizer que essas informações são preliminares e dependem da aprovação dos órgãos envolvidos.
Ao detalhar o projeto, a MRS explicou que “diversas interferências foram encontradas, como os dutos da Transpetro e o gasoduto da Braskem, exigindo da equipe de projetos estudos do melhor traçado e diversas soluções de engenharia. Outro desafio vencido foi a abertura de espaço útil para viabilizar a implantação do Terminal da Mooca na região central de São Paulo. Além disso, pelo projeto da Sudeste, foi garantido, aos usuários da linha 10, a acessibilidade a todas as estações da CPTM”.
A concessionária também ressalta o fato de que a segregação permitirá que as composições de carga possam circular com mais peso comparado à atual situação.
A solução estudada pela gestão Doria e a MRS, no entanto, exclui justamente o trecho central de vias com quase 8 km entre as estações Barra Funda e Brás. É justamente onde há um grande movimento de trens de passageiros de cinco linhas da CPTM.
Na proposta que está sendo delineada, as composições de carga continuariam cruzando o centro da capital paulista nas mesmas vias de passageiros, incluindo aí adentrar a centenária estação da Luz. Não se sabe, contudo, quanto esse gargalo pode ser contornado a ponto de otimizar significativamente o tráfego de trens, entretanto, a intenção da gestão Doria de reduzir o percurso da Linha 7-Rubi até Barra Funda pode ser um indício de mudanças na forma como a operação é realizada nessa região.
Um dos argumentos para essa opção de segregação parcial está nos custos mais baixos do que os previstos para implantar o Ferroanel Norte, proposto pelo governo Alckmin aproveitando o traçado do Rodoanel Norte. O projeto acabou atrasando diante de vários impasses jurídicos e técnicos, e foi descartado pelo atual governador, que enxerga na demanda por cargas na capital outro motivo para abandonar a ideia.
A concretização do projeto de segregação, no entanto, depende da renovação da concessão, que hoje está em análise pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), que deverá remeter a minuta de contrato para o TCU entre o final deste ano e início de 2021.
Ou seja, o leilão do Trem Intercidades em conjunto com o serviço Intermetropolitano e a Linha 7 ainda depende do desenrolar da situação da MRS.
Fonte: MetrôCPTM
Data: 26/10/2020