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Surgem mais detalhes sobre a proposta de concessão conjunta das linhas 2 e 20 do Metrô

29.01.2021 | | Notícias do Mercado

Estudo do grupo Ascendal considera implantação do trecho entre São Judas e Santo André “impraticável sem recursos públicos”. Linha 2-Verde serviria de compensação financeira para investimentos

 

O mapa de estações do estudo de concessão das linhas 2 e 20 (Reprodução)

O site obteve mais detalhes a respeito da proposta de concessão conjunta das linhas 2-Verde e 20-Rosa do Metrô de São Paulo feita pelo grupo britânico Ascendal. Em documento, a empresa apresenta aspectos importantes do estudo, que envolve vultosos números caso seja de fato viabilizado no futuro. No entanto, os dados mostrados deixam claro que algumas etapas do projeto seriam praticamente inviáveis, como a construção do trecho São Judas-Santo André, considerado deficitária sem a injeção de recursos públicos.

A implantação da Linha 20-Rosa no ABC Paulista foi usada pela administração Doria como compensação pelo fim da Linha 18-Bronze, extinta em troca de um acordo com a empresa Metra, cujos proprietários dominam o transporte por ônibus na região. Segundo o Ascendal, a chamada “Fase 4” do projeto exigiria uma participação do governo de 70% nos custos de implantação já que ela seria “impraticável sem recursos públicos, não importa o quanto se estenda a concessão. Isto é explicado pela baixa demanda da Linha, estimada em 500 mil passageiros/dia”.

Por outro lado, a empresa considera a Linha 2-Verde superavitária sobretudo se a expansão na ponta leste (estações Penha e Tiquatira) for postergada no planejamento. O documento também pontua que as fases 2 e 3 (Faria Lima-São Judas e a extensão leste) também seriam deficitários, exigindo uma contrapartida financeira de 50% do governo do estado. Não fica claro, mas a Ascendal parece considerar a fase 1 apenas o trecho entre Santa Marina e a estação Faria Lima, mais a extensão oeste da Linha 2 (estação Cerro Corá) para conectá-la à Linha 20.

Uma novidade é a previsão de construção de um pátio de manutenção para a Linha 20 na região da Lapa em local não detalhado. O estudo também prevê outro pátio na extensão para o ABC, porém, não cita a construção do pátio Paulo Freire, que servirá a Linha 2.

De acordo com o estudo, o trecho 1 da Linha 20 terá 15 estações e 16 km, 13,5 km dos quais escavados por tuneladoras. Haverá ainda dois terminais de ônibus, na estação Helio Pelegrino (vizinha do corredor Santo Amaro) e São Judas (onde existirá a conexão com a Linha 1-Azul). O trecho 2, por sua vez, contempla 10 estações e 12 km, dos quais dez também com escavação realizada por ‘tatuzões’.

Investimento total de R$ 44 bilhões

O cronograma de abertura dessas fases apresentado no novo documento, no entanto, causa apreensão. Embora deva se tratar de um prazo máximo, a Ascendal diz que o trecho 1 da Linha 20 seria entregue até o 12º ano da concessão após investimentos de R$ 16,2 bilhões. Já o trecho 2, chamado por ela de “opcional”, levaria até 17 anos para ficar pronto – o grupo ainda considera fundamental que o chamamento público do governo permita que a extensão possa ter seu trajeto alterado pelos interessados.

Numa hipótese em que um contrato seja assinado nesses parâmetros dentro de dois ou três anos, isso significaria que a Linha 20-Rosa poderia ser inaugurada apenas em 2035 e a extensão, em 2040. Em outro trecho do documento, entretanto, a Ascendal cita a primeira fase da Linha 20 passando a contribuir com a receita da concessão já no 6º ano de vigência, o que parece mais factível. Já a extensão até o ABC é incluída no 13º ano da concessão apenas.

Estação da Linha 2-Verde> ramal é apontado como uma espécie de compensação pelo investimento na Linha 20 (CMSP)

A grosso modo, a proposta do grupo Ascendal prevê que a hipotética concessionária teria a operação (lucrativa) da Linha 2-Verde como compensação para os vultosos investimentos para tirar a Linha 20-Rosa do papel, excluindo-se aí as desapropriações de todos os trechos previstos, que ficariam por conta do poder público. Segundo os estudos, a Linha 2 geraria uma receita bruta anual de R$ 931 milhões com lucro líquido de até R$ 300 milhões com a atual infraestrutura, de 14 estações. Com a entrega da expansão bancada pelo governo, esses números seriam ampliados para cerca de R$ 400 milhões.

Em contrapartida, seria necessário um investimento total de mais de R$ 33 bilhões durante 17 anos para implantar todo o projeto, sendo que R$ 14,4 bilhões (33%) ficariam a cargo do governo, além de custos financeiros da ordem de R$ 10,3 bilhões, o que elevaria o investimento total para quase R$ 44 bilhões em valores atuais. A Ascendal fez o cálculo baseado numa tarifa base de R$ 2,90 e utilizando demonstrações financeiras da ViaQuatro, concessionária que opera a Linha 4-Amarela, a primeira gerida pela iniciativa privada em São Paulo.

Com cerca de 54 km de extensão somada, as linhas 2-Verde e 20-Rosa têm potencial para transportar cerca de 3 milhões de passageiros por dia, praticamente o mesmo que a soma das linhas 1 e 3. Mas com um diferencial: tratam-se de dois ramais de trajetos perimetrais e que por isso contribuiriam significativamente para melhorar a dinâmica de transporte sobre trilhos em São Paulo. Vale relembrar que essa manifestação de interesse pode ser completamente ignorada pelo governo, que deve analisar outros projetos nos próximos anos antes de definir o caminho a ser adotado para viabilizar esses projetos.

 

Fonte: MetrôCPTM

Data: 27/01/2021