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Vale não deve ter mudanças em estratégia com entrada da Cosan, avaliam bancos

10.10.2022 | | Notícias do Mercado

Fonte Valor Econômico
Data: 10/10/2022

A Vale não deve ter alterações em sua estratégia de negócios com a entrada da Cosan como acionista relevante, avaliam o J.P. Morgan e o Itaú BBA.

Para o J.P. Morgan, a empresa pode trazer uma expertise de bons resultados em investimentos, mas a falta de experiência em mineração limita o impacto.

Os analistas do banco americano, liderados por Lucas Ferreira, escrevem que historicamente a Cosan é uma boa alocadora de capital, mas que a maior parte dos seus investimentos são em empresas com sinergias claras ou que possam contribuir para sua reestruturação, o que não é o caso da Vale.

“Neste sentido, a aquisição da participação nos parece até o momento como um investimento financeiro e de valor, com a Cosan vendo potencial de alta nas ações da Vale”, comentam. A empresa deve indicar um conselheiro para o colegiado da mineradora.

Os especialistas do banco americano apontam que a estrutura da operação limita impactos na alavancagem da Cosan, que já é elevada, mas sua dívida bruta aumenta por conta dos empréstimos-ponte realizados com bancos para financiar a operação, que são compensados pelos “collars” que deixam os ativos sempre prontos para serem vendidos.

O impacto na Vale da aquisição de participação que a Cosan anunciou na última sexta-feira é limitada no curto prazo, diz o Itaú BBA. O banco não espera alterações na estratégia da mineradora.

Já os analistas do Itaú BBA, liderados por Daniel Sasson, escrevem que investidores podem enxergar com bons olhos a entrada de um acionista de referência com expertise em planejamento estratégico, mas que a Cosan não tem experiência em mineração.

“Suas contribuições em potencial para a Vale precisarão ser provadas”, comentam. Em teleconferência, a Cosan disse que enxerga potencial nos produtos de minério da Vale e em sua unidade de metais básicos.

O banco não acredita que a entrada da Cosan como sócia da Vale vai alterar suas iniciativas próprias em mineração, como a aquisição do Porto São Luís e a formação de uma companhia com o Grupo Paulo Brito para exploração de minério em Carajás (PA).

Movimento ousado

Em relatório, o Credit Suisse avalia que o anúncio pela Cosan da aquisição de uma participação na Vale , e uma exposição adicional de 1,6% sem direito a voto, é um movimento ousado e inesperado, e ainda não é possível saber se criará valor.

Os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero escrevem que o anúncio segue um período recente de valorização das ações da Vale. “A questão realmente é a materialidade desse negócio em relação à exposição ao risco, alavancagem e custos de financiamento”, dizem.

Segundo eles, essas preocupações são parcialmente abordadas por uma estrutura de transação que envolve financiamento sem recurso com duração flexível; spreads de “collar” para limitar o lado negativo (e positivo) do patrimônio em 5% da participação de 6,5%; e garantias para redução dos custos de financiamento.

Para os analistas, a Cosan está usando alavancagem para adquirir uma exposição patrimonial na Vale, e se isso agrega valor dependerá de como essa tese se desenrola. A Cosan planeja exercer influência sobre a Vale, mas será limitada e não há sinergias claras entre os dois grupos, dizem eles.

Por fim, a liberação do financiamento dependerá da rotação dos demais ativos maduros da Cosan, dizem os analistas, e embora a Cosan pretenda vender ativos, isso pode se tornar uma vantagem para Raízen e Rumo no futuro se as ações se valorizarem substancialmente em relação aos níveis atuais.

Criação de valor

A entrada de um acionista com um extenso histórico de criação de valor como a Cosan é positivo para a Vale, diz o BTG Pactual. A aposta da companhia reforça a tese positiva que as ações da mineradora estão subvalorizadas, afirma o banco.

Os analistas Leonardo Correa, Caio Greiner e Bruno Lima escrevem que há potencial para a Cosan agregar um diálogo construtivo na empresa ao adicionar um ativo que diversifica seu portfólio.

“Em última análise, nossa percepção de que a Cosan deseja participar ativamente do processo de tomada de decisão da Vale o que implica uma representação de longo prazo no conselho”, comentam.

O movimento, que acontece em um momento de pessimismo do mercado, mostra que a Cosan está de olho no potencial de valorização das ações, tornando esse o melhor momento para comprar os papéis.

“A administração da Cosan vê a Vale como uma combinação perfeita de um negócio maduro com pagamentos de dividendos relevantes, mas também com grande exposição ao tema da transição energética”, afirmam os analistas.