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ViaMobilidade anuncia plano de aquisição de equipamentos de via

13.02.2023 | | Notícias do Mercado

Fonte: Revista Ferroviária
Reportagem: Gabriel Menezes
Data: 10/02/2023

A ViaMobilidade colocou em prática um plano pesado de aquisição de equipamentos de manutenção de via. A concessionária, responsável pelas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda dos trens metropolitanos de São Paulo, adquiriu 22 máquinas de via (já entregues) em 2022, espera a chegada de mais 17 até o primeiro semestre desse ano, e planeja comprar mais 11 veículos até o fim de 2023. Alguns equipamentos foram adquiridos de segunda mão – da Ferrovia Tereza Cristina – para que começassem a operar de forma imediata nas linhas, que somam 80 km.

O investimento acontece em meio a uma operação marcada por falhas constantes, causada por problemas que vão desde o estado de conservação da via até deficiências nas subestações e redes aéreas de tração. Não por acaso, os equipamentos adquiridos pela ViaMobilidade têm a função, principalmente, de melhorar a eficiência da manutenção dos trilhos, da inspeção geométrica da via e da estrutura de eletrificação ao longo das malhas. A concessionária das linhas 8 e 9 completou um ano de operação no último dia 27 de janeiro.

As falhas ocorridas nos últimos meses têm provocado constantes atrasos, cancelamentos de operação e até situações mais graves como choques de trem e a morte de um funcionário. O episódio fatal aconteceu na madrugada do dia 10 de março do ano passado, quando um colaborador foi eletrocutado durante uma atividade de manutenção de rotina numa sala técnica na região da estação Pinheiros, da Linha 9. Neste mesmo dia, um trem se colidiu com a barreira de contenção da estação Júlio Prestes, na Linha 8. Ninguém ficou ferido, mas duas pessoas (uma delas o condutor) foram levadas para o hospital para avaliação. O mesmo veículo descarrilou na manhã do dia 7 de dezembro na estação Domingos de Moraes, da Linha 8, no sentido Itapevi. Já no dia 16 de janeiro, outro trem descarrilou na Linha 8, na altura da estação Lapa, também no sentido Itapevi. Ambos os episódios não deixaram feridos.

A situação foi parar na Justiça. Em abril de 2022, o Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito para investigar as sucessivas falhas na operação das linhas. Já em novembro, o órgão propôs à ViaMobilidade a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) para sanar de vez os problemas. A empresa, no entanto, não aceitou a proposta e informou estar cumprindo à risca o que foi acordado no contrato de concessão. As investigações do MP chegaram a ser suspensas em dezembro, após um recurso da ViaMobilidade ao Conselho Superior do Ministério Público), mas liberadas novamente poucos dias depois. Desde então, o MP ameaça entrar na Justiça para pedir a rescisão da concessão.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se reuniu no último dia 23 de janeiro com representantes da ViaMobilidade para que eles apresentassem os planos e propostas de modernização dos serviços e melhoria. No encontro, representantes da ViaMobilidade afirmaram que serão investidos cerca de R$ 1,5 bilhão nas duas linhas em 2023. Após a reunião, Freitas deu declarações descartando pedir a rescisão do contrato.

Em meio à batalha com o MP, a ViaMobilidade alega que recebeu as linhas em situação de precariedade, com trens sucateados e equipamentos muito antigos por parte da CPTM. O sistema de sinalização, por exemplo, seria da década de 1980. A concessionária informa, no entanto, que desde que assumiu a operação vem fazendo melhorias, que envolvem trens, trilhos, rede aérea, pátios e estações, e que o resultado já é percebido nos seus indicadores internos. “No mês de dezembro, por exemplo, as reclamações registradas na ouvidoria apresentaram redução de 78% em relação ao mês de março.  No mesmo período, somadas as duas linhas, houve também redução de 76% no número de falhas operacionais”, informou a empresa em seu site.

Novos veículos

Fontes ligadas ao assunto dizem que o contrato de concessão assinado entre ViaMobilidade e o governo de São Paulo não obrigou a operadora a comprar equipamentos de via, embora tenha previsto diversas reformas nas estruturas. Entre elas, na rede elétrica, troca de trilhos, renovação de 17 km de via por ano, além de remodelação de 26 estações, investimentos em acessibilidade, compra de 36 novos trens (que estão sendo fabricados pela Alstom, sendo que 16 têm previsão de começarem a operar ainda em 2023) e de um novo sistema de sinalização. Ao todo, a companhia se comprometeu a investir R$ 3,8 bilhões nas linhas nos próximos três anos.

Ao transferir a operação para a ViaMobilidade, a CPTM migrou 46 trens da sua frota (das séries 7.000 e 7.500) para o início do transporte pela empresa privada. O processo de migração de ativos, no entanto, não incluiu equipamentos de manutenção de via. A concessionária precisou, com isso, montar a sua própria frota de máquinas e veículos rodoferroviários. E de forma rápida.

Respondendo a um processo judicial, a ViaMobilidade é bastante sucinta nas informações divulgadas à imprensa sobre a operação nas linhas 8 e 9. O gerente executivo de manutenção da concessionária, Alan Santana, não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre os problemas recorrentes nas linhas e como, além da aquisição dos veículos auxiliares, estão sendo trabalhados. Frisou, no entanto, que os equipamentos adquiridos recentemente pela companhia terão capacidade de oferecer apoio relevante nas manutenções corretivas e preventivas das vias, algo fundamental para melhorar a eficiência da operação de ambas as linhas.

A empresa foi procurar na indústria tradicional de equipamentos de via os modelos para agregar a sua frota, que passa a contar agora, por exemplo, com veículos adaptados pela Empretec, máquinas da Plasser & Theurer e da Loram do Brasil. Santana destaca, entre os equipamentos adquiridos, o caminhão rodoferroviário de rede aérea com cesto duplo, utilizado nas atividades de rede aérea. A frota passou a contar também com um caminhão rodoferroviário socorro com baú. “Na prática, os atendimentos em caso de emergência ficarão mais rápidos e efetivos”, explica. O gerente cita também o vagão de manutenção de rede aérea para transportar materiais e uma locomotiva modelo G12, para fazer a tração da composição no caso de manutenções mais pesadas realizadas pela equipe na rede aérea (veja no box da reportagem).

Vencedora com uma outorga de R$ 980 milhões no leilão das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da CPTM, em abril de 2021, a CCR, controladora da ViaMobilidade, mostrou – em plena pandemia – o nível do apetite no setor de mobilidade urbana. O grupo opera também as linhas 4-Amarela e 5-Lilás do Metrô de São Paulo, o VLT Carioca, no Rio de Janeiro, e o Metrô de Salvador, na Bahia, ocupando a posição de maior operadora privada de trens de passageiros do Brasil.

A CCR, no entanto, optou por não participar do leilão de concessão do Metrô de BH, ocorrido em dezembro do ano passado e que teve como vencedora a Comporte Participações S/A. A companhia prefere não divulgar seus planos futuros na área de mobilidade, mas já demonstrou interesse em participar da licitação do Trem Intercidades, que pretende ligar São Paulo a Campinas. O projeto está na lista de prioridades do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Máquinas de via para as linhas 8 e 9

Trem esmerilhador (Loram): Reperfilamento de trilhos, para aumento do conforto e diminuição de ruídos na circulação dos trens. Máquina será entregue em janeiro de 2024.

Socadora (Plasser & Theurer): Nivelamento e alinhamento de via, corrigindo os defeitos de geometria, deixando assim o lastro descompactado após a correção.

Reguladora (Plasser & Theurer): Regularização do lastro e do formato geométrico da via, para a preparação da via para o recebimento da socaria do lastro.

Locotrator (Trackmobile): Rebocar e manobrar trens e locomotivas no pátio, podendo se locomover no modo rodoviário. Composto por um motor diesel turbo de seis cilindros em linha.

Caminhão socorro (Empretec): Veículo rodoferroviário desenvolvido e adaptado pela Empretec. Faz o encarrilhamento do trem ou veículo auxiliar em caso de emergência.

Veículo rodoferroviário (Empretec): Veículo desenvolvido e adaptado para andar nos trilhos pela Empretec. Realiza a manutenção preventiva e corretiva das vias.

Caminhonete rodoferroviária (Empretec): Veículo adaptado pela Empretec para circular nos trilhos. Preparado para reboque de carro controle e ultrassom de via permanente.

Cesto aéreo (Empretec): Manutenção das seccionadoras de via, iluminação de difícil acesso e rede aérea. Adaptado pela Empretec.

Veículo de rede aérea (Empretec): É utilizado na manutenção de rede aérea, checa componentes da rede aérea e do sistema de alimentação elétrica. Adaptado pela Empretec.

Locomotivas (Wabtec, modelos G8 e G12): Veículos rebocadores para tração de composição em grandes intervenções de via, rede aérea e material rodante.

Vagão de rede aérea: Utilizado em grandes manutenções, tanto corretiva quanto preventiva, no sistema de rede aérea.

Auto de Linha: Veículo ferroviário com motor seis cilindros turbo diesel, equipado com guindaste para suporte nas atividades de manutenção preventiva e corretiva de via.

Retroescavadeira: Veículo rodoferroviário para manutenções corretivas e preventivas na via, equipado com implemento para troca de barras curtas de trilho e dormentes.